A evolução da incubadora de negócios: comparando propostas de valor entre suas gerações
Pesquisa sobre a evolução das incubadoras de negócios é analisada no grupo de estudos semanal da VIA
Os diferentes habitats de inovação têm se destacado contemporaneamente como grandes promotores de desenvolvimento regional e servido de inspiração para aqueles que desejam transformar suas ideias em empreendimentos, seja no mercado ou em âmbito social (DEPINÉ; STEFANI, 2018). Dentre estes habitats, destaca-se a incubadora de negócios como um importante alavancador do empreendedorismo na comunidade em que se insere. Segundo Hackett e Dilts (2004), a business incubator (BI) ou incubadora de negócios é:
uma instalação compartilhada de escritórios que busca fornecer às incubadas […] um sistema de intervenção estratégico e de valor agregado de monitoramento e assistência aos negócios ”
As BIs são se tornaram ferramentas populares para transformar empreendimentos em empresas prósperas, ou seja, autossustentáveis e que, também, apoiem a comercialização de tecnologia e o desenvolvimento regional (NBIA, 2007).
Para saber mais sobre o conceito leia nosso post: “O que são incubadoras?”
Gerações de BI’s:
A primeira BI foi instalada nos Estados Unidos nos anos 50. Desde lá, a proposta de valor dessas instalações já foi repensada a fim de atender as necessidades específicas dos seus clientes. Desta forma, atualmente, as BI’s podem ser agrupadas em três gerações:
- 1ª Geração – a disponibilização de infraestrutura era o core da proposta destas BI’s (Allen and McCluskey, 1990);
- 2ª Geração – percebendo a falta de business expertise dos incubados, as BI’s expandiram sua proposta de valor, fornecendo além de infraestrutura, serviços internos de apoio aos negócios;
- 3ª Geração – mais recentemente, os valores das redes para novas empresas desencadeou um novo tipo de BI, que inclui o acesso a redes como cerne da sua proposta de valor.
As gerações foram se definindo em função do período histórico pelo qual as BI’s passavam. Assim, a primeira geração foi influenciada pelo período desde a fundação da primeira BI, nos anos 1950s, até os anos 1980s, quando iniciou a a segunda geração. Esta se estendeu até cerca da metade dos anos 1990s, quando percebeu-se as vantagens de prover acesso preferencial dos incubados às redes externar aos BI’s.
Comparando BI’s do norte da Europa ocidental
Bruneel, Ratinho, Clarysse e Groen (2012) afirmam que grande parte da literatura acadêmica negligencia como a evolução da proposta de valor por meio das gerações de BI’s afetou os portfólios de serviços e as práticas de gerenciamento. Desta forma, os autores conduziram um estudo para responder até que ponto as primeiras gerações evoluíram para atender a geração atual e como a proposta de valor de cada uma delas atende seus incubados.
Assim, foram analisadas sete BI’s com a missão de apoiar a criação de novos negócios, de forma que as três gerações fossem abrangidas. As incubadoras analisadas foram as seguintes:
- 1ª Geração – Bedrijfs Technologisch Centrum Twente (NL) e o Technologieförderung Münster (DE);
- 2ª Geração – Erasmus European Business & Innovation Centre (BE) e o Jülich Technologiezentrum (DE);
- 3ª Geração – Chalmers Innovation (Se), a Normandie Incubation (Fr) e o Innovation Center (UK).
Os dados foram coletados tanto com a equipe de gerenciamento da BI quanto com seus incubados. Com isso foi possível analisar o portfólio de serviços oferecidos e a utilização deste, respectivamente.
Resultados da pesquisa de Bruneel, Ratinho, Clarysse e Groen (2012):
Foi confirmada pelos autores a hipótese de existência das gerações de BIs, sendo que a primeira geração estendeu sua proposta de valor adicionando serviços de suporte ao negócio (caracterizando a segunda geração) e acesso a redes (caracterizando a terceira geração) ao seu portfólio.
Eles também constataram que embora os BI’s de todas as gerações ofereçam serviços de suporte semelhantes (sem diferenças significativas entre gerações), os inquilinos em BI’s de geração mais antiga fazem menos uso do portfólio do BI, enquanto os da terceira geração fazem uso total do portfólio.
A sugestão dos autores é que a primeira geração deve atualizar seu portfólio, a fim de que seus incubados o utilizem, ao mesmo tempo que devem impor critérios de seleção mais rigorosos e introduzir políticas de saída, visto que muitos incubados acessavam o BI apenas para pelo preço da infraestrutura e raramente faziam uso dos seus serviços de suporte.
Achados interessantes para os stakeholders de BI:
- É improvável que as BI’s de terceira geração sejam lucrativas porque selecionam empreendimentos nascentes;
- Se nenhuma rotatividade de inquilino adequada for promovida e apoiada por critérios de seleção claros e políticas de saída, os inquilinos não precisarão mais de serviços de apoio da BI;
- Passar de fornecer apenas infraestrutura para oferecer coaching desde que articulados networking acaba sendo um passo muito difícil para os Bis, envolvendo muito mais que extensão do portfólio;
- Os futuros incubados devem avaliar o perfil da BI;
- Formuladores de políticas devem estar mais conscientes de como as medidas das diferentes gerações afetam os incubados.
Estes achados são importantes para gerentes de BI’s, possíveis incubados e, também, formuladores de políticas para as regiões, os quais devem considerá-los na tomada de decisão que envolva estes habitats de inovação.
Para conhecer a 5ª melhor BI do mundo leia nosso post sobre o MIDITEC.
REFERÊNCIAS
BRUNEEL, J. et al. The Evolution of Business Incubators: Comparing demand and supply of business incubation services across different incubator generations. Technovation, v. 32, n. 2, p. 110-121, 2012.
DEPINÉ, Á.; TEIXEIRA, C. S. (Orgs). Habitats de inovação: conceito e prática. São Paulo: Perse. 294p. v.1: il. 2018 1 e-book.
HACKETT, S. M.; DILTS, D. M. A systematic review of business incubation research. The Journal of Technology Transfer, v. 29, n. 1, p. 55-82, 2004.
NBIA. Business incubation: FAQ.
André Borba Mondo
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