Living Labs

Living Lab: Uma metodologia entre Design Centrado no Usuário e Design Participativo

Novas perspectivas na passagem do design centrado no usuário para o design participativo

A pesquisa desenvolvida por Claudio Dell’Era e Paolo Landoni em 2014 ainda se mostra muito relevante para a área. Visto que, muitos trabalhos têm se centrado nas características organizacionais da entidade gestora ou na caracterização ambiental. Ambos os aspectos são relevantes, mas nenhum deles ilustra totalmente as peculiaridades metodológicas dos Living Labs. Mesmo anos depois, aliteratura é limitada e possui uma natureza fragmentada e com dificuldade de definir as experiências destes ambientes, além da disponibilidade limitada de dados de casos práticos.

Para os autores, Living Labs são:

Uma metodologia de pesquisa em design voltada para a cocriação de inovação por meio do envolvimento de usuários conscientes em um ambiente da vida real.

Sob esta visão, os autores comparam o Living Labs com outras metodologias de design centrado no usuário e design participativo. Abaixo são detalhadas as metodologias apresentadas pelos autores.

Design Centrado no Usuário: considera os usuários fontes de inovação

  • Questionário e Entrevistas: pressupõem que o cliente conhece melhor as características que deseja implementar em um produto porém, essa suposição não é completamente exata.
  • Grupos Focais: participantes são convidados e estimulados a discutir problemas específicos relacionados a um produto estão sujeitos às normas sociais do grupo e não permitem a identificação de certas necessidades que o cliente prefere não revelar explicitamente na presença de outras pessoas.
  • Fatores Humanos + Ergonomia: é o estudo de projetar equipamentos e dispositivos que se ajustam ao corpo humano e suas habilidades cognitivas.
  • Usabilidade: técnica usada no design de interação centrado no usuário para avaliar um produto testando-o em usuários
  • Investigação Contextual: o pesquisador observa o usuário fazer suas atividades normais e discute o que vê com o usuário.
  • Etnografia Aplicada: muitas vezes o cliente não está ciente de certos aspectos de sua interação com o produto e é incapaz de expressar algumas de suas necessidades consiste na observação das relações entre diferentes atores em um contexto natural para colher o significado atribuído ao fenômeno e diferentes pontos de vista.
  • Inovação do usuário líder: prevê a observação de consumidores engenhosos que desenvolveram autonomamente soluções inovadoras para melhor satisfazer as suas necessidades decorrentes de um certo grau de insatisfação com um produto.

Design participativo: usuários cooperam para a inovação

  • Métodos escandinavos: uma característica chave do design participativo é o uso de artefatos físicos como ferramentas de pensamento ao longo do processo.

 

A partir da análise destas diferentes metodologias, e de um estudo de caso de diferentes Living Labs da Europa, os autores afirmam que:

“A metodologia Living Lab permite a exploração de diferentes categorias de necessidades do usuário, variando de necessidades observáveis (semelhantes à etnografia aplicada), necessidades tácitas (semelhantes à inovação do usuário principal) e necessidades latentes (semelhantes ao método escandinavo). Na metodologia Living Lab, como nos métodos escandinavos, a responsabilidade compartilhada pela criação resulta em um processo cocriativo.”

Desta forma, entendem que os Living Labs podem ser categorizados de acordo com o seu nível de interação com os usuários, e o papel da tecnologia no processo.

  • Aberto: Implica que todos têm o direito de participar. São mais simples de implementar e permitem um feedback mais diversificado, mas exigem a capacidade de filtrar resultados e gerenciar o maior número de usuários.
  • Fechado: onde os usuários são pré-selecionados e consequentemente convidados a participar. Permitem um feedback mais focado e aprofundado do usuário.
  • com Apropriação de Valor: baseados na exploração das oportunidades oferecidas pelas tecnologias existentes.
  • com Criação de Valor: baseados na exploração das oportunidades geradas pelas novas tecnologias.

Este estudo apresentado por Dell’Era e Landoni apresenta os Living Labs sob uma ótica diferencia, não sendo somente espaços físicos de testes, mas sim como uma metodologia de criação de inovação. A identificação de quatro diferentes especificações do Living Lab ressaltam a importância do usuário dentro deste processo, e valoriza a participação destes para resultados mais tangíveis.

Porém, o estudo apresenta algumas limitações. Como por exemplo, não explorar todas as diferenças e variáveis que potencialmente caracterizam diferentes Living Labs. Além disso, a disponibilidade de dados e a difusão do fenômeno na Europa só permitiram a consideração de casos europeus neste estudo.

O grupo VIA possui uma edição da revista focada nos Living Labs, acesse em VIA magazine

Para saber mais sobre os Living Labs e a sua relação com os ecossistemas de inovação, acesse o artigo Innovation ecosystem and living lab: a bibliometric analysis

Referência:

DELL’ERA, Claudio; LANDONI, Paolo. Living Lab: A methodology between user‐centred design and participatory design. Creativity and Innovation Management, v. 23, n. 2, p. 137-154, 2014.

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Rayse Kiane

Mestre e doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina. Graduada em Sistemas de Informação pela mesma instituição . Realiza pesquisas interdisciplinares sobre: inovação na educação, mídia e conhecimento, compartilhamento de conhecimento por meio das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), open science e usabilidade de software.