O Ecossistemas De Startups Em Portugal

O Ecossistema de Startups em Portugal

O fato que Portugal abriga algumas das melhores paisagens mundiais não é desconhecido, mas o potencial em seu ecossistema de startups ainda pode ser surpresa para alguns. Com isso, descrevemos alguns aspectos da interação Brasil-Portugal no tocante às startups, iniciativas importantes no ecossistema português e um panorama geral dos fundadores e investimentos dessas empresas.

A interação Brasil-Portugal

O Brasil é o terceiro país que mais recebe startups vindas de Portugal. As principais causas dessa migração costumam ser o acesso a financiamento maior, também a um mercado maior e requisitos legais estipulados pelos principais investidores [1].

Olhar para essas empresas no panorama de Portugal é importante porque o país é visto atualmente como tendo um grande potencial, mostrando estar no caminho para desempenhar um papel significativo no ecossistema europeu de startups. Não é a toa que 92% dos investimentos dessas empresas são justamente de fora do país [1]. Embora curiosamente Os Estados Unidos sejam o maior contribuidor para as startups portuguesas, a interação com o Brasil não é insipiente.

Pelo contrário, a relevância da interação entre os dois países é o que fez com que recentemente Lisboa fosse o destino para o StartOut [2]. Organizado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Apex-Brasil, Ministério das Relações Exteriores, Sebrae e Anprotec, o StartOut é um dos maiores programas brasileiros de internacionalização.

Porquê se investir na internacionalização em Lisboa

O Ecossistema de startups em Portugal

Fonte: unsplash.

Em seu site oficial, o programa StartOut enumera alguns dos principais motivos de se considerar Lisboa como um ponto expressivo para o sucesso em internacionalização.

Além da facilidade significativa na comunicação pela compatibilidade entre os idiomas, destaca-se também que existe uma proximidade cultural entre Brasil e Portugal que facilita a adaptação de produtos e serviços para o ecossistema local.

Não obstante, aponta-se o crescimento de centros de empreendedorismo e redes de investidores locais, com destaque também para as diversas iniciativas públicas de apoio aos negócios digitais pela prefeitura, como bolsas de pesquisa, programas de aceleração e plataformas de investimento [2].

As políticas públicas, de fato, são um ponto chave a considerar. A citar, por exemplo, o Lisboa Empreende+, que desde 2013 já acompanhou mais de 1.480 projetos, movimentando mais de 2,7 milhões de euros [3]. Essa iniciativa, sobretudo, apresentou resultados tão surpreendentes que obteve o “Best Public Administration for Startups dos Startup Europe Awards 2016” – concurso também conhecido como “the Eurovision for Startups“, promovido pela Comissão Europeia e a Startup Europe [3].

Além dos benefícios apontados pelas políticas de incentivo, o StartOut também indica a relevância da capital portuguesa ao sediar anualmente aquele que é conhecido como o maior evento de tecnologia da Europa [2], o WebSummit. Em sua última edição, a conferência atraiu um público de aproximadamente 70 mil pessoas tendo um impacto econômico estimado em 300 milhões de euros [2].

Incentivos públicos

As políticas voltadas ao empreendedorismo não geram surpresa se analisarmos que uma das seis questões que guiam a Carta Estratégica de Lisboa 2020-2024 é propriamente “Como transformar Lisboa numa cidade inovadora criativa e capaz de competir num contexto global, gerando riqueza e emprego?” [7].

O orçamento de Lisboa tem cinco principais eixos de ação, segundo a Câmara Municipal de Lisboa [8], sendo eles: A – Melhorar a Qualidade de Vida e o Ambiente, B – Combater Exclusões, Defender Direitos, C – Dar Força à Economia, D – Afirmar Lisboa como Cidade Global, e E – Governação Aberta, Participada e Descentralizada.

Assim, possuindo um eixo estrategicamente voltado para a economia. A distribuição orçamentária nas ações referentes a este eixo, em uma comparação entre 2019 e 2020 é apresentada no quadro a seguir:

Distribuição orçamentária do eixo “C – Dar Força à Economia”

Ecossistema de startups: incentivos de Portugal

Fonte: elaborado pelo autor, dados da Câmara Municipal de Lisboa, 2021 [8].

Percebe-se que o investimento em empreendedorismo já despontava como o segundo maior no eixo econômico em 2019 e no ano de 2020, mesmo com o forte apelo turístico da cidade, passou a liderar entre as ações, reforçando a intenção de consolidar a capital portuguesa nesse panorama.

