Carlos Marcelo Faustino Da Silva Carlos Faustino Carlos Marcelo Faustino

Pesquisadores do VIA apresentam artigo: Tendências de pesquisa em Ambidestria Organizacional e Inovação Aberta

Se você é leitor assíduo do VIA, já deve ter visto algum de nossos posts onde explicamos porque é importante uma empresa inovar dentro do que desenvolve através de inovações incrementais, mas ao mesmo tempo manter um olho em tendências futuras e inovações mais disruptivas.

A habilidade de manter os processos desses dois tipos de inovação (incremental = explotação e disruptiva = exploração) ao mesmo tempo e em equilíbrio, é o que conhecemos como ambidestria organizacional.

Outro ponto que já levantamos por aqui, é que por conta de as empresas precisarem de recursos e conhecimentos extras para serem ambidestras, uma estratégia voltada para inovação aberta pode ser uma boa solução para alavancar seus níveis de inovações, tanto incrementais quanto disruptivas.

Agora, mais recentemente, apresentamos no 18º Congresso Internacional de Conhecimento e Inovação (CIKI 2023) e 13º International Conference on Knowledge Management (ICKM 2023) o artigo “TENDÊNCIAS DE PESQUISA EM AMBIDESTRIA ORGANIZACIONAL E INOVAÇÃO ABERTA: UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA“, onde apresenta-se um vislumbre de como as duas áreas são abordadas simultaneamente nos principais repositórios científicos que tratam do assunto. A figura a seguir apresenta a motivação do estudo:

Ambidestria Organizacional e Inovação Aberta

Fonte: autor.

Premissas iniciais de Inovação Aberta e Ambidestria

Estudos apontam relações positivas no desempenho das organizações quanto a aderência a um modelo de inovação aberta e o potencial em serem ambidestras, porque um dos princípios básicos que se remetem à inovação aberta é justamente permitir que as empresas adotem estratégias para alcance de recursos além dos seus internos. Isso facilita o duplo direcionamento exigido pela ambidestria, visto que assim as empresas conseguem recursos complementares.

Apesar disso, não há um consenso no direcionamento das pesquisas e o relacionamento entre inovação aberta e ambidestria segue com lacunas. Pouco é aprofundado a respeito de se ter a inovação aberta como promotora da ambidestria. Assim, considerando que os conceitos se encontram relacionados, mas não há um consenso na literatura sobre suas relações, o recente estudo publicado pelo VIA buscou investigar as tendências de incorporação de ambos em pesquisas científicas através de uma revisão bibliométrica da literatura. Assim, permitiu demonstrar redes de co-ocorrência entre as temáticas dos estudos, a evolução através dos anos e a direção das análises das pesquisas.

Para cumprir os objetivos da pesquisa, foram analisadas as evoluções dos estudos através dos anos e as redes de co-ocorrência de palavras-chave que indicam as tendências de incorporação dos termos e suas ligações. Assim, foram consideradas três das mais relevantes bases a respeito das temáticas, sendo elas Scopus, Science Direct and Web of Science. A string de pesquisa utilizada para recuperação dos trabalhos foi (“open innovation”) AND (“ambidexterity” OR “ambidextrous” OR “ambidextria” OR “ambidextry”). A seguir, apresenta-se como após a consideração da amostra inicial, chegou-se ao montante final a ser considerado na pesquisa e analisado através do software VOSVIEWER:

Ambidestria Organizacional e Inovação Aberta buscas

Metodologia das buscas para composição de amostra bibliométrica | Fonte: autor

O que dizem as co-ocorrências que surgem entre as temáticas?

Ao analisar as palavras-chave dos estudos que incorporavam ambos os conceitos de ambidestria e inovação aberta, pode-se identificar as tendências a partir do quantitativo de ocorrências. Também é possível identificar como os relacionamentos entre elas é estabelecido através da análise das ligações visuais das figuras confeccionadas pelo software e apresentadas mais para frente nesse texto.

