Empreeendedorismo

Quais os benefícios das universidades empreendedoras?

O tripé institucional das universidades brasileiras – ensino, pesquisa e extensão – ultimamente tem sido influenciado pela inovação e empreendedorismo. Metodologias ativas de ensino e aprendizagem, transferência de tecnologia e spinoffs acadêmicas cada vez mais frequentes, têm gerado valor tanto para a formação dos talentos, quanto para o desenvolvimento sócio-econômico como benefícios de universidades empreendedoras.

Entendendo o que é empreendedorismo

Para entender as universidades empreendedoras, é importante apresentar aqui uma definição de empreendedorismo, pois esse conceito vem evoluindo à medida que a dinâmica da sociedade se torna mais complexa. De maneira contemporânea o empreendedorismo pode ser entendido como:

“a capacidade que uma pessoa tem para identificar problemas e oportunidades, assumindo um comportamento proativo diante de questões que precisam serem resolvidas, desenvolvendo soluções e investindo recursos na criação de algo positivo para a sociedade, tanto através de um negócio, um projeto ou qualquer movimento que gere mudanças reais e impacto no cotidiano das pessoas” (SILVA et al, 2020, p. 2).

Desse modo, o empreendedorismo está relacionado à criatividade de encontrar uma solução ao se identificar um problema. Nesse sentido, novos negócios são construídos a partir da capacidade intelectual de materializar o conhecimento.

Tal habilidade tem sido valorizada no mercado de trabalho e reconhecida como elemento fundamental para o desenvolvimento dos territórios.

Outro termo que aparece é o intraempreendedor que é aquele que assume a responsabilidade pela criação de inovações de qualquer espécie dentro de uma organização (PINCHOT, 1989).

São aqueles que transformam uma ideia em uma realidade sem sair da organização que se encontram para montar um negócio. Dessa maneira, os intraempreendedores podem garantir inovação contínua em organizações.

universidade empreendedora

O que é uma Universidade Empreendedora?

Uma universidade empreendedora pode ser caracterizada como uma instituição que adota tanto uma estratégia de formulação de objetivos acadêmicos quanto a de tradução do conhecimento produzido em utilidade econômica e social (ETZKOWITZ, 2003).

Segundo esse autor, algumas desenvolvem o treinamento empreendedor como uma extensão de sua missão de ensino, enquanto outras desenvolvem a transferência de tecnologia como uma extensão da pesquisa.

Outras ainda desenvolvem mecanismos de apoio à inovação, facilitando a formação e o crescimento de empresas. Algumas instituições optam por desenvolver todos esses três aspectos ao mesmo tempo, ou progressivamente, ou apenas alguns deles (ETZKOWITZ et al, 2019).

Para Etzkowitz e Zhou (2021), é essencial que haja maior consciência entre professores, funcionários e alunos do potencial do conhecimento.

Práticas empreendedoras nas universidades

universidade empreendedoraO primeiro caso pode ser exemplificado pelas metodologias ativas de ensino e aprendizagem, ou seja, a partir de atividades de experimentação, dinâmicas interativas e até a gamificação que envolvam a resolução de problemas reais, o estudante desenvolve um pensamento crítico diante da elaboração de soluções e associações de conhecimento interdisciplinares (BARROS, 2021).

Para saber sobre esse tema, acesse a 9ª edição da VIA Revista acerca da Inovação na Educação.

O segundo caso pode ser visualizado na transferência de tecnologia. As tecnologias desenvolvidas nas ICTs possuem um valor de mercado muito alto segundo Trzeciak et al (2012). Portanto, conectar o agente que demanda constantemente novas soluções com o agente que possui a oferta necessária para gerar tais oportunidades, ocasiona a transferência de tecnologia (FERREIRA; TEIXEIRA; FLÔR, 2016).

Ações empreendedoras a partir da Propriedade Intelectual, como distribuição de royalties, vitrine tecnológica e parcerias universidade-empresa são exemplos que tem o apoio dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) que acarretam ganhos financeiros para Universidade e o inventor.

E para desenvolver a ideia de um produto em um negócio, as Universidades podem apoiar os acadêmicos por meio de atividades das pré-incubadoras e incubadoras que tem a finalidade de fornecer capacitações técnicas e gerenciais ou até instalações físicas para gerar valor para as empresas nascentes.

