Case Distrito Criativo Bairro Alto

Cases de Distritos Criativos: Bairro Alto e Maboneng

Antes de iniciar a contextualização dos Cases de Distritos Criativos: Bairro Alto e Maboneng, importante compreender o que são distritos criativos: veja essa matéria Distritos criativos conectados a habitats de inovação.

Dois cases de distritos criativos que trazem características distintas estão presentes no Bairro Alto e no Bairro Maboneng.

O Bairro Alto, considerado o centro histórico de Lisboa, em Portugal, possui mais de 500 anos de história, as quais resultaram diversas transformações urbanísticas promovidas pelas interações públicas de planejamento, até a chancela como bairro mais boêmio da cidade; diferentemente o distrito criativo Maboneng, sua economia criativa localizada em Joanesburgo, na África do Sul, surge exclusivamente pela iniciativa privada em meio a reestruturação de espaços industriais subutilizados, transformando em um centro de negócios fruto da modernização dessas propriedades.

Case Distrito Criativo Bairro Maboneng

Fonte: https://curiocity.africa/blog/travel/curiocity-captures-maboneng-precinct/ – Bairro Maboneng/Joanesburgo

A criatividade presente nesses cases de distritos criativos é resultado da diversidade entre os diferentes atores e das atividades que habitam o território. Gregory (2016) realizou um estudo por meio de entrevistas com desenvolvedores e donos de estabelecimentos de Maboneng que evidenciou uma forte rede entre os artistas e empreendedores locais, a qual “enriquece o senso de uma comunidade criativa” (GREGORY, 2016, p. 166). Além disso, o ambiente fornece um espaço para a realização de expressões culturais, artísticas e interações entre a comunidade baseadas na liberdade, o que é relevante num cenário de pós apartheid da cidade (NEVIN, 2014).

O uso misto ligado com habitação, comércio e lazer é outro ponto em comum presente nos dois distritos. O distrito do Bairro Alto apresenta uma vasta diversidade, com pessoas de todos os tipos se reunindo nesse território para compartilhar tempo, espaço e experiências por meio da convivência orgânica nos espaços públicos e facilidades que o bairro oferece (NOFRE et al., 2017). Em Maboneng, possui empreendimentos com diversas funções, que por meio disso, construiu um dinamismo de atividades, tornando-se um hub de design, empreendedorismo, cultura e expressões criativas (ROGERSON; ROGERSON, 2014; GREGORY, 2016).

Esses empreendimentos são frutos do movimento de ocupação e regeneração destes prédios abandonados para atribuir um novo valor ao bairro, propiciando moradia e trabalho para a população local (WALSH, 2013), bem como, o sentimento de comunidade que é criado, quando se tem um ambiente criativo, possibilitando a realização cotidianas de reuniões, ou mesmo ir em um restaurante de qualidade ou mesmo poder fazer compras em um perímetro pequeno (NEVIN, 2014).

Case de distrito criativo Bairro Alto

Fonte: Nit.restaurantes – Bairro Alto/Lisboa

A regeneração histórica presente no Bairro Alto alavancou uma crescente atividade econômica na vida noturna com viés criativo. Esse movimento junto a vasta opções de restaurantes e bares nas praças e nos espaços públicos de convivência, atraiu um grande número de artistas, turistas, estudantes, profissionais de diversas áreas da economia criativa, para transitarem por essa atmosfera boêmia irreproduzível em outro local (XAVIER; DE ALMEIDA, 2017; NOFRE et al., 2017).

Já em Maboneng, a inserção da indústria criativa e a presença artística, é um destaque na região. Amparar os artistas em espaços físicos e sociais garante o afloramento da criatividade. Outro ponto importante é a conexão com empresas que forneçam serviços criativos ou que dê suporte para a criação, como especialistas em mídias digitais, fotógrafos e publicitários, são fundamentais no impulsionamento para regenerações físicas e econômicas nas áreas afetadas (WALSH, 2013; GREGORY, 2016).

Essa dinâmica vivenciada nos cases de distritos criativos e as constantes redescobertas de potenciais ambientes, contribuíram para que as pessoas aproveitassem o melhor dos espaços, seja no frequentar bares, visitar museus e galerias, ou mesmo conviver ao ar livre, prolongando a vida criativa na região.

Contudo, apesar das diferenças de atores que impulsionam o Bairro Alto e Maboneng, ambos possuem a presença de atividades culturais e fomentam a economia criativa em seus espaços públicos, por meio do uso misto dos espaços, garantindo a ampliação de moradia, comércio e lazer, demonstrando como a criatividade está presente e empregada no dia a dia dos dois distritos, mesmo com diferentes atores e interesses acerca dos ambientes.

 

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Referências:

GREGORY, J. J. Creative industries and urban regeneration–The Maboneng precinct, Johannesburg.Local Economy, v. 31, n. 1-2, p. 158-171, 2016.

NEVIN, A. Instant mutuality: the development of Maboneng in inner-city Johannesburg. Anthropology Southern Africa, v. 37, n. 3-4, p. 187-201, 2014.

NOFRE, J.; CALVO, D. M.; CASSAN, A.; WODZINSKA, S. D. Club Carib: a geo-ethnography of seduction in a Lisbon dancing bar.Social & Cultural Geography, v. 18, n. 8, p. 1175-1195, 2017.

NOFRE, J.FUARROS, Í. J.; MARTINS, J. C.; PERREIRA, P.; SOARES, I.; MALET-CALVO, D.; GERALDES, M.; DÍAZ, A. L. Exploring nightlife and urban change in Bairro Alto, Lisbon. City & Community, v. 16, n. 3, p. 330-344, 2017.

ROGERSON, C. M.; ROGERSON, J. J. Creative Districts in the Global South: Maboneng Precinct, Innercity Johannesburg. MARQUES, L.; RICHARDS, G. Creative Districts around the world: Celebrating the 500th Anniversary of Bairro Alto. Breda: Nhtv University of Applied Sciences, p. 149-153, 2014.

TESTONI, B.; TEIXEIRA, C. S. Cap. 5. Distritos Criativos: Bairro Alto e Maboneng. In: Habitats de inovação: conceito e prática / Ágatha Depiné; Clarissa Stefani Teixeira (Orgs.) – São Paulo: Perse. 220p. v.3: il. 2020. Disponível em: https://via.ufsc.br/wp-content/uploads/2020/07/HABITATS-DE-INOVACAO-conceito-e-pratica-VOL3.pdf. Acesso em: 26 de jul. 2022.

XAVIER, A. J. T. C.; DE ALMEIDA, A. S. A. Políticas locais e impactos na concessão da experiência turística em espaços urbanos – os casos do Bairro Alto e da Mouraria, Lisboa. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 13, n. 2, p. 322-350, 2017.

WALSH, S. ‘We won’t move’ The suburbs take back the center in urban Johannesburg. City, v. 17, n. 3, p. 400-408, 2013.

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Ricardo Silvestro

Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento/UFSC e Pesquisador Grupo VIA Estação Conhecimento. Experiência como consultor de empresas, influenciando os processos de Incubação, consolidando ideias e negócios.