Uma virada na literatura de ecossistema: de negócio para inovação
Estudiosos identificam ponto de inflexão na literatura de ecossistemas de inovação
Ecosystem em biologia refere-se a uma comunidade de organismos em conjunto com seu ambiente físico. O termo vem da junção das palavras gregas oikos and synístanai, que referem-se a casa e ao ato de colocar junto, respectivamente.
Há grande distância entre as áreas de biologia e inovação. Porém, autores como Moore (1993) e Hamad et al. (2015) comparam metaforicamente os ecossistemas naturais com os ecossistemas de inovação. Apesar de ser uma boa metáfora, salienta-se que tais ecossistemas não têm correspondência entre si. Por exemplo, ecossistemas naturais não possuem políticas enquanto os de inovação possuem (Oh et al., 2016).
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Desempacotando o conceito de ecossistema de inovação: evolução, lacunas e tendências
Percebendo a falta de alinhamento dos estudiosos no uso do termo ‘ecossistema de inovação’, Gomes et al. (2018) realizaram um estudo de revisão sistemática considerando publicações entre os anos de 1993 a 2016. Para tanto, os autores conduziram uma metodologia híbrida com análise bibliométrica e de conteúdo. Sendo assim, tal estudo considerou 125 artigos publicados em 76 periódicos no período estabelecido. Dessa forma, foi possível identificar o número de artigos publicados por periódico e ano, os periódicos que publicam mais sobre o assunto e como as publicações evoluíram ao longo do tempo.
Uma das primeiras descobertas da pesquisa é o aumento de publicações no período de 2006-2010. Além disso, percebeu-se o fato de haverem poucos estudos quantitativos. Todavia, segundo os autores, isto poderia indicar que pesquisas relacionadas ao conceito de ecossistema de inovação ainda não estão consolidadas.
Conforme os autores, o International Journal of Technology Management é o periódico com mais artigos publicados sobre o assunto, possuindo um fator de impacto de 0,867 (2015).
De fato, há confusão entre diversos estudiosos, que ainda utilizarem ecossistema de negócios como um sinônimo de ecossistema de inovação. Entretanto, ao analisar a evolução das publicações por meio da análise turning point studies network, os autores verificaram um ponto de inflexão na literatura. Isto aponta a uma mudança na discussão cientifica de ecossistema de negócios para ecossistemas de inovação. Dessa forma, os principais trabalhos atrelados a esta mudança foram Moore (1993), Moore (1996), Gawer e Cusumano (2002), Iansiti e Levien (2004b).
Ecossistemas de negócios x de inovação
As diferenças entre ecossistema de negócios e ecossistema de inovação ainda não estão claras na literatura. Apesar disto, os autores do estudo apontam semelhanças e diferenças entre cada conceito.
Ambos os ecossistemas são caracterizados como grandes grupos de organizações interconectadas, interdependentes, que co-evoluem integrando empresa focal, clientes, fornecedores e inovadores complementares. Entretanto, os autores identificaram diferenças ao analisar as principais conexões referentes a cada tipo de ecossistema.
Contudo, apesar das diferenças, ambos os ecossistemas estão ligados as gestões estratégica e de inovação, havendo cooperação e competição entre as organizações inseridas neles. Ainda assim, os autores frisam as diferenças entre eles. Conforme eles, o ecossistema de negócios está relacionado principalmente à captura de valor. Enquanto isso, o ecossistema de inovação está relacionado principalmente à criação de valor.
Eles ainda ressaltam a importância de distinguir tais ecossistemas a fim de abrir caminhos à pesquisa. Assim sendo, os autores sugerem: investigar como as empresas criam valor no contexto do ecossistema de inovação; entender a dinâmica do ecossistema com base nas perspectivas da visão baseada em recursos e capacidades dinâmicas; apurar qual estratégia se encaixa em cada um dos contextos; e buscar por novas ferramentas estratégicas para ecossistemas de inovação.
REFERÊNCIA
GOMES, Leonardo Augusto et al. Unpacking the innovation ecosystem construct: Evolution, gaps and trends. Technological Forecasting and Social Change, v. 136, p. 30-48, 2018.
André Borba Mondo
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