Terceira Missão

Terceira Missão das Universidades

Historicamente, o ensino é observado como a primeira missão das Universidades. No século XIX, a pesquisa foi percebida como a segunda missão universitária e mais recentemente tem-se discutido a respeito da terceira missão dessas instituições que pode ser entendida pelo produto da interação destas com a sociedade.

Aspectos da Terceira Missão

Compagnucci e Spigarelli (2020) realizaram uma revisão sistemática de literatura a respeito da Terceira Missão das Universidades. O estudo observa que a ascensão da economia do conhecimento, junto com a globalização, e tanto a crise financeira quanto a ambiental foram desafios sem precedentes que contribuíram consideravelmente para o redesenho das Universidades.

Para os autores, a Terceira Missão (TM) não tem um significado bem definido, pois enquanto alguns a abordam pela perspectiva das universidades empreendedoras, em que a inovação é promovida pela comercialização da propriedade intelectual produzida nas instituições de ensino superior; outros entendem que a TM refere-se a uma ampla gama de atividades relacionadas à transferência de conhecimento para a sociedade em geral, ao estímulo de habilidades empreendedoras, bem-estar social e formação de capital humano.

Transferência de Conhecimento

Nesse contexto, a primeira forma de transferência de conhecimento entendido pela Terceira Missão foi pela tradução deste em propriedade intelectual, assim muitas universidades aumentaram sua capacidade empresarial através das patentes, dos licenciamentos, da construção de parques científicos, promovendo spin-offs acadêmicos e investindo em start ups (COMPAGNUCCI; SPIGARELLI, 2020).

Dessa maneira, a TM passou a ser reconhecida como fator de desenvolvimento socioeconômico e pelas interações entre as universidades e a sociedade em geral. E segundo essa visão, a Terceira Missão refere-se às atividades e ativos de uma universidade empreendedora, que liga a pesquisa ao comércio, socializando resultados tecnológicos e inovadores. Assim, o estudo entende que:

A TM é soma de todas as atividades relacionadas com a geração, uso, aplicação e exploração do conhecimento universitário, capacidades e recursos, fora do ambiente acadêmico (COMPAGNUCCI; SPIGARELLI, 2020, p. 5)

Todavia, a literatura chama a atenção que o exercício da TM inclui, mas não se restringe a, comercializar pesquisa científica. De fato, a TM é um processo de regeneração regional e de interação uma vez que envolve a comunidade circundante; alguns estudiosos sugeriram que a Terceira Missão consiste no serviço prestado da universidade para a sociedade (COMPAGNUCCI; SPIGARELLI, 2020)

 

terceira missão

Troca de conhecimento

Na interação das universidades com outras organizações percebe-se que não ocorre somente a transferência de conhecimento, mas sim a troca de conhecimento. Santos et al (2020) esclarecem que por meio de laboratórios de pesquisa e extensão das instituições de ensino superior vislumbra-se que ao mesmo tempo que as empresas recebem conhecimento e recursos humanos, as universidades obtêm dados, experiências e demandas acerca das necessidades reais da sociedade e do mercado.

Para que a universidade produza uma ideia inovadora, isto é, que gere valor, a comunidade acadêmica precisa estar atenta às demandas da sociedade. Nesse sentido, as universidades passam a adotar o modelo de inovação interativo que incorpora o modelo linear, linear reverso e o modelo de inovação assistida, ou seja, o primeiro parte da pesquisa básica para o desenvolvimento tecnológico e o segundo é aquele onde antes se observa um problema que necessite de uma inovação para ser solucionado para depois se trabalhar no processo de inovação; e o terceiro envolve o desenvolvimento de uma série de mecanismos de apoio, tais como a intermediação de capacidades de transferência de tecnologia, incubadoras e capital de risco. Sendo assim, as universidades têm uma capacidade de interface por meio da atuação dos Núcleos de Inovação Tecnológica e incubadoras (ETZKOWITZ, 2003).

Terceira Missão como produto da interação entre academia e sociedade

Nesse cenário, pode-se entender que a Terceira Missão acadêmica é o produto que advém da relação entre a universidade e atores não acadêmicos, podendo ser resultado das atividades inovadoras e empreendedoras que envolvem a troca de conhecimento.

A TM gera habilidades além de ensino e pesquisa, podendo ser verificada pela geração de spin-offs, pelo capital financeiro fruto de royalties, pelos insumos necessários para uma pesquisa que gere valor à sociedade, ou seja, por todas as atividades relacionadas à tradução do conhecimento gerado nas Universidades para fora de seu ambiente.

Referências Bibliográficas

COMPAGNUCCI, L.; SPIGARELLI, F. The Third Mission of the university: A systematic literature review on potentials and constraints. Technological Forecasting and Social Change, v. 161, p. 120284, 2020.

ETZKOWITZ, H. Research groups as ‘quasi-firms’: the invention of the entrepreneurial university. Research policy, v. 32, n. 1, p. 109-121, 2003.

SANTOS et al. Capacidade empreendedora na universidade: um estudo de caso. In FRANZONI, A. M. B; KRACIK, M. S.(Org) Dimensões da Capacidade empreendedora. Florianópolis: Pandion. 2020.

The following two tabs change content below.

Juliana de Souza Corrêa

Doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC, formada em Relações Internacionais (UFSC) e com especialização em Inovação em Gestão Pública. Servidora da UFSC, atuando junto à SINOVA e integrante do Grupo VIA realizando pesquisas com foco em inovação e empreendedorismo universitário.

Latest posts by Juliana de Souza Corrêa (see allVIA - Knowledge Station