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Uma análise dos fatores de inovação além das regiões metropolitanas

No post de hoje discuto os fatores de inovação que estão além das regiões metropolitanas. Para tanto, utilizo como referência o estudo de Martinez-Fernandez e Potts (2008). Estes autores mencionam que os subúrbios periféricos foram negligenciados no estudo sobre ecossistema de inovação. Portanto, lançam um olhar sobre os locais mais afastados das áreas metropolitanas como áreas que exigem medidas de planejamento específicas para promover a inovação. O estudo foi realizado em Sydney, Austrália.

A necessidade de olhar para os subúrbios

Este artigo fornece evidências empíricas para apoiar a tese de que os subúrbios periféricos nas regiões metropolitanas possuem processos de inovação específicos. Estes requerem estratégias de planejamento diferentes das áreas metropolitanas. Portanto, é necessário prestar mais atenção às características locais dos subúrbios onde a cultura da inovação precisa crescer e florescer.

Para tanto, Martinez-Fernandez e Potts (2008) exploram indicadores de inovação em uma perspectiva tripla de resultados. Primeiro, a intensidade do conhecimento. Segundo, fatores ambientais. Terceiro, questões sociais e comunitários. Os autores argumentam que essas áreas não pertencem ao mesmo sistema de inovação, mas possuem
características, regras de governo, escalas e dinâmicas diferentes. Portanto, devem ser considerados ecossistemas de inovação diferenciados. A partir disso, o estudo explora essa estrutura conceitual e explica a composição desses ecossistemas e seu papel na inovação em subúrbios periféricos.

Como meio de análise, Martinez-Fernandez e Potts (2008) usam um conjunto de oito fatores de inovação e 38 indicadores de inovação. Os oito fatores são a intensidade do conhecimento; conectividade; geração, transferência e integração de conhecimento; empreendedorismo; dinâmica ambiental; envolvimento da comunidade; habitabilidade; e acessibilidade.

A região analisada

A área de análise é a região de Macarthur, localizada a aproximadamente uma hora do centro comercial de Sydney. A sua população é de aproximadamente 240.000 habitantes. Assim, compreende mais de 50 subúrbios nas localidades de Campbelltown, Camden e Wol-londilly. Portanto, embora essa área nos limites da cidade mostre pontos em comum para uma macroanálise, existem diferenças consideráveis e observáveis no nível micro. Desse modo, Campbelltown é a área mais industrial, Camden é amplamente rural e residencial, e Wollondilly tem características semirurais.

Figura 1: Região de Macarthur em Sydney. Austrália. Fonte: Martinez-Fernandez e Potts (2008).

Principais conclusões

No geral, o estudo mostrou conclusivamente a importância da intensidade do conhecimento, ambiente, conectividade e acessibilidade como os principais impulsionadores da inovação para a região em análise. Assim, as organizações destacaram vínculo entre dinâmica ambiental e intensidade do conhecimento. Por sua vez, a dimensão social estava mais desconectada ao desenvolvimento socioeconômico ou ao desenvolvimento de negócios.

Índices regionais de inovação

A partir das 3 localidades analisadas na região de Macarthur, os autores identificaram os índices de inovação para cada uma delas. Nas pontuações do índice, Campbelltown e Camden têm resultados semelhantes e classificações mais altas (570 e 567, respectivamente) que Wollondilly11 (365).

Devido a sua pontuação, Campbelltown está bem posicionada para contribuir com a inovação regional. Assim, suas principais vantagens estão na geração de conhecimento, intensidade do conhecimento industrial, empreendedorismo e acessibilidade – componentes-chave de regiões inovadoras. Isso destaca seu papel como um centro regional de atividades de educação, conhecimento e acessibilidade a serviços, empregos e mobilidade.

Camden obteve alta classificação nos campos habitabilidade, dinâmica ambiental, empreendedorismo e intensidade do conhecimento industrial. Assim, esse padrão sugere que Camden possui características significativas de qualidade de vida. As questões de acessibilidade foram classificadas abaixo de outros fatores nessa região, destacando os problemas de transporte e serviços. Por sua vez, as iniciativas de transferência de conhecimento e conectividade comercial beneficiariam o seu potencial de inovação.

