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O que são sistemas de inovação?

Este post tem como objetivo apresentar os principais conceitos sobre sistemas de inovação. Portanto, são abordadas as definições de suas diferentes categorias: sistema nacional de inovação, sistema regional de inovação e sistema setorial de inovação. Ademais, os sistemas de inovação se desenvolveram a partir da década de 80, e desde então, tem orientado a política de inovação na maioria dos países do mundo.

Sistemas de inovação

A princípio, até a década de 60, a inovação não recebia a devida atenção como tema de pesquisa. Por exemplo, Schumpeter que desenvolveu teorias sobre desenvolvimento econômico não trabalhou em profundidade a questão. Assim, até este período, a inovação era tratada sob uma visão clássica, conhecida como o modelo linear de inovação. Ao passo que, isso significava que a inovação era desenvolvida por meio de processos sucessivos e independentes de pesquisa básica, aplicada, desenvolvimento, produção e difusão (CASSIOLATO; LATRES, 2005), bem como, realizada de forma isolada pelas empresas.

Todavia, este cenário começou a se modificar a partir dos anos 60, quando estudos empíricos avançaram sobre o significado da inovação. Ao passo que, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) criou um projeto sobre Ciência, Tecnologia e Competitividade. Em suma, o tema do projeto era a inovação como chave para a competitividade numa economia do conhecimento (ASHEIM; GRILLITSCH; TRIPPL, 2015).

Como resultado, no início da década de 80, o grupo da OCDE foi o primeiro a introduzir o termo sistemas de inovação no mundo. Reconhecendo, dessa maneira, o caráter sistêmico da inovação. Assim, participavam do projeto pesquisadores como Christopher Freeman e Richard Nelson, que se tornaram referência no assunto. Como resultado, posteriormente, ambos desenvolveram o conceito de sistema nacional de inovação (CASSIOLATO; LATRES, 2005).

Como resultado do projeto, os estudos serviram para demonstrar que decisões e estratégias tecnológicas são dependentes de fatores muito mais amplos. Por exemplo, são dependentes de setores financeiros, sistemas de educação e organização do trabalho (CASSIOLATO; LATRES, 2005). A concepção da inovação sofreu então uma transição, passou da visão linear para sistêmica.

O conceito

A abordagem de sistemas de inovação reconhece que a inovação normalmente resulta de processos de conhecimento e aprendizagem complexos, interativos e cumulativos, de tal forma que participam diversos atores (ASHEIM; SMITH; OUGHTON, 2011; TANG et al., 2015).

De modo que, o sistema de inovação abrange, assim, as instituições que contribuem para a inovação, contemplando as relações entre centros de pesquisa, universidades e empresas. De fato, reconhece que a inovação vem em múltiplas formas e resulta de interdependências entre uma variedade de atores. Como resultado, esta nova compreensão da inovação teve profundas implicações políticas. Por conseguinte, a política de inovação não deve enfatizar apenas o fortalecimento das capacidades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), mas, deve apoiar a circulação de conhecimentos entre todos os atores envolvidos na geração de conhecimento e inovação (ASHEIM; GRILLITSCH; TRIPPL, 2015).

De fato, uma das principais características dessa abordagem é a ênfase explícita sobre as instituições e as redes de interações. De tal forma que, são elementos fundamentais que moldam a direção e o ritmo de aprendizagem e inovação (HIRST, 1994).

Sistema Nacional de Inovação

O conceito de sistema nacional de inovação (SNI) foi inicialmente definido por Freeman (1987), Lundvall (1992) e Nelson (1993). Como mencionado, Freeman e Nelson participaram do projeto da OCDE que deu origem ao conceito.

De acordo com Freeman (1987) o sistema nacional de inovação é o conjunto de relações exercidas por diversos atores. Assim, estes formam um conjunto de instituições contribuindo para o progresso tecnológico dos Estados. Ao passo que, consequentemente determinam o desenvolvimento socioeconômico.

Do mesmo modo, Lundvall (1992) cita que um sistema nacional de inovação é constituído por elementos e relações que interagem na produção, na difusão, e na utilização de novos conhecimentos economicamente úteis. De acordo com sua visão, o SNI inclui todas as partes e aspectos da estrutura econômica e institucional que afetam o conhecimento. Por exemplo, pesquisa, sistema de produção, sistema de marketing e financeiro.

Para Nelson e Rosenberg (1993) os sistemas de inovação são um conjunto de instituições cujas interações determinam o desempenho inovador das empresas nacionais.

Igualmente, Freeman e Soete (2008), mencionaram que os SNIs são formados pelas diversas interações, analisadas em um sentido amplo, entre agentes públicos e privados que lidam com Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), bem como o ensino e à difusão da tecnologia. Por exemplo, a figura 1 representa o sistema nacional de inovação do Brasil, com suas relações e interações.

Figura 1. Mapa do sistema brasileiro de inovação. Fonte: ANPEI (2014).

Logo após o conceito de sistema nacional de inovação emergir, surgiu o conceito de sistema regional de inovação. Aliás, esta abordagem é apresentada a seguir.

