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Inovação aberta: como aproximar universidades e empresas

Universidades x Empresas: Por que pensar em inovação aberta?

Uma universidade integrada ao ecossistema de inovação onde está inserida é capaz de gerar impactos positivos tanto para o ecossistema em si – e aqui contemplando-se a sociedade -, quanto o seu próprio ambiente acadêmico.

O impacto positivo social e econômico dessas organizações tem sido objeto de estudo caracterizado como a “terceira missão das universidades”, que é quando ela assume o papel de universidade empreendedora.

Leia: Quais os benefícios das universidades empreendedoras?

Esse papel tem sido ainda mais amplamente difundido conforme avança a relevância e popularidade da inovação aberta.

A inovação aberta surge com a perspectiva de que o modelo de inovação das empresas tradicionais está ultrapassado, ao buscarem desenvolver seus produtos inovadores de forma isolada, dentro de seus muros, e com receio de serem interceptadas pelos seus concorrentes. Hoje, as empresas já compreenderam que quanto mais se aproveita do ecossistema onde estão inseridas, maiores a chance de alavancar o seu desempenho em inovação [2].

Nesse aspecto, a aproximação do setor produtivo com universidades pode e deve fazer uso de estratégias de inovação aberta a fim de estreitar os laços de cooperação entre esses atores do ecossistema e superar as barreiras que ainda perduram na relação entre universidades e empresas.

Inovação aberta nas universidades

Pohlmann et al. (2022) em seu artigoInbound and outbound strategies to overcome technology transfer barriers from university to industry: a compendium for technology transfer offices” ou “Estratégias de inbound e outbound para superar barreiras de transferência de tecnologia da universidade para indústria: um compêndio para escritórios de transferência tecnológica” (tradução nossa) consideram o papel das universidades como provedoras de conhecimento que embasa o fortalecimento da inovação e da tecnologia nos ecossistemas onde estão inseridas.

Assim, analisam como os seus Escritórios de Transferência Tecnológica (ETT) atuam como extensões da universidade para o mercado, permitindo fluxos de saída de pesquisa universitária para a indústria, mas também fluxos de entrada da indústria para a universidade [1].

Na inovação aberta, esses dois tipos de fluxos são conhecidos como inbound and outbound. Em outro post explicamos mais minuciosamente como funcionam esses fluxos, mas em síntese, podemos dizer que o processo inbound (ou outside-in) envolve a abertura dos processos de inovação de uma empresa a muitos tipos de entradas e contribuições externas e o outbound (ou insideout) caracteriza-se como um fluxo de dentro para fora e exige que as organizações permitam que ideias não utilizadas e subutilizadas saiam da organização para outras pessoas usarem em seus negócios e modelos de negócios [3], conforme figura:

Inovação aberta: como aproximar universidades e empresas

Fonte: elaborado pelo autor com base em Borges et al., 2018 [3].

Nesse contexto, o estudo busca responder quais são as estratégias de inbound e outbound que podem ser utilizadas para transferir resultados de pesquisas acadêmicas e o conhecimento que reside nas universidades para que se tornem alcançáveis para a indústria.

Barreiras na relação Universidade x Empresas

Nos achados dos autores, a barreira mais citada para a eficácia da transferência tecnológica é a cultura organizacional da universidade, visto a predominância de uma cultura acadêmica de geração de conhecimento em vez de de transferência de tecnologia que acaba dificultando o fluxo eficiente da pesquisa para a comercialização [1].

Nesse aspecto, os autores pontuam que tal desalinhamento cultural “[…] desfavorece a relação da universidade com a indústria e se reflete em pesquisadores que não se sentem motivados a se engajar na transferência de tecnologia” [1], tradução nossa.

Outro ponto interessante nos achados dos autores refere-se ao estágio das tecnologias geradas na universidade que encontram dificuldade em se estabelecer em um ponto de equilíbrio: ou encontram-se um estágio de maturidade muito fraco para chamar a atenção do mercado, ou são complexas demais para serem absorvidas [1].

A figura a seguir apresenta algumas das barreiras identificadas pelos autores, assim como suas sugestões próprias ou baseadas na literatura de estratégias de inovação aberta inbound e outbound para que as universidades consigam superá-las:

Inovação aberta: como aproximar universidades e empresas

Pode-se notar que a aproximação com empresas é pontuada em diversas das estratégias encontradas pelos autores. Segundo o estudo afirma, quando o engajamento com o setor produtivo e empreendedores em geral ocorre nos estágios iniciais da pesquisa, aumentam as chances de tecnologias desenvolvidas na academia atenderem às demandas da sociedade [1]. Não obstante, apontam também que qualquer forma de financiamento à pesquisa fornecida pelas empresas facilita a transferência tecnológica no sentido de que a ação conjunta entre os atores gera um envolvimento natural que permite a troca de conhecimento, experiências, infraestrutura, recursos técnicos e humanos [1].

Em conclusão, pode-se afirmar que as estratégias de inbound voltam-se principalmente para a promoção do valor da transferência tecnológica internamente (ou seja, para a comunidade acadêmica), enquanto as de outbound sinalizam a importância da conexão com atores externos para que o conhecimento seja alcançado [1].

Referências

Esse post foi embasado no estudo: [1] POHLMANN, Jaime Roberto; DUARTE RIBEIRO, Jose Luis; MARCON, Arthur. Inbound and outbound strategies to overcome technology transfer barriers from university to industry: a compendium for technology transfer offices. Technology Analysis & Strategic Management, p. 1-13, 2022.

Com referências adicionais:

[2] FAUSTINO SILVA, Carlos Marcelo. (VIA Estação Conhecimento). Inovação aberta: tornando divisores em impulsionadores. 2021. Disponível em: <https://via.ufsc.br/inovacao-aberta-tornando-divisores-em-impulsionadores/?lang=en> Acesso em 27 maio. 2022.

[3] BOGERS, Marcel; CHESBROUGH, Henry; MOEDAS, Carlos. Open innovation: Research, practices, and policies. California management review, v. 60, n. 2, p. 5-16, 2018.

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Carlos Marcelo Faustino da Silva

Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento, um dos primeiros pesquisadores nacionais a abordar ambidestria organizacional sob a perspectiva da inovação aberta. Contador pela UFMT, mentorava startups desde a graduação, por isso começou a atuar próximo a ambientes de inovação, já tendo fundado e administrado núcleos de incubação de empresas. Atualmente, segue mentorando startups e empresas de outras configurações, e estudando estratégias para melhorias de metodologias em ambientes de inovação.