Wollondilly tem mais a ganhar com o desenvolvimento de drivers de inovação. Portanto, teve bom desempenho em conectividade e envolvimento da comunidade. Por sua vez, intensidade do conhecimento, transmissão do conhecimento, empreendedorismo e acessibilidade são áreas que precisam de atenção.

Martinez-Fernandez e Potts (2008) também responderam quatro perguntas chaves sobre a inovação nesta região.

1 – Quais fatores de inovação são identificados pelas organizações regionais como importantes para o desenvolvimento da área?

A maioria dos estudos de caso mencionou três fatores de inovação altamente importantes: intensidade do conhecimento, dinâmica ambiental e acessibilidade. Por sua vez, a conectividade, o empreendedorismo e o envolvimento da comunidade foram considerados de média importância. Por fim, a geração/transferência/ integração de conhecimento não foram consideradas muito importantes.

2 – Quais elementos da intensidade do conhecimento estão presentes na região?

Em Wollondilly, a área de conhecimento se estende a Universidade de Wollongong para colaboração específica da indústria-universidade. Esta região, portanto, se conecta à cidade costeira de Wollongong. Assim, a proximidade geográfica parece ser um fator mais importante do que a participação em redes internacionais.

Além disso, a conectividade com outras empresas e redes foi considerada um fator importante para o desenvolvimento dos negócios. As empresas mencionam o uso de acordos informais com parceiros de inovação. Estes parceiros envolvem outras empresas do mesmo grupo industrial, clientes, concorrentes, organizações de pesquisa e tecnologia e organizações regionais. Por outro lado, os acordos formais impulsionam a colaboração em serviços intensivos em conhecimento, com instituições públicas e instituições do setor. Enquanto que, acordos informais existem para outras relações de rede dentro e fora da área local.

3 – Qual a importância da dinâmica ambiental para a inovação na região?

A dinâmica ambiental, foi identificada na estrutura conceitual e na literatura como um fator determinante para o estabelecimento de empresas, organizações e regiões inovadoras e competitivas. Assim, conforme destacado pelos indicadores de inovação, organizações e empresas públicas regionais estão cada vez mais preocupadas com o desenvolvimento sustentável.

O estudo de caso indicou consistentemente que a dinâmica ambiental era importante para a inovação. Portanto, foi
reconhecido que a dinâmica ambiental está emergindo como um fator de sucesso nos negócios. Esta base de inovação ambiental contribui para a relação custo-benefício e proporciona uma vantagem sobre os rivais do mercado. No entanto, mesmo que a maioria das organizações reconheça que a inovação ambiental pode levar a resultados bem-sucedidos, não tem certeza sobre como resolver esses problemas no contexto comercial.

Os resultados revelaram que é necessária pesquisa sobre medidas regionalmente significativas relacionadas à
capacidade e ao progresso da inovação. Portanto, os indicadores precisam avançar sobre investimentos em inovação ambiental, resultados de P&D e dados sobre eficiência de recursos em setores específicos. Assim, os indicadores ilustram a necessidade de melhores informações sobre a inovação ambiental, seu papel na promoção da competitividade e aceitação por empresas, organizações e comunidades.

4 – Quanta colaboração existe entre a indústria e as organizações regionais?

A colaboração entre a indústria e organizações regionais na área é muito limitada. Assim, dos 12 casos estudados, apenas 4 a 5 colaboraram com organizações regionais. Ademais, existem interação formal e informal, mas a última predomina. No entanto, a colaboração e o envolvimento da comunidade foram considerados cada vez mais importantes como impulsionadores da inovação.

As questões de acessibilidade foram consideradas altamente importantes. Isso porque tiveram um impacto nas conexões com fontes de conhecimento e profissionais nos níveis regional, nacional e internacional e em mercados mais amplos de bens.

Assim, no geral, o envolvimento observado com organizações regionais é muito limitado e não significativo na maioria dos casos. As empresas consideram o envolvimento da comunidade como uma atividade focada em entidades beneficentes. Porém, não necessariamente como o envolvimento com redes regionais de organizações para promover o desenvolvimento regional.