Sistema Regional de Inovação

A partir da década de 90 e início do século XXI, a abordagem de inovação tomou um rumo regional. Assim, a partir de teorias de proximidade geográfica e inovação sistêmica, Cooke em 1992 criou o conceito de sistema regional de innovación (SRI). De modo que, Cooke (1992) definiu SRI como resultado da interação de subsistemas de geração de conhecimento, que abrangem laboratórios de pesquisas públicas e privadas, universidades e faculdades, agências de transferência de tecnologia, organizações de formação profissional e subsistemas de exploração, entendidas como a estrutura da produção regional.

Por sua vez, Doloreux e Parto (2005) consideram um SRI como um conjunto de interesses privados e públicos que interagem por meio de instituições formais e outras organizações que funcionam de acordo com os arranjos e relacionamentos organizacionais e institucionais favoráveis à geração, uso e disseminação do conhecimento.

Do mesmo modo, Laranja, Uyarra e Flanagan (2008), baseados na definição de Cooke, explicitam Sistemas Regionais de Inovação, como um arranjo geograficamente definido, administrativamente apoiado por redes inovadoras, com instituições que interagem com regularidade para melhorar as saídas inovadoras de empresas da região.

Portanto, o SRI leva em consideração as características econômicas e culturais da região, aliadas a proximidade geográfica. Assim, fortalece as interações e conexões dos atores regionais.

Sistema Setorial de Inovação

Os sistemas setorial é um tema mais emergente. De tal forma que, sua principal diferença é o recorte de atuação de seus atores. Assim, o sistema setorial de inovação e produção é definido como um conjunto de produtos novos e estabelecidos para usos específicos e o conjunto de agentes que realizam interações de mercado e não mercantis para a criação, produção e venda desses produtos (MALERBA, 2002).

Só para exemplificar, um sistema setorial de inovação bem estabelecido é do setor de energia. Isto é, este setor possui atores específicos para o desenvolvimento de tecnologia e inovação na sua área de atuação.

Em resumo, sobre o foco dos sistemas de inovação nacional, regional e setorial, pode-se dizer que:

  • O sistema nacional de inovação corresponde aos atores institucionais do país.
  • O sistema regional de inovação corresponde aos atores regionais e suas interações. A proximidade geográfica é uma de suas principais características.
  • O sistema setorial de inovação corresponde as interações entre atores de um setor produtivo específico.

Quer saber mais sobre sistemas de inovação? Consulte nosso artigo sobre sistemas regionais de inovação aqui.

Referências

ANPEI. Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras. Mapa do Sistema Brasileiro de Inovação. Comitê Interação ICT – Empresa. Comitê de Fomento à Inovação. São Paulo, 2014. 33p.

ASHEIM, Bjorn; GRILLITSCH, Markus; TRIPPL, Michaela. Regional Innovation Systems: Past – Presence – Future. Circle: Papers in Innovation Studies, Oslo, v. 36, n. 2015, set. 2015.

ASHEIM, Bjorn; SMITH, Helen Lawton; OUGHTON, Christine. Regional Innovation Systems: Theory, Empirics and Policy. Regional Studies, [s.l.], v. 45, n. 7, p.875-891, jul. 2011.

CASSIOLATO, José Eduardo; LASTRES, Helena Maria Martins. Sistemas de inovação e desenvolvimento: as implicações de política. São Paulo em Perspectiva, [s.l.], v. 19, n. 1, p.34-45, mar. 2005.

COOKE, Philip. Regional innovation systems: competitive regulation in the new Europe. Geoforum, v. 23, n. 3, p. 365-382, 1992.

DOLOREUX, David; PARTO, Saeed. Regional innovation systems: Current discourse and unresolved issues. Technology in Society, v.2, n.27, p.133-153, 2005.

FREEMAN, Christoph; SOETE, Luc. A economia da inovação industrial. Editora da UNICAMP, 2008.

FREEMAN, Christoph. Technology policy and economic performance. Londres: Pinter Publishers London and New York, 1987.

HIRST, Paul. Associative Democracy. Polity, Cambridge, 1994.

LARANJA, Manuel; UYARRA, Elvira; FLANAGAN, Kieron. Policies for science, technology and innovation: Translating rationales into regional policies in a multi-level setting. Research Policy, [s.l.], v.37, n.5, p.823-835, jun. 2008.

LUNDVALL, Bengt-ake. National Systems of Innovation: Towards a Theory of Innovation and Interactive Learning. London: Pinter, 1992.

MALERBA, Franco. Sectoral systems of innovation and production. Research policy, v. 31, n. 2, p. 247-264, 2002.

NELSON, Richard R.; ROSENBERG, Nathan. Technical innovation and national systems. National innovation systems: A comparative analysis, v. 322, 1993.

TANG, Mingfeng et. al. Strengthening regional integration/cooperation with the Neighbourhood System of Innovation conceptual framework: the case of China and ASEAN. Asian Journal of Technology Innovation, [s.l.], v. 23, n. 2, p.205-229, 4 maio 2015.

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Guilherme Paraol

Doutorando no PPEGC (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisa com foco em ecossistemas de inovação. Atua nos projetos de mapeamento, ativação e orquestração de ecossistemas de inovação.