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Transformando regiões em ecossistemas de inovação

Um modelo para ecossistemas de inovação

Olá, no post de hoje descrevo como superar crises estruturais regionais, transformando regiões em ecossistemas de inovação. Para tanto, utilizo o estudo de Kaisa Oksanen e Antti Hautamaki, pesquisadores finlandeses que estudaram a cidade de Jyvaskyla. Esta pequena cidade industrial encontra-se na região da Finlândia Central. Em 2009, a região sofreu uma crise econômica quando o fabricante de dispositivos móveis Nokia fechou seu centro de pesquisa. A partir disso, Oksanen e Hautamaki (2014) criaram um modelo para a construção de ecossistemas de inovação em regiões industriais. Este modelo consiste em diálogo autêntico, cooperação com a tríplice helice, organização principal e estudos futuros.

Assim, o artigo mostra como as inovações exigem um ecossistema especial onde surgem inovações quando diferentes atores colaboram e co-criam. Dessa forma, os resultados do estudo são relevantes para muitas cidades e regiões pequenas, especialmente aquelas com forte histórico industrial. Onde, o verdadeiro desafio é como transformar suas economias em economias de inovação. Portanto, a pesquisa apoia a criação de ecossistemas de inovação de classe mundial por meio de uma cooperação profunda entre atores locais, regionais e nacionais.

O centro de inovação da Finlândia Central

A economia da Finlândia central tem suas raízes nas indústrias de celulose, papel e metal. Assim como, na economia finlandesa como um todo, a indústria de produtos florestais é o recurso mais valioso e renovável da região. Por outro lado, a indústria do metal se tornou importante durante e após a Segunda Guerra Mundial. Por exemplo, lá foram montados em 1951 os primeiros tratores Valmet.

O foco da economia da região mudou ao longo de sua história, de serrarias à papel, papelão e máquinas; de máquinas de papel e armas à tratores e eletrônicos; da pólvora à indústria química. Além disso, a Universidade de Jyvaskyla (fundada em 1863) tem sido uma das forças motrizes do crescimento, atraindo estudantes e recursos de qualidade para a região. Assim, os serviços educacionais sempre estiveram no centro da economia.

Posteriormente, o domínio da Nokia na capacidade de inovação da Finlândia foi impressionante. Assim, em 2002, a empresa foi responsável por cerca de 40% do total de gastos em pesquisa e desenvolvimento no país. Desse modo, um Centro de Pesquisa Nokia foi estabelecido no final dos anos 90 na cidade de Jyvaskyla. Esta mudança ajudou a região a se tornar mais inovadora. Oksanen e Hautamaki (2014) destacam que esta mudanaça se baseia no conhecimento e na capacidade de renovação. E, não mais mais em características geográficas naturais, como florestas.

Crise na indústria

Mesmo um país inovador como a Finlândia enfrenta crises industriais. Por exemplo, em 2009-2010, a região da Finlândia Central e seus 260.000 habitantes passaram por uma ampla crise estrutural. Após a profunda recessão da década de 1990, a estratégia de desenvolvimento da região se concentrou fortemente na expertise em TIC. Assim, como resultado, Jyvaskyla, a maior cidade da região com 80.000 habitantes, tornou-se um dos mais importantes centros de crescimento de tecnologia da informação na Finlândia. Ademais, o estabelecimento de um Centro de Pesquisa Nokia em Jyvaskyla, no final dos anos 90, também fez parte desse processo. Portanto, a região foi marcada como um Centro de Tecnologia Humana. Assim, durante esse período, as indústrias tradicionais de papel e máquinas também foram relativamente fortes.

No entanto, na primavera de 2009, a região de Jyvaskyla enfrentou um novo tipo de mudança estrutural. Dois grandes empregadores, Nokia e Metso Paper, começaram a reduzir suas atividades de pesquisa. A Nokia fechou sua unidade de P&D em Jyvaskyla, deixando mais de 300 profissionais e pesquisadores altamente qualificados desempregados. No total, a região perdeu cerca de 1000 empregos intensivos em conhecimento em um curto período. Ao mesmo tempo, outros processos de mudança estrutural estavam ocorrendo no setor público.

Desse modo, como meio de superar essa crise, foram criados centros regionais de expertise e clusters de competências por volta de 2007. Assim, estimulou uma maior experimentação intersetorial e novas colaborações em projetos. Ademais, outra mudança significativa foi uma recomendação pública às economias e sistemas de inovação em nível local e regional. O resultado foi a construção de um centro regional de inovação.

A partir desse cenário, Oksanen e Hautamaki (2014) elaboraram seu estudo de caso, com foco no gerenciamento da mudança. Assim, demonstraram como uma região finlandesa superou sua crise estrutural em 2009-2010.

