Você sabe o que é Economia Laranja?
A economia laranja é definida como um modelo de desenvolvimento cultural, social e econômico fundamentado na criação, produção e distribuição de bens e serviços de caráter cultural e criativo, cujo valor é determinado pelo conteúdo da propriedade intelectual [1], [2]. Pode ser considerada a economia da cultura e criatividade, uma vez que defende que a diversidade cultural e criativa são aspectos principais da transformação social e econômica de uma região.
Em outras palavras, a economia laranja baseia-se no desenvolvimento de um conjunto de atividades que apoiam e facilitam as condições necessárias para materializar as ideias e talentos em bens criativos, como artes visuais e cênicas, literatura, artesanato, audiovisual, design e novas mídias, ou serviços criativos, como a arquitetura, cultura e lazer, pesquisa e desenvolvimento e propaganda, etc.
Dentre os objetivos da economia laranja, destacam-se [2]:
- o fortalecimento e a proteção dos direitos culturais, da diversidade de expressão cultural e da preservação patrimonial, transmitindo saberes locais e conhecimentos tradicionais, ao mesmo tempo em que busca novas linguagens da revolução digital;
- o desenvolvimento de ferramentas necessárias para gerar novas capacidades e talentos culturais, apoiando a criação e formação artística com programas integrados a outros setores, ao mesmo tempo que conscientiza a demanda consumidora da arte e cultura;
- a criação de alianças em comum entre diferentes setores e colaboradores, relacionando a cultura e a criatividade não apenas ao setor cultural da cidade, como também ao setor ambiental, de saúde, de mobilidade, etc., com colaboradores do poder público, instituições privadas e acadêmicas;
- o desenvolvimento sustentável, com propósito ambiental, social e cultural em comum, alinhado aos ODS da Agenda 2030 das Nações Unidas.
Economia Criativa e Economia Laranja, qual a diferença?
Em 2001, John Howkins lançou o seu livro “Economia Criativa: como ganhar dinheiro com ideias criativas”, que marcou um ponto de conexão entre a criatividade, cultura e os negócios, apresentando o termo da Economia Criativa [3]. Segundo Howkins, a economia criativa inclui todos os setores cujos produtos e serviços têm base em propriedade intelectual e a criação de ideias [1].
Ao longo do tempo, a economia criativa ganhou diversos termos similares, como economia da cultura, cidade criativa e indústria cultural, criativa, do lazer, de entretenimento, etc. Os pontos em comum entre estes termos seriam a relação com os direitos intelectuais, as atividades na cadeia de valor criativa e a criatividade, arte e cultura como matéria prima [1].
A economia laranja seria um precedente da economia criativa, voltada para a América Latina e o Caribe. O termo foi proposto por Felipe Buitrago e Iván Duque em seu livro “La economía naranja: una oportunidad infinita” [1], publicado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Diante dos diferentes termos e definições ainda confusas sobre a economia criativa, a economia laranja surge para resgatar a confiança daqueles que tendem a não levar o termo original a sério [1], além de se situar de forma mais alinhada à realidade e identidade latino-americana. Os países latinos que se destacam na economia laranja são Brasil, seguido pelo México [4]. Em 2018, o governo da Colômbia criou o Conselho Nacional da Economia de Laranja (CNEN), que vem se tornando um exemplo no desenvolvimento nacional da economia laranja.
Afinal, qual é a importância da Economia Laranja?
Além da articulação territorial e o impacto social através dos aspectos inclusivos e colaborativos da Economia Laranja [3], ela também se destaca como uma alavanca no desenvolvimento econômico. Segundo o BID [4], a Economia Laranja representa ao menos 6.1% do PIB Mundial, sendo uma grande responsável pela geração de empregos, exportações mundiais, tributação de impostos e captação de novas tecnologias. Isso mostra que a criatividade e a cultura não são gratuitas e são relevantes à contribuição econômica de um país.