Além disso, as Universidades podem contar com intraeemprededores que inovam nos processos internos, nas tecnologias e nos serviços e assim facilitam o serviço administrativo.

Outro ponto que pode se destacar é o arcabouço jurídico que as Universidades podem criar a fim de orientar essas práticas empreendedoras, como uma Política de Inovação e Empreendedorismo.

Quer saber quais as universidades mais empreendedoras do Brasil? Confira o ranking aqui!

Aproximação com o ecossistema de inovação

Múltiplos relacionamentos helicoidais: universidade-governo, universidade-indústria e indústria-governo se cruzaram, criando o ecossistema de inovação (ETZKOWITZ; ZHOU, 2021).

As universidades tem a missão de retornar à sociedade o investimento recebido. Para tanto, o ensino, a pesquisa e a extensão estão sendo influenciados pela inovação e empreendedorismo na medida em que as soluções estão sendo pensadas a partir da dor dos demais atores do ecossistema.

As universidades se tornam empreendedoras quando conseguem traduzir os conhecimentos gerados para o cotidiano das empresas, governo e sociedade civil.

As Universidades são, então, importantes para a criação de uma cultura de inovação e empreendedorismo, por meio da formação de talentos e da criação e apoio ao ambientes de inovação, por exemplo.

São responsáveis por formar pessoas, promover o espírito empresarial e fomentar a criação de empresas futuras. Fornecem o principal ativo para a inovação: pessoas com conhecimento, os chamados talentos. Possibilitam o desenvolvimento de novas pesquisas, construção de novos conhecimentos e, criação de novas tecnologias (PARAOL, 2020).

Essas interações mantém o ecossistema ativo e promovem o desenvolvimento sócio-econômico pelo valor criado através do compartilhamento de conhecimento.

Referências Bibliográficas

BARROS, A. C. VIA participa do IV Encontro Internacional de Inovação na Educação – Educação Fora da Caixa. Disponível em:<https://via.ufsc.br/via-participa-do-iv-encontro-internacional-de-inovacao-na-educacao-educacao-fora-da-caixa/>. Acesso em 14 de jul. 2021.

ETZKOWITZ, H. Research groups as ‘quasi-firms’: the invention of the entrepreneurial university. Research Policy, 2003.

ETZKOWITZ, H.; GERMAIN-ALAMARTINE, E.; KEEL,J; KUMAR, C.; SMITH, K. N.; ALBATS, E. Entrepreneurial university dynamics: Structured ambivalence, relative deprivation and institution-formation in the Stanford innovation system. Technological Forecasting & Social Change, 2019.

ETZKOWITZ, H.; ZHOU, C. Licensing life: The evolution of Stanford university’s technology transfer practice. Technological Forecasting & Social Change. Elservier. 2021. https://doi.org/10.1016/j.techfore.2021.120764

FERREIRA, M. C. Z.; TEIXEIRA, C. S.; FLÔR, C. S. A disseminação da cultura de inovação e o desenvolvimento dos Núcleos de Inovação Tecnológica nas ICTs de Santa Catarina. IN: CONFERÊNCIA ANPROTEC, 26, 2016, Fortaleza, Ceará. Anais…Fortaleza, 2016. Disponível em: <http://www.anprotec.org.br/moc/anais/ID_66.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2018.

PARAOL, G. Conheça os atores do ecossistema de inovação. Disponível em:<https://via.ufsc.br/conheca-os-atores-do-ecossistema-de-inovacao/>. Acesso em: 14 de jul. 2021.

PINCHOT, G. Intrapreneuring: Por que você não precisa deixar a empresa para tornar-se um empreendedor. São Paulo: Harbra. 1989.

SILVA, C. M. F et al. Pré-Incubação Como Impulsionadora Da Educação Empreendedora: Uma Análise No Instituto Federal De Educação, Ciência E Tecnologia De Mato Grosso – Campus Rondonópolis. VII Congresso de Administração do Sul do Mato Grosso, 2020. ISSN 2525-4561.

TRZECIAK, Dorzeli Salete et al. Estruturação e gestão de núcleos de inovação tecnológica: modelo PRONIT. Blumenau: Nova Letra, 2012. 338p

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Juliana de Souza Corrêa

Doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC, formada em Relações Internacionais (UFSC) e com especialização em Inovação em Gestão Pública. Servidora da UFSC, atuando junto à SINOVA e integrante do Grupo VIA realizando pesquisas com foco em inovação e empreendedorismo universitário.