O que podemos aprender sobre disrupção com a Estónia?
A mais avançada sociedade digital.
Começar um país do zero? Repensar uma economia? Parecem coisas inimagináveis, um pouco utópicas e até sem lógica, sem sentido. Porque alguém faria algo do tipo?
Algum tempo atrás algumas das respostas para essas perguntas podem ser possíveis de responder, claro que com elas vieram questionamentos e reflexões. Assim a história de sucesso de como reinventar estruturas pode ser contada.
Tudo começou após a dissolução da URSS no começo dos anos 90, a Estónia passa a ser um país independente.Inserida no contexto de ter um país pouco desenvolvido, com poucos recursos e uma população consideravelmente pequena deviam achar uma forma diferente de continuar em frente. Coincidentemente a internet estava começando a dar os primeiros grandes passos da sua história.
É nesse momento que os líderes estonianos decidiram investir na revolução digital e começar com a construção do que eles chamaram de uma e-Society.
Logicamente o primeiro passo para isto deveria ser educar as pessoas com o conceito e ferramentas digitais. Começaram com o projeto Tiigrihüp, o qual consistia em instalar computadores com acesso à internet em todas as escolas do país, com o objetivo de colocar os estonianos online de forma rápida e consistente. Isto levou a que no final dos anos 90 todas as escolas na Estónia fossem online. Para acelerar ainda mais o processo de digitalização da sociedade, no ano 2000, Estónia foi o primeiro país no mundo em declarar o acesso à internet como direito humano básico.
Uma vez consolidada a relação das pessoas com o mundo digital Estónia teve uma série de projetos e implementações de serviços durante os últimos 20 anos. Começando com o e-Governance em 1997 o qual é a estratégia traçada até 2020 pelo governo estoniano para a construção de uma sociedade digital. Consequentemente vieram outros projetos de grande sucesso como: e-Tax, X-Road, Digital ID, i-Voting, Public safety, Blockchain, e-Health, e-Residency.
Parece ser uma simples mudança digital de serviços e produtos, mas por trás de tudo isso existe uma mudança cultural e educacional incrível. Pensar que crianças começam seus estudos de especialidade computacional no primeiro ano de escola e logo no segundo ano são introduzidos conceitos e conteúdos de robótica e Mobile Learning. Permitindo preparar as crianças para uma sociedade altamente adaptada com velocidade e troca de informações que existe no mundo globalizado e digital da atualidade.
As mudanças na educação são a base para qualquer outro tipo de mudança social. Elas começam uma cadeia de estímulos que no futuro são coletados com mudanças culturais profundamente arraigadas no dia a dia das pessoas. Um dos frutos que se pode ressaltar dessas mudanças culturais e consequentemente inovadoras é a dos negócios. Atualmente esse ramo da sociedade estoniana é conduzido por incentivos governamentais para ultrapassar fronteiras. É por causa disto que empresas como Skype ou Grabcad estão sendo fundadas na Estónia. Empresas que não estão pensando só em tecnologia e inovação, mas também levam consigo o slogan “Think globally, Act locally”.
Para que slogans e estímulos como esses tenham conseguido ter sucesso o governo cumpriu de forma excepcional seu papel de facilitador e líder de desenvolvimento social. Assim como cada um dos projetos anteriormente citados foram todos voltados para simplificar e melhorar a vida dos cidadãos estonianos, o governo também atuou em prol do setor empresarial. Redefiniram o que, até agora, é considerado como governo, simplificando vidas e negócios.
E é nesse ponto que é preciso prestar muita atenção. A tecnologia cumpre um papel importantíssimo mas ela é só um ingrediente da receita. A vontade e honestidade política gerando reformas que ofereçam melhores serviços para a sociedade como um todo. É assim no estado estoniano que praticamente todos os serviços oferecidos são executados de forma online. Isto não só reduz a probabilidade de existir burocracia no meio dos processos, assim como também acelera os mesmos. Declarar impostos é tão simples quanto escovar os dentes, demorando 3 minutos.
A Estónia é o único e primeiro país no mundo que introduziu o voto eletrônico. Um ato real de democratizar um processo. Democratizar a escolha de onde o cidadão que votar. Isso claro, só é possível graças a seu sistema de identidade digital, Digital ID.
Todos esses serviços mostram um caminho para não desperdiçar aquilo que é o mais valioso no mundo moderno, tempo ou dinheiro. Estónia estima economizar 2% do GDP simplesmente permitindo o uso de assinaturas digitais. E não fica só por aí, o impacto ambiental é imenso. Mensalmente se economiza uma torre de papel empilhado que seria comparável com a altura da torre Eiffel. Mas a pergunta que sempre se faz é, “ isso realmente pode garantir segurança?”. Bom, absolutamente todo movimento de qualquer dado deixa uma marca com informações como, quem teve acesso àquela informação, para que foi usado, o momento no qual foi usado, etc. Com isso é possível solicitar explicação precisa sobre o uso dos dados particulares ou públicos para cada entidade responsável ou interventora do processo.
Estónia está demonstrando para o mundo inteiro que a disrupção não é um privilégio de empresas ou de pessoas superdotadas. O governo, estado estoniano, está conseguindo derrubar barreiras e diferenças entre setores da sociedade. Integrando estado, setor privado, educativo, legal, social e todos os outros stakeholders envolvidos. Estónia conseguiu equilibrar e levar para frente uma sociedade altamente conectada e altamente eficiente.
Agora o país está apostando pela globalização e expansão de fronteiras. Desde 2013 oferecem a residência digital, e-Residency. O que é uma forma legal de ser residente estoniano sem importar o lugar do mundo no qual você se encontrar. Aqui vemos mais uma vez uma aposta extremamente ambiciosa. Dados como: 40% da força laboral estadunidense será de freelancers em 2020 e 100 milhões de novos trabalhadores digitais até 2020, incentivam a expansão das fronteiras apostando por uma expansão econômica nunca antes vista.
E essa expansão tem atraído mais 13.000 e-Residents desde que o programa começou em 2013. Assim o grandioso posicionamento econômico que Estónia tem tido a coloca em diversas posições de privilégio, levando-a liderar em Business Forums, assim como a nível continental presidindo o conselho da União Europeia.
Mesmo assim Estónia não se conforma com esse prestígio, eles possuem um dos melhores modelos de atração de talentos e novos negócios no mundo. Desde turismo tradicional até um turismo mais especializado, Estónia promove programas baixo a marca de Visit Estonia.
Enfim, após uma longa lista de só alguns dos detalhes, informações e dados que a sociedade estoniana oferece para o mundo é possível se perguntar: porque pensar em mudanças como essas parece ser tão difícil para os países. Será que realmente somos tão diferentes?
Mas indo além de simples questionamentos, pode-se dizer que as sociedades são ricas porém mal distribuídas, com país com vastos recursos que infelizmente são mal explorados, pessoas que preferem defender unicamente seus interesses pessoais antes de criar soluções reais que possam contribuir para mudanças culturais necessárias. Há medo da mudança?
Post de David Benalcázar Chang
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