Um modelo para transformar regiões em ecossistemas de inovação

Como supracitado, Oksanen e Hautamaki (2014) criaram um modelo sistêmico para a construção de ecossistemas de inovação. O modelo é baseado em estudos e experiências na região de Jyvaskyla. A figura 1 resume a metodologia.

Figura 1: Modelo para criação de ecossistemas de inovação. Fonte: Oksanen e Hautamaki (2014)

Os exercícios empíricos na Finlândia Central forneceram material exclusivo para o desenvolvimento da metodologia. No entanto, o modelo em si é geral – não está vinculado a nenhum país, região ou cidade específica. Como apresentado, o modelo consiste em quatro elementos importantes. Assim, o modelo é baseado em recursos relevantes, que envolve a colaboração da tríplice hélice. Segundo, coordenação e implementação, que discorre sobre a gestão dos processos. Terceiro, escolhas estratégicas e visão, onde entram os estudos futuros. Quarto, consenso e comprometimento, que diz respeito ao diálogo aberto, inclusive com os cidadãos.

Elementos do modelo para construção de ecossistema de inovação

Os elementos do modelo são baseados na cooperação da tríplice hélice, no método de diálogo autêntico e no conceito de organização central.

Primeiro, no modelo de tríplice hélice, as universidades e outras instituições intensivas em conhecimento criam novos conhecimentos e constroem o espaço de conhecimento. Já a indústria e os negócios utilizam esse novo conhecimento e desenvolvem o espaço da inovação. Por sua vez, o setor público atua como facilitador do ambiente de inovação. Assim, este processo reúne diferentes atores para debater, discutir e avaliar propostas. Nesse ínterim, a cooperação entre diferentes atores geralmente é informal. No entanto, a colaboração à longo prazo requer acordos e esforços financeiros compartilhados. Isso, inclui a participação de usuários ou cidadãos.

Segundo, a atividade de inovação é influenciada por vários atores e seus interesses. Enquanto que, as formas tradicionais de tomada de decisão e planejamento dão lugar a ações mais colaborativas. O método básico para a racionalidade colaborativa é o diálogo aberto, no qual os atores são capazes de expressar suas opiniões. Ademais, situações informais e a participação do cidadão em processos estratégicos dentro de diferentes sistemas.

Terceiro, formular a organização principal é uma das etapas cruciais no processo de construção do ecossistema. Assim, no modelo de triplice hélice, é formulado por meio do desenvolvimento de um espaço de consenso, uma plataforma física ou virtual de cooperação. Assim, este espaço reúne os atores para discutir, avaliar riscos e promover o que as organizações individuais não seriam capazes de alcançar sozinhas.

Estudos Futuros

Finalmente, estudos futuros fornecem ao ecossistema de inovação a capacidade de lidar com um mundo em rápida mudança. Assim, são usados ​​para coletar conhecimento sobre o futuro e analisá-lo criticamente. Para então, sintetizando um futuro desejável. Essa prática auxilia na preparação para possíveis mudanças. Portanto, uma visão comum é importante porque todos os atores do ecossistema de inovação devem ver que seu sucesso está vinculado ao sucesso de todo o sistema.

Na prática, a pesquisa consiste em vários métodos de pesquisa. Especialmente em projetos pioneiros, os resultados da pesquisa devem ser fornecidos aos operadores já durante o processo de pesquisa. Além disso, a chave não são os métodos, mas um processo de várias etapas. Essas etapas são: identificação, interpretação e ação.

Conclusões

Oksanen e Hautamaki (2014) concluem que o desenvolvimento de hubs e ecossistemas de inovação é racionalizado por dois motivos.

Primeiro, os centros de inovação como locais especializados de conhecimento e negócios produzem valor para redes globais. Segundo, a construção de polos de inovação é apresentada como uma possível resposta a mudanças e crises estruturais regionais.

A metodologia de desenvolvimento de tais ambientes é produzida a partir de quatro conceitos e medidas de desenvolvimento que precisam ser atualizados sistematicamente.

1º É necessário um diálogo aberto para formar visões e objetivos comuns.

2º A colaboração profunda e de longo prazo entre universidades, indústria e governo atua como um modelo básico de cooperação e acordos regionais.

Estudos futuros ajudam os atores a orientar mudanças, reconhecer seus próprios pontos fortes e fazer escolhas estratégicas.

4º A organização principal é responsável pelo planejamento e implementação das medidas necessárias, coordenação do projeto e promoção do diálogo.

Assim, todos os quatro componentes devem ser desenvolvidos sistematicamente. É especialmente importante fazer com que todos os interessados ​​e atores dentro do centro de inovação se comprometam com uma visão comum.

Referências

OKSANEN, K.; HAUTAMÄKI, A. Transforming regions into innovation ecosystems: A model for renewing local industrial structures. The Innovation Journal: The Public Sector Innovation Journal, Vol. 19 (2), article 5. 2014.

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Guilherme Paraol

Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisas com foco em ecossistemas de inovação. Atua em diversos projetos de inovação.