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Laboratórios de Inovação no Setor Público: Uma Visão Abrangente de suas Características e Tipologias

Os laboratórios de inovação no setor público, conhecidos como i-labs, são espaços dedicados a fomentar a criatividade e a experimentação dentro das estruturas governamentais. Enquanto a missão fundamental dos i-labs — inovar na prestação de serviços públicos — é consistente, as formas como eles operam podem variar significativamente de uma região para outra. Essas diferenças refletem os desafios únicos, as necessidades culturais e os contextos econômicos de cada país. A seguir é explorado suas principais características e tipologias, conforme identificadas na literatura acadêmica e em relatórios de pesquisa.

Contexto dos i-Labs

Os i-labs surgiram como uma resposta organizacional às barreiras à inovação. Carstensen e Bason (2012) argumentam que as competências e mentalidades necessárias para a inovação sistemática diferem das requeridas para operações estáveis e prestação de serviços diários. Assim, os laboratórios de inovação foram criados para superar essas barreiras e proporcionar a transformação necessária. Esses espaços multidisciplinares são focados na experimentação, ideação, teste de soluções e prototipagem, com um forte compromisso com a cocriação e a experiência do usuário.

Tõnurist, Kattel e Lember (2017) ressaltam que os i-labs no setor público devem ser estabelecidos para fomentar uma lógica de produção de serviços voltada para os usuários, com co-criação, co-design e co-produção habilitadas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Eles também precisam responder a mudanças externas, como avanços tecnológicos, austeridade e demanda por serviços personalizados.

Por meio de análises e avaliações conjuntas, ferramentas e metodologias alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), produtos de conhecimento, apoio a políticas e implementação de projetos são norteadores das atividades os i-labs para promover a inovação na área pública.

Inovação no Setor Público

No setor público, a inovação pode ser categorizada em diversas formas, cada uma desempenhando um papel crucial na transformação de estruturas organizacionais e na melhoria dos serviços oferecidos à sociedade.

  1. Processos Administrativos: Criação de novas formas organizacionais e introdução de métodos administrativos, de gestão e de trabalho significativamente diferentes dos existentes (Bloch, 2011; Isidro, 2018).
  2. Inovação Conceitual: Desenvolvimento de novos conceitos e paradigmas que questionam concepções anteriores, reformulando problemas específicos e propondo soluções inovadoras para o contexto do setor público (Bekkers et al., 2011; Isidro, 2018).
  3. Governança: Introdução de formas e procedimentos novos de interação e colaboração com stakeholders na tomada de decisões, tanto interna quanto externamente, abordando questões sociais específicas (Sano, 2020).
  4. Políticas Públicas: Modificações em políticas públicas que podem surgir de inovações conceituais (Sano, 2020).
  5. Produtos ou Serviços: Introdução de serviços ou produtos novos ou significativamente melhorados, alterando as formas de acesso e entrega (Bloch, 2011).
  6. Processos Tecnológicos: Criação de novas tecnologias para auxiliar na prestação de serviços aos cidadãos e atividades governamentais (Vries et al., 2016).

Os cinco elementos essenciais para a inovação bem-sucedida no setor público incluem: adotar uma abordagem sistêmica, alavancar a tecnologia da informação, melhorar a eficiência dos processos, fomentar a colaboração com organizações privadas e voluntários, e empoderar comunidades, cidadãos e funcionários. Essas estratégias são fundamentais para promover a inovação como um valor público e prioridade, levando a resultados aprimorados e a entrega de serviços mais eficientes e eficazes (Isidro, 2018).

Características dos i-Labs

Os i-labs são definidos por sua abordagem experimental e colaborativa. Utilizando metodologias como design thinking, design etnográfico, metodologias ágeis, ciências comportamentais e de dados, os laboratórios de inovação buscam cultivar e desenvolver novas mentalidades e capacidades nos servidores públicos (Puttick, 2014). Essa abordagem abrangente facilita uma compreensão mais ampla do contexto em que operam, possibilitando respostas rápidas e dinâmicas às transformações ambientais (Acevedo & Dassen, 2016; Criado et al., 2021; Lewis et al., 2020). Essa mudança paradigmática cria uma gestão centrada no valor público (Tõnurist, Kattel & Lamber, 2017).

A adaptação às necessidades e desafios locais é crucial. Os i-labs devem entender e integrar as nuances culturais e sociais do seu ambiente para desenvolver soluções que serão eficazes e aceitáveis para a população local (Mulgan, 2014).

A variedade de funções e abordagens adotadas pelos i-labs contribui para a dificuldade em classificá-los de maneira uniforme. Tõnurist et al. (2017) destacam que “a classificação de laboratórios de inovação no setor público é desafiadora devido à diversidade em seus objetivos, estruturas e métodos operacionais. Essa heterogeneidade reflete os diversos contextos em que operam, tornando difícil alcançar uma classificação única que se aplique a todos.” Isso demonstra como cada laboratório pode ter um foco distinto, dependendo das necessidades específicas da região ou da organização em que está inserido.

Puttick, Baeck e Colligan (2014) explicam que “os laboratórios de inovação no setor público frequentemente desafiam uma classificação direta porque abrangem uma ampla gama de atividades e objetivos, desde o desenvolvimento de políticas até o design de serviços e implementação tecnológica.” Essa diversidade torna a criação de uma taxonomia uniforme um desafio, pois cada laboratório pode adotar práticas e metodologias diferentes para atingir suas metas.

