Uma revisão sobre o conceito de ecossistema e suas perspectivas
As várias perspectivas sobre ecossistema
Hoje no blog, o artigo em discussão é do autor Tsujimoto et al. (2018) que fez uma revisão do conceito de ecossistema. Como resultado de seu trabalho, o autor analisa 4 perspectivas do conceito encontradas na literatura. Por fim, prôpõe uma definição coerente de ecossistema.
Tsujimoto et al. (2018) considera que há quatro grandes correntes de pesquisa sobre ecossistemas, a perspectiva da ecologia industrial; a perspectiva do ecossistema de negócios; a perspectiva de gerenciamento de plataforma; e, a perspectiva da rede multi-ator (MNP).
Além disso, o significado essencial do conceito de ecossistema está em cinco pontos:
- Primeiro, o conceito de ecossistema analisa as redes orgânicas, baseadas em seus aspectos positivos, negativos e competitivos.
- Em segundo lugar, cada ator possui atributos, princípios de tomada de decisão e objetivos diferentes. Essas diferenças podem causar resultados não intencionais no nível do ecossistema.
- Terceiro, a fronteira analítica do ecossistema é o sistema produto ou serviço. Portanto, não é limitado por fronteiras nacionais, clusters regionais, relações contratuais e/ou provedores complementares. Dessa forma, dentro do ecossistema, estão inclusos os atores de negócios e também não comerciais.
- Quarto, a análise dos ecossistemas requer uma observação longitudinal da evolução dinâmica do sistema produto ou serviço.
- Por fim, o quinto ponto é que os objetivos da pesquisa ecossistêmica são encontrar padrões de decisão e cadeias comportamentais que afetam fortemente o crescimento e o declínio do ecossistema sob condições específicas.
A natureza de cada perspectiva é descrita nas seções seguintes (TSUJIMOTO et al.,2018).
A perspectiva da ecologia industrial (IEP)
A primeira perspectiva é refletida em pesquisas baseadas no conceito do ecossistema industrial. Tal perspectiva considera uma analogia ao ecossistema natural para a compreensão e transformação do sistema industrial. Definido por Frosch e Gallopoulos (1989), o modelo tradicional de atividade industrial (processos individuais de produção absorvem matéria-prima e geram produtos para serem vendidos mais resíduos a serem descartados), deveria ser transformado em um modelo mais integrado: um ecossistema industrial.
A perspectiva do ecossistema de negócios (BEP)
A segunda e a terceira perspectivas apresentam principalmente atores de negócios. Assim, concentram-se no contexto de negócios e definem a captura de valor e/ou a criação de valor como variáveis centrais. O objetivo da pesquisa nesse fluxo é revelar a dinâmica e os padrões dos ecossistemas e do comportamento organizacional. Já escrevemos um post sobre ecossistema de negócios que você encontra aqui.
Inseridas nesta perspectiva, existem cinco tipos diferentes de ecossistemas: (1) ecossistemas digitais; (2) ecossistemas complementares (sub-indústria); (3) ecossistemas fornecedores; (4) ecossistemas do grupo empresarial; e (5) ecossistemas de redes humanas profissionais globais.
Assim, a definição de ecossistema de negócios varia de acordo com cada tipo de ecossistema. Portanto, os pesquisadores concentraram-se em redes de empresas e analisam os mecanismos por trás das redes.
A perspectiva de gerenciamento de plataforma
No ecossistema de negócios, há estudiosos influentes que enfatizam a importância do gerenciamento de plataformas e analisam o mecanismo do dinamismo da plataforma. Portanto, Tsujimoto et al. (2018) criaram uma terceira perspectiva.
O conceito de gerenciamento de plataforma pode ser entendido da seguinte maneira:
“Definimos plataformas internas (empresa ou produto) como um conjunto de ativos organizados em uma estrutura comum a partir da qual uma empresa pode desenvolver e produzir com eficiência um fluxo de produtos derivados. Definimos plataformas externas (da indústria) como produtos, serviços ou tecnologias que funcionam como uma base sobre a qual os inovadores externos, organizados como um ecossistema de negócios inovador, podem desenvolver seus próprios produtos, tecnologias ou serviços complementares ”(GAWER; CUSUMANO, 2014 ).
Da mesma forma que, quase todos os estudos empíricos investigam a indústria de TI. De fato, a estratégia da plataforma é observada de forma particularmente clara na indústria de TI, devido às características tecnológicas de alta modularidade. No entanto, o fenômeno da plataforma em si é aplicável a outras indústrias de acordo com a convergência industrial.
A perspectiva da rede multi-ator
Esse ponto de vista foi ampliado para incluir vários atores (empreendedores e investidores privados, inovadores que estão fora dos canais da empresa, usuários/comunidades de usuários, burocratas governamentais / formuladores de políticas e consórcios). Enquanto o ecossistema de negócio e de plataforma se concentram nas complexas redes e relacionamentos de empresas privadas, a rede multi-ator analisa as redes dinâmicas entre atores com diferentes atributos de empresas privadas.
Além disso, o paradigma da inovação aberta e do modelo de negócio aberto também auxilia no desenvolvimento do conceito do ecossistema. Por exemplo, trabalhos nessa área analisam fenômenos que estão longe do equilíbrio e da linearidade. como, a mudança de fronteiras industriais, novas formas de rede, setores emergentes e ecossistemas voláteis.
