O Valor Compartilhado Pode Ser A Próxima Onda Do Crescimento Mundial Movida Pela Transformação No Capitalismo Tradicional!

Economia baseada no Valor Compartilhado

Economia baseada no valor compartilhado

O conceito de valor compartilhado pode ser definido como políticas e práticas operacionais que aumentam a competitividade de uma empresa, ao mesmo tempo em que melhoram as condições socioeconômicas nas comunidades em que a empresa atua. Não se trata de responsabilidade social, filantropia ou mesmo sustentabilidade, mas uma nova forma de obter sucesso econômico. As empresas que atuam como empresas, não como doadores de caridade, são a força mais poderosa para abordar os problemas urgentes que enfrentamos, por meio de uma nova abordagem em seus negócios. Esse é o conceito definido por Porter e Kramer (2011), especialistas conceituados em estratégia de negócios.

Segundo Porter, o valor compartilhado pode ser a próxima onda do crescimento mundial movida pela transformação no pensamento administrativo, promovendo uma mudança de paradigma no capitalismo tradicional que vemos hoje. As empresas devem assumir a liderança para reunir novamente os negócios e a sociedade. Diversos setores da economia começam a entender que que as necessidades sociais, não apenas as necessidades econômicas convencionais, definem os mercados e os danos sociais podem criar custos internos para as empresas. Se as comunidades do entorno ou os fornecedores prosperam, as empresas também têm condições de prosperar no longo prazo.

O reconhecimento existe entre empresas sofisticadas e líderes de pensamento, e elementos promissores de um novo modelo estão surgindo. A solução está no princípio do valor compartilhado, que envolve a criação de valor econômico de forma que também crie valor para a sociedade, atendendo às suas necessidades e desafios. As empresas devem reconectar o sucesso da empresa com o progresso social.

Para Porter e Kramer, existem 3 formas pelas quais o valor compartilhado possa ser criado. São eles:

Recriação de produtos e mercados

Empresas costumam ser muito mais eficazes do que os governos e organizações sem fins lucrativos no marketing que motiva os clientes a adotar produtos e serviços que criam benefícios sociais, como alimentos mais saudáveis ​​ou produtos ecologicamente corretos.

Oportunidades iguais ou maiores surgem de servir comunidades desfavorecidas e países em desenvolvimento ou comunidades ditas “não tradicionais” em países desenvolvidos. Embora as necessidades da sociedade sejam ainda mais presentes nesses casos, essas comunidades não foram reconhecidas como mercados viáveis.

Os benefícios sociais de fornecer produtos apropriados para consumidores de baixa renda e desfavorecidos podem ser profundos, enquanto os lucros para as empresas podem ser substanciais. À medida que o capitalismo começa a funcionar nas comunidades mais pobres, novas oportunidades de desenvolvimento econômico e progresso social aumentam exponencialmente.

Para uma empresa, o ponto de partida para criar essa nova economia baseada no valor compartilhado é identificar todas as necessidades, benefícios e danos sociais que estão ou podem estar incorporados aos produtos da empresa. As oportunidades não são estáticas; eles mudam constantemente à medida que a tecnologia evolui, as economias se desenvolvem e as prioridades sociais mudam. Uma exploração contínua das necessidades da sociedade levará as empresas a descobrir novas oportunidades de diferenciação e reposicionamento em mercados tradicionais e a reconhecer o potencial de novos mercados que eles anteriormente negligenciavam.

Redefinição de produtividade na cadeia de valor

A cadeia de valor de uma empresa inevitavelmente afeta – e é afetada por – inúmeras questões sociais, como recursos naturais e uso de água, saúde e segurança, condições de trabalho e igualdade de tratamento no local de trabalho. Oportunidades para criar valor compartilhado surgem porque problemas sociais podem criar custos econômicos na cadeia de valor da empresa.

O novo pensamento revela que a congruência entre progresso social e produtividade na cadeia de valor é muito maior do que se acreditava tradicionalmente. A sinergia aumenta quando as empresas abordam as questões sociais e ambientais a partir de uma perspectiva de valor compartilhado e inventam novas maneiras de operar para resolvê-los.

Antigamente, pensava-se que os esforços para minimizar a poluição aumentavam inevitavelmente os custos das empresas – e ocorriam apenas por causa da regulamentação e dos impostos. Hoje, há um consenso crescente de que grandes melhorias no desempenho ambiental podem muitas vezes ser alcançadas com melhor tecnologia a um custo incremental nominal e podem até mesmo gerar economia de custo líquido por meio da utilização aprimorada de recursos, eficiência de processo e qualidade.