Categorias dos i-Labs

Os laboratórios de inovação governamentais, conhecidos como i-labs, têm se destacado como catalisadores essenciais para o desenvolvimento de soluções inovadoras no setor público.

Segundo estudos de Puttick et al. (2014) e Sano (2020), os i-labs são classificados em quatro categorias principais e podem ser classificados em quatro categorias principais, de acordo com seus objetivos e dinâmicas de ação: (1) Desenvolvedores e Criadores de Inovações; (2) Facilitadores; (3) Educadores; e (4) Arquitetos.

Categoria Descrição
Desenvolvedores e Criadores de Inovações Focam principalmente na geração de novas ideias e soluções. Funcionam como incubadoras de inovações, desenvolvendo novos produtos, serviços ou processos com ênfase em criar soluções práticas que possam ser implementadas para melhorar a eficácia dos serviços públicos.
Facilitadores Trabalham como catalisadores, facilitando a colaboração entre diferentes departamentos do governo e fomentando parcerias entre o setor público e o privado. Ajudam a remover barreiras burocráticas e promovem uma cultura de cooperação e diálogo aberto.
Educadores Concentram-se em capacitar e educar funcionários públicos e outras partes interessadas sobre novas metodologias e tecnologias. Seu objetivo é disseminar conhecimento e habilidades que sustentem uma cultura de inovação dentro do governo.
Arquitetos Estão envolvidos na reestruturação dos processos administrativos e na reformulação das políticas públicas para torná-las mais eficientes e adaptadas às necessidades contemporâneas. Desempenham um papel estratégico na reformulação dos quadros regulatórios e estruturais dentro do setor público.

 

Cada tipo desempenha um papel crucial na transformação dos serviços públicos e na formulação de políticas.

Considerações

Os laboratórios de inovação governamentais, ou i-labs, representam uma mudança na forma como o setor público aborda os desafios contemporâneos através da inovação. Esses espaços não são apenas centros de criação de soluções inovadoras, mas também catalisadores de uma transformação na cultura organizacional dos órgãos governamentais. Por meio da experimentação, colaboração e cocriação, os i-labs demonstram como a integração de novas tecnologias e metodologias pode resultar em serviços públicos mais eficientes e alinhados às necessidades dos cidadãos.

A diversidade nas operações dos i-labs, refletindo as várias necessidades culturais e econômicas de suas regiões, ilustra sua flexibilidade e capacidade de adaptação, e também desafios peculiares de cada território, para que o setor público possa responder de maneira eficaz não apenas às expectativas dos cidadãos, mas também às rápidas mudanças no cenário global.

À medida que os i-labs continuam a se expandir e a evoluir, eles têm o potencial de redefinir a governança pública, gerando oportunidades para uma administração pública mais transparente, participativa e responsiva. A continuidade desse movimento de inovação têm importância para garantir que o setor público não apenas acompanhe a era digital, mas também prospere nela, transformando desafios em oportunidades para melhorar a vida de todos os cidadãos.

 

REFERÊNCIAS

  1. Acevedo, A., & Dassen, N. (2016). Agile governance: How to promote flexible governance models through agile techniques.
  2. Bason, C. (2010). Leading public sector innovation: Co-creating for a better society. Bristol: The Policy Press.
  3. Bekkers, V., Edelenbos, J., & Steijn, B. (2011). Innovation in the public sector: Linking capacity and leadership. Palgrave Macmillan.
  4. Bloch, C. (2011). Measuring public innovation in the Nordic countries: Final report. The Danish Centre for Studies in Research and Research Policy.
  5. Carstensen, H. V., & Bason, C. (2012). Powering collaborative policy innovation: Can innovation labs help? The Innovation Journal: The Public Sector Innovation Journal, 17(1), 1-26.
  6. Emmendoerfer, M. L., Olavo, A. V. A., Carvalho Júnior, J. R. A., & Silva Júnior, A. C. (2022). Laboratórios de inovação no setor público e aproximações com agências internacionais. Revista de Relaciones Internacionales, Estrategia y Seguridad, 17(2), 139-153.
  7. Isidro, A. (2018). Gestão pública inovadora: Um guia para a inovação no setor público. CRV.
  8. Lewis, S., Ricard, L., & Klijn, E. H. (2020). How innovation drives public sector projects: An in-depth study with government agencies. Journal of Public Administration Research and Theory.
  9. Oliveira, L. D. A. de, & Sousa, J. C. (2022). Características dos laboratórios de inovação no setor público a nível nacional: Uma revisão da literatura.
  10. Puttick, R. (2014). Innovation teams and labs: A practice guide. Nesta.
  11. Sano, H. (2020). Características dos laboratórios de inovação no setor público brasileiro.
  12. Tõnurist, P., Kattel, R., & Lember, V. (2017). Innovation labs in the public sector: What they are and what they do? Public Management Review, 19(10), 1455-1479.
  13. Vries, H. de, Bekkers, V., & Tummers, L. (2016). Innovation in the public sector: A systematic review and future research agenda. Public Administration, 94(1), 146-166.
  14. Unceta, A., Castro-Spila, J., & García Fronti, J. (2021). Innovation and collaboration in public sector: Roles and dynamics of innovation labs.
  15. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). (s.d.). https://www.undp.org/pt/brazil
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Laura Pertile

Entusiasta do universo de empreendedorismo e inovação. Bacharel em Administração, com MBA em gestão estratégica de pessoas, é Mestranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisadora integrante do grupo VIA Estação Conhecimento. Acredita que o mundo é feito de pessoas, para pessoas e por pessoas.