Relato sistêmico sobre sistemas de inovação regional
Sistemas de inovação pelo autor Philip Cooke!
Nesta sexta o Grupo VIA realizou o Grupo de Estudos para discutir sobre sistema de inovação. Dentre os artigos analisados teve-se o Regional Innovation Systems, Clusters, and the Knowledge Economy. Publicado em 2001, o artigo traz um relato sistêmico do autor Philip Cooke.
Dividido em quarto seções de desenvolvimento, o artigo aborda sistema regional de inovação, como a inovação desenvolve-se dentro dele e a importância de agentes condutores. Além disso, ele ainda diferencia os sistemas real do conceitual e comenta sobre a clusterização presente nos sistemas reais. Logo após, também se comenta sobre os ambientes e características que favorecem o sistema regional de inovação, e como este se modifica com o surgimento da nova economia.
Gostaria de saber o conceito de sistema de inovação?
Lineaments of Regional Systems – Thinking about Innovation
Impulsionadores da inovação
Nesta seção o autor discorre sobre alguns aspectos do processo de inovação dentro dos sistemas de inovação. Ele faz isso citando o exemplo da empresa norte-americana de biotecnologia, Genzyme. Esta desenvolveu um medicamento para combate dos sintomas da doença de Gaucher, permitindo que os pacientes sigam suas vidas normalmente. Como este tratamento custa metade do valor da hospitalização por um ano, as seguradoras podem ser consideradas impulsionadoras desta inovação. Isso acontece, pela vantagem econômica das seguradoras quando optam pelo tratamento.
O autor ainda compara esta situação com o cenário encontrado na Europa, na época. O segundo menor continente do mundo não possuía tais agentes no seu processo de inovação. Isto acarreta no efeito oposto ao caso da Genzyme. No Reino Unido, por exemplo, os custos dos medicamentos eram usados como justificativa para não ofertar tratamento inovador à gripe.
Incentivos à inovação
O autor discorre sobre o incentivo dado às empresas para pesquisar doenças de pouca incidência, mas com altos retornos. Fala-se que são incentivadas pesquisas em doenças de minorias, ao invés de pesquisa outras doenças mais comuns na população. Ele percebe que isto pode ser tido como ruim. Porém, dados os custos da pesquisa biotecnológica, considera difícil ter outro modelo de mercado para inovação neste setor. Alinhado a este modelo, reconhece o sistema de inovação de biotecnologia de Boston como um dos principais do mundo. Nele estão cerca de 280 empresas agrupadas do setor. Elas contam com a colaboração de representantes locais e da Food & Drug Administration ($FDA), agência reguladora da saúde norte-americana. Philip ainda destaca a importância da localização deste sistema, no sentido de facilitar estas interações institucionais e organizacionais.
Ingrediente X
Na mesma seção, o autor ainda aborda comparativamente os casos da região alemã, Baden-Württemberg, com o País de Gales. Apesar de ambos possuírem estrutura industrial comparável, eles diferenciam-se no ciclo de vida regional em que se encontram. Baden-Württemberg ainda se encontrava, na data do artigo, próspera e inovadora. No mesmo período, o País de Gales havia atingido a maturidade, tornando-se o que foi denominado como “fábricas de filiais”. Desta comparação, Cooke ainda exprime como ingrediente especial a clusterização industrial que é vista nas regiões.
The Conceptual System and the Real System
Conceitualmente, a classificação de um sistema de inovação é dicotômica, de forma que ele é um sistema, ou não é. Quando nos deparamos com a realidade percebemos, que ele pode possuir diferentes níveis sistêmicos. Neste sentido, o autor dedica a segunda seção a fazer a diferenciação dos sistemas conceitual e do real.
Nesta seção, cita-se a pesquisa para delineamento de sistemas conceituais, que considera cinco conceitos-chave: região, inovação, netwoking, aprendizagem e interação. A pesquisa foi conduzida na Europa, em regiões distintas em termo de inovação. O autor elucida tais conceitos-chave com os exemplos da televisão interativa e da Mercedes, ambas alemãs. O primeiro caso mostra o fracasso em “criar” uma nova rede regional de mídia, devido à falta de inclusão das pequenas e médias empresas no processo. Já do segundo caso, extrai-se que interações entre empresas e instituições podem ocorrer de forma ágil devido à presença regional de diversos atores-chave. Isso se dá pois eles já estavam familiarizados com as reputações e capacidades dos demais atores
Ainda relacionado ao segundo exemplo, Cooke discorre sobre o cenário do País de Gales naquela época. Comenta-se a forte presença do Estado nos setores em declínio. Neles, a agência de desenvolvimento Galês utilizou uma estratégia de visar o Japão em vez dos EUA. Com isto, atraiu cerca de 60 empresas japonesas e de outras empresas do sudeste asiático, desde 1975. Posteriormente, percebendo lacunas na supply-chain, a agência buscou persuadir empresas de fornecimento a se instalarem no que estavam tornando-se clusters. Ela também procurou por pequenas divisões de P&D e transferiu a pesquisa para as universidades. Apesar dos esforços, o mercado do País de Gales ainda falhou. Segundo o autor o problema Galês foi escassez de empresas de porte médio. Como resultado, teve-se a falta de produção e investimento em negócios orientados para o futuro.