A seguir estão algumas das maneiras mais importantes pelas quais o pensamento de valor compartilhado está transformando a cadeia de valor, que não são independentes, mas muitas vezes se reforçam mutuamente.:

  • Uso de energia e logística: o uso de energia em toda a cadeia de valor está sendo reexaminado, seja em processos, transporte, edifícios, cadeias de suprimentos, canais de distribuição ou serviços de apoio;
  • Uso de recursos: aumento da consciência ambiental e os avanços na tecnologia estão catalisando novas abordagens em áreas como a utilização de água, matérias-primas e embalagens, bem como expandindo a reciclagem e o reuso. A melhor utilização de recursos – possibilitada pelo aprimoramento da tecnologia – permeará todas as partes da cadeia de valor, se espalhando para fornecedores e canais;
  • Compras: algumas empresas estão começando a entender que fornecedores marginalizados não podem permanecer produtivos ou sustentar, muito menos melhorar, sua qualidade. Ao aumentar o acesso a insumos, compartilhar tecnologia e fornecer financiamento, as empresas podem melhorar a qualidade e a produtividade do fornecedor e, ao mesmo tempo, garantir o acesso a um volume crescente. Melhorar a produtividade geralmente superará os preços mais baixos.
  • Distribuição: as empresas estão começando a reexaminar as práticas de distribuição de uma perspectiva de valor compartilhado. As oportunidades para novos modelos de distribuição podem ser ainda maiores em mercados não tradicionais;
  • Produtividade dos funcionários: o foco em manter os níveis salariais baixos, reduzir benefícios e terceirizar está começando a dar lugar à consciência dos efeitos positivos que um salário digno, segurança, bem-estar, treinamento e oportunidades de promoção para os funcionários têm sobre a produtividade. Muitas empresas, por exemplo, tradicionalmente buscavam minimizar o custo da cobertura de saúde “cara” dos funcionários ou até mesmo eliminar totalmente a cobertura de saúde. Hoje, as empresas líderes aprenderam que, devido à perda de dias de trabalho e à diminuição da produtividade dos funcionários, a saúde precária custa a elas mais do que os benefícios de saúde;
  • Localização: até agora, muitas empresas pensavam que ser global significava mover a produção para locais com os menores custos de mão-de-obra e projetar suas cadeias de suprimento para obter o impacto mais imediato nas despesas. Na realidade, os competidores internacionais mais fortes geralmente são aqueles que podem estabelecer raízes mais profundas em comunidades importantes.

Desenvolvimento de Clusters locais

O sucesso de cada empresa é afetado pelas empresas de suporte e pela infraestrutura ao seu redor. A produtividade e a inovação são fortemente influenciadas por “clusters” ou concentrações geográficas de empresas, negócios relacionados, fornecedores, prestadores de serviços e infraestrutura logística em um campo específico.

Os clusters incluem não apenas empresas, mas instituições como programas acadêmicos, associações comerciais e organizações de padronização. Eles também se valem dos ativos públicos mais amplos da comunidade ao redor, como escolas e universidades, água potável, leis de concorrência justa, padrões de qualidade e transparência de mercado.

Os clusters são proeminentes em todas as economias regionais bem-sucedidas e em crescimento e desempenham um papel crucial no aumento da produtividade, inovação e competitividade. Fornecedores locais capacitados promovem uma maior eficiência logística e facilidade de colaboração.

À medida que as empresas estão cada vez mais desconectadas de suas comunidades, no entanto, sua influência na solução desses problemas diminuiu, mesmo com o aumento dos custos.

As empresas criam valor compartilhado ao construir clusters para melhorar a produtividade da empresa, ao mesmo tempo em que abordam lacunas ou falhas nas condições estruturais que cercam o cluster.

Uma nova forma de capitalismo

Em uma economia baseada no valor compartilhado, os lucros envolvendo um propósito social representam uma forma superior de capitalismo – uma forma que permitirá que a sociedade avance mais rapidamente enquanto permite que as empresas cresçam ainda mais. O resultado é um ciclo positivo de prosperidade da empresa e da comunidade, que leva a lucros duradouros.

Criar valor compartilhado pressupõe o cumprimento da legislação e dos padrões éticos, além de mitigar os danos causados ​​pelo negócio, mas vai muito além disso. A oportunidade de criar valor econômico por meio da criação de valor social e ambiental será uma das forças mais poderosas que impulsionam o crescimento da economia global.

Ainda que o reconhecimento de uma economia baseada no valor compartilhado esteja emergindo, a implementação do conceito do valor compartilhado na prática ainda está dando seus passos iniciais. Percebê-lo de fato em grande escala, exigirá que os líderes e gerentes desenvolvam novas habilidades e conhecimentos – como uma avaliação muito mais profunda das necessidades da sociedade, uma maior compreensão das verdadeiras bases da produtividade da empresa e a capacidade de colaborar com fins lucrativos / sem fins lucrativos. E o governo deve aprender como regulamentar de maneiras que possibilitem o valor compartilhado.

Referências:

PORTER, M. E.; KRAMER, M. R. Creating Shared Value: Harvard Business Review. Jan-Feb, v. 2011, p. 1-17, 2011.

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Suelen Jorge Felizatto Marostica

Graduada em Engenharia Florestal pela Universidade de Brasília, mestre em Clima e Ambiente pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, especialização MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios pela Fundação Getúlio Vargas e doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC. Ao longo de sua atuação profissional liderou projetos de cooperação internacional voltados ao desenvolvimento sustentável nas regiões da Amazônia brasileira, África, América Latina e Caribe, com interface com governo, setor privado, ONGs, organizações multilaterais e instituições de pesquisa com foco em mudanças climáticas, gestão do conhecimento, mecanismos financeiros para conservação, colaboração em redes, bioeconomia e inovação.

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