Sistemas de Inovação versus Ecossistemas de Inovação
Os diferenciais entre Sistemas de Inovação e Ecossistemas de Inovação são apresentados pelo Grupo VIA Estação Conhecimento
Se você já se deparou com o conceito de Sistemas de Inovação e Ecossistemas de Inovação pode ter ficado na dúvida, qual a diferença? Por isso, este post visa contribuir com o entendimento destes conceitos, mostrando que há diferenças entres os dois termos e que ambos não podem ser utilizados de forma análoga.
Sistemas de inovação
Primeiramente, o conceito de sistema de inovação é mais antigo, criado na década de 80 pelo autor Freeman. De fato, esta abordagem foi criada para substituir a teoria que entendia a inovação como um processo linear e já não atendia a toda complexidade que envolve o processo inovativo. Portanto, o conceito de sistema de inovação surge da percepção que a inovação é um processo complexo e resultado da interação de diversos atores, principalmente institucionais.
O que os autores dizem:
De acordo com Freeman e Soete (2008) os sistemas de inovação são formados pelas diversas interações, analisadas em um sentido amplo, entre agentes públicos e privados que lidam com Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), bem como o ensino e a difusão da tecnologia.
Da mesma forma, Nelson e Rosenberg (1993) citam que os sistemas de inovação são um conjunto de instituições cujas interações determinam o desempenho inovador das empresas nacionais.
Exemplo: Sistema de Inovação do Brasil
Só para ilustrar, o mapa a seguir apresenta os sistema brasileiro de inovação. Dessa maneira, é possível ver os atores que fazem parte do sistema e os sentidos das suas interações.
Primeiramente, cabe mencionar que há diferentes configurações de sistemas inovação: sistema nacional de inovação, sistemas regional de inovação e sistema setorial de inovação. Assim sendo, o sistema nacional de inovação considera todo o arcabouço institucional, jurídico e de políticas do país. Por conseguinte, o sistema regional é caracterizado pela proximidade geográfica de seus atores. Por fim, o sistema setorial é concentrado num setor de atuação específico.
Ecossistemas de inovação
Por outro lado, o conceito de ecossistema de inovação é mais recente e deriva da analogia com o ecossistema biológico. De tal forma que, a metáfora foi introduzida por James Moore em 1993, ao sugerir que as empresas deveriam ser consideradas como parte de um ecossistema de negócios, que envolve uma série de indústrias e, não mais como unidades de uma única indústria.
O que os autores dizem:
De acordo com Lemos (2011), o termo ecossistema é utilizado de modo amplo na gestão e no discurso econômico com o objetivo de descrever grupos heterogêneos de atores que trabalham de forma cooperativa e interdependente.
Da mesma forma, Jishnu, Gilhotra e Mishra (2011) e Russell et al. (2011) relatam que o ecossistema de inovação refere-se aos sistemas inter organizacionais, políticos, econômicos, ambientais e tecnológicos da inovação, em que ocorre a catalisação, sustentação e apoio ao crescimento de negócios.
Exemplo: Ecossistema de inovação Vale do Silício.
Diferenças entre sistema e ecossistema de inovação
De acordo com Mercan e Göktas (2011), a abordagem de sistemas de inovação não explica a relação entre o processo de inovação e a estrutura inovadora. Portanto, devido à natureza estática do modelo de sistemas de inovação, foi criada a abordagem ecossistêmica, baseada na biologia. O Ecossistema de Inovação considera a natureza dinâmica da inovação. O conceito descreve as características evolutivas das interações entre os atores, suas relações com atividades inovadoras e suas relações com o ambiente em que operam. Os autores Russo-Spena, Tregua e Bifulco (2017), diferenciaram os dois conceitos como segue no quadro 1
Ao analisar o quadro 1, pode-se dizer que o Ecossistema de inovação está mais focado no empreendedorismo, no mundo dos negócios (lógica neo-evolucionária), enquanto que o Sistema de Inovação possui um foco maior em politicas e na economia da inovação (neo-institucionalista). Assim, os ecossistemas se preocupam com a inovação mais no nível de empresa, por meio da colaboração inter organizacional para cocriação de valor. Além disso, é auto regulado, sendo considerado um sistema complexo, no qual se adapta, possuindo um estado de desiquilíbrio, muito análogo aos ecossistemas biológicos. Por outro lado, os Sistemas de Inovação são mais fechados, preocupados com as instituições e seu impacto no desenvolvimento da inovação, dependendo de regras claras e estabelecidas, muitas vezes legisladas pelo governo.
Em Resumo
Como demonstrado, ambos os conceitos trabalham com a interação de diversos atores para promover a inovação. Portanto, num sentido mais macro, os sistemas de inovação são estruturas mais formalizadas, muitas vezes constam em lei, ex: o artigo 219 da Constituição Federal dispõe sobre o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) do país, com objetivo de formalizar a interação entre entes públicos e privados para desenvolver a C,T&I do Brasil. Desse modo, representam a interação direta e indireta de instituições maiores, como a academia, o governo e as empresas.
Por outro lado, ecossistemas de inovação são ambientes mais flexíveis, onde pessoas, empresas e organizações interagem entre si com o objetivo de empreender. Portanto, os ecossistemas de inovação podem surgir de forma orgânica. De fato, sua analogia com o ambiente biológico corresponde a ideia de um ambiente prospero e em constante adaptação, onde diversos atores interagem para estabelecer uma conexão que favoreça a inovação. Estão muitas vezes relacionados com os habitats de inovação, ambientes que possibilitam a interação de pessoas e organizações. Podem ser mais específicos, coexistindo dentro de um sistema de inovação. O mais famoso ecossistema de inovação é o Vale do Silício que emergiu da criação de empresas tecnológicas próximas a universidade, criando um ambiente próprio para a geração de empresas altamente tecnológicas.
Para saber mais acesso o ebook Ecossistema de Inovação: Alinhamento Conceitual.
Referências
ANPEI. Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras. Mapa do Sistema Brasileiro de Inovação. Comitê Interação ICT – Empresa. Comitê de Fomento à Inovação. São Paulo, 2014. 33p.
FREEMAN, C.; SOETE, L. A economia da inovação industrial. Campinas: Editora da Unicamp, 2008.
JISHNU, V.; GILHOTRA, R. M.; MISHRA, D. N. Pharmacy education in India: Strategies for a better future. Journal of Young Pharmacists, v. 3, n. 4, p. 334-342, 2011.
LEMOS, P. A. B. As universidades de pesquisa e a gestão estratégica do empreendedorismo: uma proposta de metodologia de análise de ecossistemas. 2011. Tese (Doutorado em Política Científica e Tecnológica). UNICAMP, Campinas, 2011.
MERCAN, Birol; GÖKTAS, Deniz. Components of Innovation Ecosystems:: A Cross-Country Study. International Research Journal Of Finance And Economics, [s.l], v. 76, n. 1, p.102-112, jan. 2011.
NELSON, R.; ROSENBERG, N. Technical innovation and national systems. In: NELSON, R. (Ed.). National innovation systems: a comparative analysis. New York: Oxford University, p. 3-21, 1993.
RUSSELL, M. G. et al. Transforming innovation ecosystems through shared vision and network orchestration. In: Triple Helix IX International Conference. Stanford, CA, USA. 2011.
RUSSO-SPENA, T; TREGUA, M; BIFULCO, F. Searching through the jungle of innovation conceptualisations: System, network and ecosystem perspectives. Journal of Service Theory and Practice, v.27, n.5, p.977-1005, 2017.
Guilherme Paraol
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