Nesse sentido, a criatividade e cultura mostram-se como geradoras de valor e tornam-se oportunidades, inclusive, em meio a crises globais em diversos setores. A Economia Criativa ou Laranja mostra-se menos volátil, mais resiliente, dinâmica e conectada ao digital, com ampla capacidade de transformação e adaptação a partir de equipes multidisciplinares que oferecem soluções inovadoras [4].
Ainda assim, a Economia Laranja recebe pouca atenção entre a população e autoridades governamentais e, segundo Buitrago e Duque [1], isso ocorre por conta da falta de delimitação dos conceitos de cultura, criatividade e economia e seu alto nível de complexidade; o desconhecimento das possibilidades da relação entre economia e cultura, levando em conta a inconsistência de dados e planejamento político; a necessidade de quantificar economicamente as atividades culturais e criativas; e a falta de envolvimento de uma massa crítica da população.
Os 7 i’s da Economia Laranja
Em seu livro, Felipe Buitrago e Iván Duque [1] apresentam sete linhas estratégicas para apoiar o desenvolvimento da Economia Laranja, conhecidas como os “7 i´s”:
- Información: desenvolvimento de estudos de mapeamento das indústrias e territórios criativos, infraestruturas culturais e consumo cultural para compartilhar e transferir pesquisas, diagnósticos, resultados e conhecimento de informações e melhores práticas;
- Instituições: articulação entre diferentes setores e a colaboração entre governos, iniciativas privadas, ONGs e a comunidade, a fim de incentivar uma mudança na consciência social que promova respeito pelo valor do trabalho criativo e pelos direitos de propriedade intelectual associados;
- Indústria: colaboração da política pública com a iniciativa privada para organização de fundos de pesquisa, start-ups e habilidades e recursos para o mercado, de maneira a garantir assistência técnica para gestão financeira, formação de talentos e empreendimento criativo;
- Infraestrutura: valorização das infraestruturas físicas e virtuais que geram conectividade, intercâmbio e acessibilidade à atividades, bens, serviços e intervenções culturais e criativos;
- Integração: integração e posicionamento dos mercados criativos e culturais locais, abrindo oportunidades de co-criação, formação, fomento e incentivo aos artistas e criativos da região;
- Inclusão: empoderamento de minorias de todos os tipos no progresso econômico e empreendedor, incluindo políticas de microcrédito, geração de empregos e formação de talento humano em busca da inclusão, fortalecimento e participação para reduzir divisões sociais;
- Inspiração: desenvolvimento de um modelo que instigue a inovação, imaginação, instrução e incentivo para que indivíduos criativos possam se inspirar, envolvendo oportunidade de apreciar o trabalho de outros criativos, o reconhecimento através de premiações e audiências, os ambientes tolerantes para novas ideias e a educação que incentive a imaginação e adaptação às mudanças.
Referências
[1] RESTREPO, Felipe Buitrago; MÁRQUEZ, Iván Duque. A Economia Laranja: uma oportunidade infinita. BID: Nova Iorque, 2013. Disponível em:<https://publications.iadb.org/pt/economia-laranja-uma-oportunidade-infinita>. Acesso em: out. 2021.
[2] MINISTÉRIO DE CULTURA DE COLÔMBIA. ABC Economía Naranja. n.d. Disponível em:<https://www.mincultura.gov.co/prensa/noticias/Documents/atencion-al-ciudadano/_ABC_ECONOMI%CC%81A_NARANJA_.pdf>. Acesso em: out. 2021.
[3] ZAGANELLI, Bárbara Martins; GANTOS, Marcelo Carlos. Economia laranja e comunicação: uma nova partilha do valor da informação na era da criatividade. Organicom, [S.L.], v. 12, n. 23, p. 88, 14 dez. 2015. Universidade de São Paulo, Agência USP de Gestao da Informacao Acadêmica (AGUIA). http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-2593.organicom.2015.139297.
[4] Universidad de Ciencias y Artes de América Latina. ¿Qué es la economía naranja?. 2015. Disponível em:<https://ucal.edu.pe/noticias-y-eventos/publicaciones/economia-naranja-creatividad>. Acesso em: out. 2021.
Aline de Camargo Barros
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