As direções de expansão da rede de atores são diversas. Assim, existem cinco campos nos quais as análises de ecossistemas estão se expandindo: (1) empresários/investidores privados; (2) inovadores que estão fora dos dutos da empresa; (3) usuários/comunidades de usuários; (4) burocratas governamentais/decisores políticos; e (5) consórcios.
Um modelo integrado
Apartir das perspectivas elencadas anteriormente, Tsujimoto et al. (2018) criou um modelo integrado. Dessa forma, salienta que o modelo integrado ajudará os designers e os gerentes a orquestrar o ecossistema.
Esta integração foi realizada considerando que a perspectiva da ecologia industrial trabalha na camada de hardware. Por sua vez, a perspectiva do ecossistema de negócios fornece a análise do relacionamento entre os atores da cadeia de fornecimento, concorrentes e complementadores. Já, a perspectiva de gerenciamento de plataforma se concentra nos mecanismos da plataforma em cada camada. Ademais, a perspectiva da rede multi-ator expandiu o limite da análise para incluir outros atores. Estes, são formuladores de políticas, consórcios, inovadores, empreendedores, investidores privados e comunidades de usuários.
A rede multi-ator não é estática, mas dinâmica. Portanto, a rede muda a cada momento. Dessa forma, o objetivo dessa abordagem ecossistêmica é esclarecer o mecanismo de mudança dinâmica da rede de múltiplos atores e encontrar os padrões específicos de evolução e extinção. Assim, quando há compreensão do mecanismo, pode-se projetar e gerenciar o ecossistema estrategicamente. A figura 1 apresenta esse modelo integrado.
Além disso, Tsujimoto et al. (2018) propôs uma definição original para criar uma base firme para a teoria dos ecossistemas e o conceito de um ecossistema coerente.
Definição e conceito de um ecossistema coerente
Tsujimoto et al. (2018) menciona que a decisão e o comportamento de um ator afeta as decisões e comportamentos dos outros atores. Dessa forma, esses comportamentos dinâmicos realizam a expansão ou o declínio do ecossistema. Além do mais, os atores se conectam por meio de vários relacionamentos: fluxos de recursos, contratos, confiança e visão compartilhada.
A partir disso, o autor define o objetivo do ecossistema no campo da gestão de tecnologia e inovação da seguinte forma:
“ Para fornecer um sistema de produto/serviço, uma rede social multicamadas historicamente auto organizada ou gerencialmente projetada consiste em atores que possuem diferentes atributos, princípios de decisão e crenças. “
Dessa forma, esta definição implica cinco pontos de vista. Primeiro, o termo “historicamente” indica o requisito de um período longitudinal de coleta de dados. Em segundo lugar, o termo “auto organizado” sugere que um ecossistema é um sistema complexo. Terceiro, a questão de “multicamadas” significa que existem níveis hierárquicos e/ou camadas separadas no ecossistema. Quarto, “rede social” implica que os relacionamentos entre os atores não estão confinados ao contexto de negócios. Por exemplo, panelinhas, regulamentos e religiões podem ser variáveis subjacentes aos relacionamentos. Quinto, e mais importante, “os atores têm diferentes atributos, princípios de decisão e crenças”.
Por fim, Tsujimoto et al. (2018) revela que para projetar e gerenciar o ecossistema o conceito chave é coerência. Dessa forma, a coerência do ecossistema significa: “a proporção dos atores cujo comportamento é naturalmente adequado aos seus princípios de decisão em um ecossistema. ”
Por exemplo, os burocratas estão entre os atores mais importantes na análise de ecossistemas. Uma vez que afetam os outros atores por meio do uso de regulamentos e comportamento não oficial. Assim, ONGs, associações sem fins lucrativos, consórcios e comunidades de usuários podem afetar todos os outros atores do ecossistema.
Portanto, pode-se medir o nível de coerência verificando a proporção de atores cujo princípio de tomada de decisão se encaixa no requisito do ecossistema.
Significado do conceito de ecossistema
Portanto, o conceito de ecossistema pode ser entendido como uma rede complexa de atores. Dessa forma, cada ator possui atributos diferentes. Assim, o princípio de tomada de decisão significa que o mecanismo e a prioridade da decisão podem ser muito diferentes entre os atores do ecossistema. Por exemplo, as prioridades de decisão dos formuladores de políticas são segurança nacional e desenvolvimento em macroeconomia. No entanto, no mesmo ecossistema, a prioridade das empresas privadas é, ao mesmo tempo, seus lucros. Então, todos os atores se comportam sob seus próprios princípios de racionalidade e decisão (TSUJIMOTO et al., 2018).
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Referências
FROSCH, Robert A.; GALLOPOULOS, Nicholas E. Strategies for manufacturing. Scientific American, v. 261, n. 3, p. 144-152, 1989.
GAWER, Annabelle; CUSUMANO, Michael A. Industry platforms and ecosystem innovation. Journal of product innovation management, v. 31, n. 3, p. 417-433, 2014.
TSUJIMOTO, Masaharu et al. A review of the ecosystem concept—Towards coherent ecosystem design. Technological Forecasting and Social Change, v. 136, p. 49-58, 2018.
Guilherme Paraol
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