A palavra-chave com mais expressividade é “ambidestria”, com 27 ocorrências, sendo seguido por “inovação aberta” com 22. Ainda, embora não sejam sinônimos, constata-se a coocorrência de diferentes palavras-chave que se direcionam para alinhamentos similares, como é o caso dostermos “exploração” (6 ocorrências), “inovação exploratória” (3 ocorrências) e “inovação radical” (5 ocorrências), que no contexto da ambidestria se alinham para processos de exploração; assim como os termos “explotação” (4 ocorrências), “inovação explotativa” (3 ocorrências) e “inovação incremental” (2 ocorrências) se alinham para processos de explotação. Desse modo, a partir das 61 publicações detectou-se coocorrência das seguintes palavras-chaves:

co-ocorrências ambidestria e inovação aberta

Co-ocorrências entre as temáticas | Fonte: autor

Portanto, é possível hipótese que as tendências de pesquisas em ambidestria e inovação aberta se direcionem com maior intensidade para a investigação dos processos de exploração (14 ocorrências) do que para os processos de explotação (9 ocorrências), o que é compreensível devido ao caráter exploratório da inovação aberta como estratégia de busca por novos conhecimentos.

Como se relacionam as co-ocorrências?

A partir das imagens geradas pelo software Vosviwer, é possível analisar com precisão como se relacionam as co-ocorrências entre as temáticas que foram identificadas nos estudos das áreas. A figura a seguir apresenta a correlação total entre os 5 clusters de palavras-chaves gerados, sendo eles:

    • Cluster Azul: Ambidestria, inovação aberta, capacidades dinâmicas, co-criação, performance de inovação.
      Cluster Vermelho: Explotação, exploração, estratégia de inovação, capacidade absortiva, incerteza, desenvolvimento de novos produtos, capacidades.
      Cluster Verde: Inovação, inovação radical, fonte externa de conhecimento, inovação aberta inbound, inovação incremental, exploração e explotação.
      Cluster Amarelo: Inovação exploratória, inovação explotativa, compartilhamento de conhecimento.
      Cluster Roxo: Busca de conhecimento externo.
    • Relações entre as co-ocorrências | Fonte: [1].

“Inovação aberta” se encontra duplamente relacionado aos termos de “fonte externa de conhecimento” (verde) e “busca externa de conhecimento” (roxo), destacando o disposto pelo principal nome da área, Chesbrough, de que o conhecimento externo é um dos principais subsídios buscados na adoção de estratégias de inovação aberta.

Ainda, é o principal cluster ligado a “compartilhamento de conhecimento”, sendo este o único termo do cluster amarelo que não se liga diretamente com ambidestria. Em termos práticos, isso pode indicar que os estudos se direcionam mais para a busca de conhecimento externo do que no compartilhamento de conhecimento interno. Isso corrobora com o consenso geral entre pesquisadores de que estudos da área, mesmo aqueles de apenas inovação aberta, julgam o fluxo outbound como mais difícil de lidar dentro das empresas, e isso reflete-se nas pesquisas. Ou seja, as empresas preferem fazer uso de recursos exteriores do que lidar com a complexidade de disponibilizar os seus para uso externo.

Ao isolar as ligações que compõem o cluster verde e quais são as co-ocorrências que se relacionam, chegamos na seguinte figura:

Isolamento do cluster verde | Fonte: [1].

 

Percebe-se que os termos ligados a inovação aberta são apenas “inovação” e “fonte de conhecimento externo”. Trata-se de um dado curioso, visto que mesmo o termo de “inovação aberta inbound” relacionou-se apenas com ambidestria, quando devido ao seu caráter terminológico remete-se fundamentalmente a inovação aberta.

De todo modo, reforça a carência em estudos que ligam inovação aberta à ambidestria direcionadas a inovações abertas do tipo outbound. Assim, novamente destacando que além da complexidade, existe uma indisposição em administrar algo de dentro da empresa no ambiente externo, enquanto trazer do externo para administrar na empresa é visto como opção mais segura.

