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Acadêmicos como orquestradores de ecossistemas de inovação

Os acadêmicos podem desempenhar um papel importante em ecossistemas de inovação contínua

Olá, tudo bem? O tema de hoje discute o papel dos acadêmicos nos ecossistemas de inovação que desenvolvem inovação contínua. Dessa forma, o post é baseado no estudo realizado por Gastaldi et al. (2015). Assim, os autores demonstram porque os acadêmicos estão em uma das melhores posições para orquestrar iniciativas de inovação contínua (IC) em ecossistemas abertos e colaborativos. Portanto, duas justificativas são apresentas para explicar este potencial: (i) independência e, (ii) conformidade com os propósitos do ecossistema de IC.

O cenário da inovação contínua

Gastaldi et al. (2015) revela que três décadas moldaram o cenário de inovação contínua e as condições ambientais em que ocorreram.

Primeira era (década de 1990): o cenário competitivo era caracterizado por sistemas de inovação centralizados voltados para dentro (inovação fechada). Assim, as atividades de colaboração se concentravam, principalmente, na assinatura de acordos com parceiros da cadeia de fornecimento.

Segunda era (2000): abertura progressiva das fronteiras das empresas começou a acontecer, abraçando o que foi definido por Chesbrough (2003) como o paradigma da inovação aberta. Dessa forma, foram adotadas práticas colaborativas de inovação com foco externo. Assim, as empresas começaram a aplicar essa filosofia observando o enorme potencial fora de seus limites.

Terceira era (2010): profunda mutação na paisagem competitiva ocorreu com o nascimento dos Ecossistemas Colaborativos Abertos (ECAs). De fato, estes são baseados em princípios de colaboração integrada, valor compartilhado co-criado, desenvolvimento de ecossistemas de inovação, tecnologias exponenciais desencadeadas, e, adoção extraordinariamente rápida. Dessa forma, também capturam as características dos ecossistemas de rede: o realinhamento contínuo de relacionamentos sinérgicos de pessoas, conhecimento e recursos para a cocriação de valor incremental e transformacional. Assim, a co-criação é uma força essencial em um ecossistema dinâmico de inovação. Portanto, na terceira era, as fronteiras estão constantemente se desfazendo.

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Dessa maneira, Gastaldi et al. (2015) define um ecossistema de IC como uma comunidade de atores interagindo como um sistema único para produzir fluxos interorganizacionais de IC. Assim, este ecossistema exige processos de cooperação e competição simultâneas. Além disso, a orquestração dos atores envolvidos nos esforços interorganizacionais da IC é necessário.

O papel dos acadêmicos como orquestradores do ecossistema

Assim, para se beneficiar do uso de ecossistemas como um meio de promover inovação contínua (por longos períodos de tempo e com uma quantidade considerável de incerteza), a interação contínua entre atores diversos é item obrigatório. Ademais, nesse cenário, os acadêmicos podem desempenhar um papel importante como “orquestradores de ecossistemas de IC”.

A orquestração é definida como o conjunto de ações deliberadas para criar e extrair valor de um ecossistema de IC. Assim, os acadêmicos são importantes nesse processo, porque possuem independência dentro do ecossistema de IC. Além disso, conformidade e exaptação em relação à natureza multifacetada dos propósitos do ecossistema de IC. Portanto, os acadêmicos têm um papel valioso na orquestração dos ecossistemas de IC por causa de sua posição inerentemente neutra.

Dessa maneira, a independência e a liberdade dos acadêmicos colocam-nos na condição de sempre exaptar seus conhecimentos para usos em domínios específicos. Dessa forma, quando incorporados, lidam com múltiplos agentes independentemente do campo em que operam. Assim, na base de tal independência, por meio da exaptação, está a confiança nas interações sociais para coordenar as atividades de um ecossistema, em vez de, suas contrapartes formais (por exemplo, contratos).

Atuação dos acadêmicos no ecossistema

Por exemplo, os acadêmicos, quando confrontados com profissionais para obter algum benefício de intercâmbios, podem ser úteis em oferecer oportunidades para compartilhar conhecimento e experiência. Assim, podem moderar e iniciar discussões colaborativas efetivas sobre experiências individuais. Ademais, encerrar e formalizar o conhecimento gerado por meio de interações entre pares em modelos e framework sistemático. Ainda, orientar e trazer valor às discussões com base em suas diversas bases de conhecimento. Por fim, como mecanismos de coordenação, podem aproveitar a noção de “comunidade de prática” na qual compartilham entendimentos sobre o que estão fazendo e o que isso significa em seus contextos.

Portanto, acadêmicos são eficazes em alavancar as três principais características que caracterizam a aprendizagem em grupo: (i) a amplitude e profundidade da partilha, processo no qual novos conhecimentos, rotinas ou comportamentos se tornam distribuídos entre os membros do grupo; (ii) armazenamento, as mudanças no repertório do grupo precisam ser armazenadas na memória para que o aprendizado persista ao longo do tempo; (iii) recuperação, ou melhor, a capacidade dos membros encontrar e acessar conhecimento para uso posterior. Essa estrutura pode ser definida como o aprendizado do ecossistema de IC. Assim, os acadêmicos são úteis na gestão do conhecimento do ecossistema.

Papel dos acadêmicos na evolução do ecossistema

De fato, a evolução dos ecossistemas está relacionada à evolução de seus participantes. Dessa maneira, os acadêmicos são eficazes em liderar uma transformação nesse cenário por dois motivos. Em primeiro lugar, manifestam o mais alto nível de independência. Assim, são capazes de dimensionar e buscar oportunidades criando um ambiente no qual um equilíbrio delicado entre os diferentes interesses é alcançado.

Em segundo lugar, realizam análises aprofundadas da literatura e estão expostos às práticas de outros setores. Assim, têm fortes competências em identificar sistematicamente direções potenciais para orientar os caminhos de transformação conjunta do ecossistema.

Em conclusão, os acadêmicos podem desempenhar um papel importante em um contexto que pode ser definido como um ecossistema de IC estratégico. Portanto, nesse cenário, as organizações formam contatos para agregar valor aos processos de negócios por meio da dependência mútua de relações de troca. Dessa forma, a complexidade inerente por trás de tal ecossistema, pode ser gerenciada por acadêmicos que, são capazes de decodificar as escolhas feitas por cada ator e avaliar a eficiência e eficácia de suas ações.

Assim, Gastaldi et al (2015), sintetiza as diferentes funções de orquestração desempenhadas pelos acadêmicos da CI.

Tipo de ecossistema de IC

Principais funções de orquestração

Profesional

Fornecer oportunidades de reunião para demanda e oferta da indústria

Ajudar os praticantes a pensar fora da caixa

Manter o foco em interesses interorganizacionais mútuos

Aprendiz

Reduzir a ansiedade de aprendizagem

Ativar múltiplos fluxos de reflexões colaborativas

Promover o ecossistema e a reflexividade organizacional

Transformacional

Aproveitar as oportunidades de transformação

Ativar a transformação

Manter a transformação

Estratégico

Produzir conhecimento e objetivos do ecossistema

Estender e converter o conhecimento organizacional

Integrar o conhecimento organizacional

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Referência

Gastaldi L., Appio F.P., Martini A., Corso M. (2015), “Academics as orchestrators of continuous innovation ecosystems: towards a fourth generation of CI initiatives”, Int. J. of Technology Management, introductory paper for the special issue from 2013 CINet conference, Nijmegen, NL.

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Guilherme Paraol

Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisas com foco em ecossistemas de inovação. Atua em diversos projetos de inovação.