Um enfoque no Ecossistema Empreendedor de Lisboa

Lisboa já entendeu que o desenvolvimento econômico através da inovação e do empreendedorismo é um processo colaborativo. Nesse aspecto, a importância de levar todo o ecossistema em consideração é destaque em suas políticas.

De tal maneira, apresenta-se como iniciativa pública o Made of Lisboa. A plataforma, “que simboliza e representa o ecossistema empreendedor e tecnológico e a comunidade criativa de Lisboa é a face da Câmara Municipal de Lisboa para esta área e um dos pilares visíveis da estratégia pensada para o desenvolvimento econômico da cidade” [4].

O Made of Lisboa é uma estratégia estruturada em torno de todo ecossistema e tem por objetivo [4]:

  • Ligar de forma efetiva diferentes atores (Incubadoras; Programas de Aceleração de Empresas; Espaços de Coworking; Fab Labs; instituições e programas de financiamento; Mentores);
  • Reforçar a ligação entre Grandes Empresas e startups e PMEs;
  • Melhorar a ligação entre o sistema científico e tecnológico da cidade e da região e o tecido empresarial;
  • Trabalhar de forma mais efetiva e próxima com as Universidades estruturando e reforçando o seu papel e função no ecossistema empreendedor;
  • Trabalhar não apenas o ecossistema a uma escala local e regional, mas simultaneamente desenvolver uma estratégia de internacionalização e expansão global do ecossistema.

A plataforma Made of Lisboa

Fonte: Made of Lisboa, 2020. Printscreen de: <https://ecosystemdata.madeoflisboa.com/dashboard> em 16. jul 2021.

Acima, apresenta-se o dashboard da plataforma, que agrupa por regiões atores como incubadoras, aceleradoras, investidores, startups, universidades, entre outros. Ao lado, mostra-se um agrupamento das startups mapeadas de acordo com suas respectivas áreas de atuação. O Made of Lisboa ainda gera relatórios com importantes estatísticas de agrupamento, como por exemplo, startups das áreas de deep tech, startups que possuem escritórios no exterior e aquelas fundadas por mulheres.

Vale destacar: iniciativa Smart Open Lisboa

O Smart Open Lisboa (SOL) é um programa aberto de inovação onde as startups podem usar os dados abertos da cidade para desenvolver e testar as suas soluções em condições reais [5]. Assim, foca na validação e integração de soluções inovadoras com o objetivo de melhorar a vida dos cidadãos usando dados reais em um ambiente ao vivo para trabalhar diretamente com seus clientes ou parceiros em potencial [6]. Nesse sentido, possui as seguintes verticais:

Ecossistemas de startups em Portugal

Fonte: Smart Open Lisboa, 2021.

 

Detalham-se suas verticais conforme apresentado no site oficial:

Mobilidade: Estacionamento inteligente; E-mobility (mobilidade elétrica); Mobilidade Digital & Personalizada; Gestão de Frota e Ativos e Gestão de Tráfego.

Housing: Gestão urbana e infraestrutura inteligente; Construtech; Proptech; Eficiência de recursos; Casas, edifícios e propriedades de varejo inteligentes; Cuidados domiciliares e vida assistida; Experiência do cliente e da comunidade e Serviços financeiros.

Amanhã (especialmente com o objetivo de focar em soluções para uma cidade pós pandemia do COVID-19): Recuperação econômica e turística; Novo Paradigma de Trabalho; Trabalho e Ensino Remotos; Resiliência da cidade e construção de confiança e Emergência Social e Desemprego.

Capital Verde (divide-se em Economia Verde/Economia Solidária): Engajamento e Comportamento; Eficiência Hídrica e Energética; Espaços Verdes e Qualidade do ar/Gestão de Desperdícios; Materiais Sustentáveis; Cadeia de Mantimentos.

Startups em Portugal: de onde vem e para onde vão? Quem investe? Quais os caminhos?

ecossistemas de startups em Portugal

Fonte: unsplash.

O “Portugal Startup Outlook 2020” é um relatório feito pela EIT Digital, uma Comunidade de Conhecimento e Inovação do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT), juntamente com a Building Global Innovators (BGI), uma aceleradora global de inovação profunda com sede em Lisboa; e o Informa D&B, um provedor especializado em informações comerciais [1].

Em análise das startups de 2015 a 2020, apesar dos incentivos, verifica-se um declínio no número de startups criadas. Alguns dos motivos seriam: as barreiras à entrada no mercado, tendências de contratação corporativa e, mais recentemente, a pandemia do COVID-19.