Assim, a colaboração e a dinâmica social sugerem a posição e o potencial mais desafiador para contribuir com o sistema de inovação regional. Por sua vez, a falta de entendimento dos elementos envolvidos no ecossistema da dinâmica social e a falta de conhecimento da empresa em relação ao envolvimento da comunidade destacam uma área para atenção estratégica e política. Dessa forma, instituições locais, como conselhos, têm muito a oferecer para facilitar esse processo de engajamento.

Nesse nível, a estrutura nacional de sistemas de inovação tem pouco a oferecer, porque está muito distante do que está acontecendo localmente. Assim, novas ferramentas analíticas locais precisam ser desenvolvidas para que os
formuladores de políticas possam impulsionar a inovação em seus níveis constituintes e aproveitar os benefícios para o capital social e as sociedades do conhecimento.

Conclusão do estudo

O estudo de Martinez-Fernandez e Potts (2008) revela que a dinâmica espacial da inovação pode ser analisada sob a perspectiva dos ecossistemas de inovação. Estes consistem em intensidade do conhecimento, dinâmica ambiental e dimensões sociais.

Há diferenças críticas entre esses ecossistemas de inovação nas três áreas analisadas. Estes diferentes espaços dão origem a questões políticas sobre a promoção de indústrias intensivas em conhecimento, a inovação ambiental e a integração da dinâmica da comunidade nos subúrbios periféricos.

Portanto, o aumento da conectividade regional nos níveis industrial e comunitário ajudará a estabelecer redes de informação e conhecimento tão importantes nos processos de inovação. Desse modo, os caminhos para aumentar a conectividade incluem o estabelecimento de fóruns regionais de inovação, formação de redes de negócios e direcionamento de parcerias público/privadas para promover o envolvimento da comunidade. De fato, os conselhos locais têm um papel importante a desempenhar na promoção da intensidade do conhecimento em seus subúrbios.

A inovação ambiental é uma área de vantagem competitiva natural para organizações e empresas. Portanto, o estudo recomenda a promoção de atividades regionais de networking, nas quais são discutidas e incentivadas experiências e conhecimentos em inovação ambiental. Assim, há um forte papel para as universidades e o setor público no estabelecimento de parcerias regionais de pesquisa para inovação ambiental.

Por fim, atividades para apoiar estabelecimento de redes de negócios intensificariam a conectividade entre usuários e provedores de conhecimento.

Sugestões do estudo

O estudo sugere a necessidade de mudar a análise da inovação para uma estrutura conceitual mais ampla do que a
tradicionalmente empregada.

1º. A análise da inovação precisa levar em conta o contexto do lugar em que a inovação está ocorrendo. Portanto, numa região metropolitana, os resultados podem ser diferentes para diferentes partes da cidade.

2º. A noção de um sistema único de inovação regional não é mais suficiente para explicar a complexidade de fatores que interagem em determinados subúrbios. Em vez disso, Martinez-Fernandez e Potts (2008) propõe analisar a intensidade do conhecimento industrial, a dinâmica ambiental e a dinâmica social como diferentes ecossistemas de inovação governados por diferentes regras e expectativas das partes interessadas.

3º. Para examinar os sistemas locais de inovação, é necessário ajustar metodologias e técnicas de medição. Assim, os indicadores padrão não fornecem uma imagem completa. Portanto, novos indicadores, geralmente qualitativos, precisam ser desenvolvidos para avançar na análise dos ecossistemas de inovação.

Quer saber mais? Acesse: Desenvolvimento de um ecossistema de inovação em Cairns na Austrália.

Reference

MARTINEZ‐FERNANDEZ, Cristina; POTTS, Tavis. Innovation at the edges of the metropolis: An analysis of innovation drivers in Sydney’s peripheral suburbs. Housing Policy Debate, v. 19, n. 3, p. 553-572, 2008.

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Guilherme Paraol

Doutorando no PPEGC (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisa com foco em ecossistemas de inovação. Atua nos projetos de mapeamento, ativação e orquestração de ecossistemas de inovação.

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