Conforme o autor, há muitos casos semelhantes ao do País de Gales. Para isto, apoia-se em uma pesquisa realizada em 11 regiões na União Europeia, na Europa Oriental e na Central. Em síntese, a pesquisa analisou os sistemas de inovação regional existentes, e apenas quatro foram considerados bons candidatos. Ademais, outras poucas regiões foram consideradas com potencial para desenvolvimento de sistema de inovação. Assim sendo, Philip conclui uma lição que o Oriente pode aprender do Ocidente. Conforme ele, o Ocidentes deve buscar desenvolver sistemas de inovação que promovam o desenvolvimento de setores imaturos. Pois estes têm grandes possibilidades de desenvolvimento.
Não confunda sistema com ecossistema de inovação!
Conditions and Criteria for Regional Innovation Systems
Nesta seção, Philip cita sua pesquisa sobre os critérios desejáveis que podem proporcionar um alto ou baixo potencial para desenvolvimento de um sistema de inovação regional. Assim, estas questões se dividem em infra e superestruturais. Desse modo, a primeira categoria diz a respeito a competência financeira da região, e a segunda sobre a mentalidades, ou cultura, dos atores regionais. Em resumo, no quadro abaixo encontram-se as as questões relacionadas com alto ou baixo potencial de sistema de inovação regional.
Atrelado as questões superestruturais, e tido como uma das principais razões para o melhor desempenho em inovação de uma dada região, tem-se o grau de imersão. Posto que, tais questões revelam o grau em que uma comunidade opera em termos de normas compartilhadas de cooperação, interação confiável e ‘interdependências não negociadas’. Cooke cita o exemplo do Vale do Silício que tinha maior grau de imersão que a Rota 128, em Boston.
Problems with Public Regional Innovation Systems
Inegavelmente, a nova economia trouxe com ela novas regras e configurações em relação a economia antiga. Dessa forma, criaram-se ambientes altamente inovadores, resultando em um tipo especial de sistema de inovação, o que Philip chama de “sistema de inovação da nova economia”. De fato, as principais diferenças entre eles são em relação ao modelo de inovação, a atitude financista, as parcerias, e ao foco do sistema de inovação. Em seguida pode-se ver a tabela que identifica os aspectos que diferenciam ambos os sistemas.
O autor ainda destaca que nos sistemas de inovação da nova economia, percebe-se que os clusters, embora ainda não estejam adequadamente formados, desenvolvem-se principalmente em torno de universidades ou centros de conhecimento criativo, como estúdios de cinema. Isso porque a aprendizagem é a atração central da nova economia, onde o capital do conhecimento pode ter um valor que cresce rapidamente.
Conclusões
Como resultado do artigo, o autor percebe que no ano 2000 a inovação sistêmica passou a ser um recurso-chave para a comunidade de capital de risco no Estados Unidos, o que aconteceu mais recentemente na Europa. Anteriormente a isso, as regiões europeias apoiavam-se em agentes do governo de diferentes níveis, nem sempre adequadamente. Por isso, o autor conclui que os sistemas públicos de inovação não são competitivos em comparação com os sistemas privados, como os que operam nos Estados Unidos. Assim, atrela-se isto a política que, como no caso da Europa, falha em estimular o crescimento de fortes organizações privadas de investimento. Conforme Cooke, estas devem ser estimuladas a serem mais proativas do que o sistema público mostrou ser capaz de ser, incentivando-as por meio da obtenção de lucro.
Assim sendo, o autor sugere que a Europa pode inspirar-se nos EUA, que realiza iniciativas de apoio como a SBIR ($Small Business Innovation Research), valiosa para pesquisas em estado inicial. Isto deve ser realizado com o fim de redesenhar a política de inovação na Europa, a fim de fim aproximar os desempenhos inovadores destas duas economias concorrentes.
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Referência
COOKE, Philip. Regional innovation systems, clusters, and the knowledge economy. Industrial and corporate change, v. 10, n. 4, p. 945-974, 2001.
André Borba Mondo
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