Em relação ao cenário de financiamentos, constata-se que as startups originárias de Portugal arrecadaram mais de $ 2 bilhões, entre 2015 e 2020. Entretanto, como já citado, a grande maioria (92%, de fato) deste financiamento provém de outros países, principalmente dos Estados Unidos.

Vale ressaltar: embora a pandemia tenha impactado negativamente várias indústrias, as startups na indústria de software empresarial e marketing e publicidade são apontadas no relatório como empresas que tiveram aumento no financiamento.

O relatório ainda pontua que os fundadores não portugueses, sendo 33% do total, contribuem significativamente para o ecossistema de startups português, em resultado de programas de incentivo estabelecidos pelo governo.

No total, são detalhadas as variáveis influenciadoras das 658 startups ativas, as 908 transações de investimento, os 488 investidores, as 2.677 transações de mercado e dos 622 fundadores ​​entre 2015 e meados de 2020.

Em um aspecto geral, conclui-se que existem lacunas significativas no cenário de financiamento, especialmente no que diz respeito ao apoio a incubadoras e aceleradores. Também, mesmo louvando o grande investimento exterior, os autores do relatório acreditam que mais incentivos devem surgir a fim de encorajar investidores locais.

Por fim, pontuam que embora Portugal esteja atrás de outros territórios europeus em questões relevantes (como disponibilidade de direitos de propriedade, serviços comerciais, de contabilidade e outros serviços jurídicos e de avaliação), o país continua um destino promissor para startups por fundadores e stakeholders na Europa, devido à disponibilidade de talentos e maior valor econômico para dinheiro [1].

REFERÊNCIAS

[1] BGI, EIT Digital, Informa D&B. Portugal Startup Outlook, 2020. Disponível em: <https://www.scaleupportugal.tech/pso-2020-download> Acesso em: 16 jul. 2021.

[2] StartOut Brasil. 3 motivos para internacionalizar seu projeto em Lisboa. StartOut Brasil, 2021. Disponível em: <https://www.startoutbrasil.com.br/3-motivos-para-internacionalizar-seu-projeto-em-lisboa/> Acesso em: 16 jul. 2021.

[3] Câmara Municipal de Lisboa. ECONOMIA E INOVAÇÃO: Lisboa Empreende+. 2021. Disponível em: <https://www.lisboa.pt/cidade/economia-e-inovacao/empreendedorismo-e-inovacao/lisboa-empreende> Acesso em: 16 jul. 2021.

[4] Câmara Municipal de Lisboa. ECONOMIA E INOVAÇÃO: Made of Lisboa. 2021. Disponível em: <https://www.lisboa.pt/cidade/economia-e-inovacao/empreendedorismo-e-inovacao/made-of-lisboa> Acesso em: 16 jul. 2021.

[5] Câmara Municipal de Lisboa. ECONOMIA E INOVAÇÃO: Aceleradores de Lisboa. 2021. Disponível em: <https://www.lisboa.pt/cidade/economia-e-inovacao/empreendedorismo-e-inovacao/aceleradores-de-lisboa> Acesso em: 16 jul. 2021.

[6] Smart Open Lisboa. The Open Innovation program Made to Upgarde Lisbon’s City Life. 2021. Disponível em: <https://smartopenlisboa.com/> Acesso em: 16 jul. 2021.

[7] Câmara Municipal de Lisboa. Município: Carta estratégica de Lisboa 2020-2024. 2021. Disponível em: < https://www.lisboa.pt/municipio/camara-municipal/areas-de-governo> Acesso em: 16 jul 2021.

[8] Câmara Municipal de Lisboa. Orçamento 2020: Principais Eixos de Ação para Lisboa Disponível em: <https://lisboaorcamento.cm-lisboa.pt/2020/orcamento/despesas-e-investimentos/eixos-estruturantes/dar-forca-a-economia/> Acesso em: 16 jul. 2021.

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Carlos Marcelo Faustino da Silva

Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento, um dos primeiros pesquisadores nacionais a abordar ambidestria organizacional sob a perspectiva da inovação aberta. Contador pela UFMT, mentorava startups desde a graduação, por isso começou a atuar próximo a ambientes de inovação, já tendo fundado e administrado núcleos de incubação de empresas. Atualmente, segue mentorando startups e empresas de outras configurações, e estudando estratégias para melhorias de metodologias em ambientes de inovação.