Evolução das temáticas através dos anos

A evolução das temáticas através dos anos é um debate importante para indicar a relevância na progressão de estudos nas áreas analisadas. A figura a seguir expõe através de análise gráfica o quantitativo de artigos divididos por ano de publicação:

evolução através dos anos

Evolução da consideração simultânea de ambas as temáticas através dos anos | Fonte: [1].

Conforme exposto, há avanço no número de pesquisas da área nos últimos 2 anos, o que é ainda mais expressivo se considerarmos que as publicações de 2022 limitam-se a data de pesquisa na base.

O simples confronto dos dados não permite afirmar um motivo sem maiores aprofundamentos, no entanto uma hipótese é de que com a pandemia do coronavírus, intensificou-se o interesse pela área de inovação aberta, considerada um imperativo em tempos de crise e pauta frequente quando discutidas formas de sobrepor-se aos impactos da pandemia, conforme explicamos nesse post de 2021. Essa hipótese, entretanto, não responderia ao motivo do crescimento de estudos que consideram ambidestria e inovação aberta simultaneamente.

Por sua vez, A figura a seguir apresenta a evolução através dos anos das coocorrências dos termos, onde conforme a legenda no canto direito inferior os termos mais antigos encontram-se em azul e os mais recentes em amarelo:

Fonte: [1].

Embora os estudos que consideram ambidestria e inovação aberta simultaneamente tenham se intensificado apenas mais recentemente, de forma isolada ambos já pontuavam significativamente desde 2019.

Importante destacar que embora os termos referentes as inovações incremental e radical estejam com a classificação mais antiga, aqueles referentes a inovação explotativa e explorativa destacam-se como termos de pesquisa mais recentes. Isso pode ser resultado de que empregar os termos exploração e explotação é mais comum quando os estudos tratam a respeito de ambidestria como estratégia de inovação nas organizações.

O que podemos concluir sobre as pesquisas de Ambidestria Organizacional e Inovação aberta?

Observou-se que os estudos que relacionam ambidestria e inovação aberta se direcionam mais para a busca de conhecimento externo do que no compartilhamento de conhecimento interno com outros. Dessa forma, perpetua-se nos estudos que investigam a ambas, o disposto em estudos isolados apenas sobre inovação aberta, onde o fluxo outbound carece de aprofundamentos.

Pode ser verificado um direcionamento mais intenso para estudos que tratam das inovações disruptivas, porém não se excluiu totalmente as incrementais. Isso pode ser reflexo da consideração da inovação aberta como estratégia para equilibrar a ambidestria em empresas que já possuem fluxos concretos de explotação.

Por fim, compreende-se que embora as temáticas não sejam novas, a tratativa simultânea se aprofundou apenas mais recentemente, o que pode ser a causa de lacunas apontadas pelos próprios autores.

Ficou interessado?

Confira o estudo na íntegra e todas suas referências nos anais do CIKI 2023.

Leia mais sobre ambidestria:

Por que mesmo empresas de sucesso devem pensar em ambidestria e inovação aberta?

As inovações que compõem os dois braços da ambidestria organizacional

Ambidestria e Inovação Aberta: será que dá match?

Referências

Esse post foi baseado em:

[1] Marcelo Faustino da Silva, Carlos., Stefani Teixeira, Clarissa., & Clemente Cunha Bastos, Fernando. (2023). TENDÊNCIAS DE PESQUISA EM AMBIDESTRIA ORGANIZACIONAL E INOVAÇÃO ABERTA: UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA. Anais Do Congresso Internacional De Conhecimento E Inovação – Ciki, 1(1). Recuperado de https://proceeding.ciki.ufsc.br/index.php/ciki/article/view/1531

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Carlos Marcelo Faustino da Silva

Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento, um dos primeiros pesquisadores nacionais a abordar ambidestria organizacional sob a perspectiva da inovação aberta. Contador pela UFMT, mentorava startups desde a graduação, por isso começou a atuar próximo a ambientes de inovação, já tendo fundado e administrado núcleos de incubação de empresas. Atualmente, segue mentorando startups e empresas de outras configurações, e estudando estratégias para melhorias de metodologias em ambientes de inovação.