O ciclo de vida dos distritos criativos
Distritos criativos: reflexões e consequências imprevistas
Sharon Zukin e Laura Braslow (2011) refletem sobre a criação e o ciclo de vida dos distritos criativos. Para isto, apresentam como exemplo o caso do distrito Soho, em Nova York. Para entender o ciclo de vida destes espaços, é necessário voltar às décadas de 1950 e 60. Nestas décadas surgiram os primeiros espaços ditos como criativos, porém bastante diferentes dos atuais. Nesta época os governantes começaram algumas ações para a criação espaços culturais de forma planejada. Porém, eram espaços destinados às mais altas classes e provenientes da demolição de espaços da cidade. Como por exemplo a demolição de um distrito de classe média para construção de instalações monumentais para concertos, ópera e balé em Nova York.
Porém na década de 70 surge um dos primeiros distritos criativos de ocorrência natural, o Soho. Um distrito não planejado pelo estado, de lofts industriais, focado no uso de estúdios de artistas e galerias de arte. Entretanto, um espaço destes, de ocorrência natural, causa diversas consequências. Primeiramente, os artistas se tornam mais visíveis como ativistas políticos controversos. Gerando oportunidades de crítica coletiva, transgressão e subversão. Mas também controle social, impondo vigilância ou limitando o acesso a estas regiões. Em segundo lugar, ocorreu o aumento dos aluguéis. Os espaços usados pelos artistas foram convertidos para usos mais lucrativos nos aluguéis, impossibilitando a permanência da população inicial. E em terceiro lugar, membros mais abastados da classe criativa se mudam para locais que eram estúdios de artistas pobres. Assim, eles se tornam os principais patrocinadores dos restaurantes, boutiques e bares do distrito cultural. Afastando a classe criativa deste espaço.
A gentrificação desse tipo ameaça as comunidades que artistas criativos e produtores culturais de baixa renda conquistaram nas cidades.
O ciclo de vida dos distritos e arte urbana
Para Zukin e Braslow (2011) é possível até mapear o ciclo de vida dos distritos por meio de uma característica significativa da paisagem visual de um distrito criativo: a arte pública. Assim, segundo as autoras três estágios podem ser identificados: migração de grupo, construção de reputação e criação de representação visual nas ruas.
- Migração de grupos: mudanças nas políticas públicas, acesso a recursos, competição ou conflito com outros usos e usuários do espaço urbano e aluguéis. Desta forma, artistas e outros migrantes podem ser atraídos para um distrito específico por causa da reputação da área, mas eles são limitados pelos aluguéis. Portanto, o declínio da manufatura em Nova York modelou o SoHo como um ponto fraco dos mercados imobiliários, atraindo os produtores criativos.
O elemento social significativo nessa migração é a construção da reputação de um bairro – sua distinção cultural – como um lugar “criativo” para realizar e consumir a diferença
- Construção de reputação: um artista que vive em um bairro pode ser visto pelos vizinhos como um personagem excêntrico. Cinquenta artistas que frequentam uma galeria de arte ou um bar fazem a reputação do bairro. Seu desempenho da diferença os torna visível não apenas para os vizinhos não artistas, mas também para si mesmos. Assim, eles começam a se reconhecer, formam redes sociais e profissionais e criam uma identificação territorial.
A arte pública é um contribuinte para o processo de construção da reputação de uma área como criativa. Desse modo, são sinais que atraem e não repelem os investidores
- Criação e representação visual nas ruas: processo de exibição de diferenças representados na arte pública. Desta forma, neste estágio a arte pública é altamente visível nas ruas.
Consequências da evolução dos distritos
Distritos criativos são normalmente formados por comunidades de baixa renda.Porém, levam ao desenvolvimento de espaços de consumo que atendem a uma comunidade de pessoas de renda mais alta. Assim, casos como os de Nova York demonstram que a regulamentação destes espaços nem sempre é benéfica aos artistas, pois gera um apelo para outros inquilinos não criativos com maiores recursos financeiros, aumentando os custos de vida destes espaços. Desta forma, para as autoras designar uma vizinhança natural de artistas como um distrito criativo é a sentença de morte da criatividade (e o início dos aluguéis mais altos).
Para saber mais sobre distritos criativos, acesse o post da série habitats de inovação!
Referência
ZUKIN, S.; BRASLOW, L. The life cycle of New York’s creative districts: Reflections on the unanticipated consequences of unplanned cultural zones. City, Culture and Society, v. 2, n. 3, p. 131-140, 2011.
Rayse Kiane
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