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Como o movimento maker está influenciando a educação

O movimento maker atrai cada vez mais pessoas interessadas em criar e compartilhar seus próprios artefatos (físicos ou digitais), principalmente, devido a sua forma de expressão criativa e atuação comunitária. Há rápido crescimento do movimento, tanto em ambientes instrucionais informais de educação (museus, bibliotecas, organizações sem fins lucrativos, etc), como em ambientes formais (universidades e escolas). Com base nesta popularização, Halverson e Sheridan (2014) analisaram como o movimento maker pode influenciar na educação, posto que, suas principais ideias são descritas neste post.

O movimento maker

O movimento maker se popularizou em meados do ano 2000. Nesse sentido, o principal responsável pela sua disseminação foi Dale Dougherty criador da empresa Maker Media. Só para exemplificar, a organização é responsável por organizar feiras (Maker Faires), produzir revistas (Revista Maker) e realizar workshops, além de possuir diversos materiais sobre o movimento disponíveis a comunidade. Dessa maneira, a empresa realiza três Maker Faires mundiais por ano e mais de cinquenta “mini-Maker Faires” anuais.

 

Criador e Site da Empresa Make Media. Fonte: Make Media (2018).

Afinal, o que é o movimento maker? Para Halverson e Sheridan (2014), o movimento maker refere-se ao número crescente de pessoas engajadas na produção criativa de artefatos em suas vidas diárias e que compartilham seus processos e produtos com outras pessoas em fóruns físicos e digitais. Desse modo, é importante destacar a fala das autoras sobre o compartilhamento de artefatos físicos e digitais. Em concordância, de acordo com Anderson (2012), além do movimento ser “uma nova revolução industrial”, o que distingue o movimento maker de inventores e empreendedores anteriores são três características principais:

  • o uso de ferramentas digitais;
  • uma norma cultural de compartilhamento e colaboração on-line;
  • uso de padrões de design comuns para facilitar o compartilhamento e a rápida iteração.

O movimento Maker e a educação

 

Seymour Papert. Fonte: ACM (2016)

A aprendizagem baseada no fazer já faz parte da educação há algum tempo. Nesse sentido, Seymour Papert é considerado o pai do movimento maker na educação, ao passo que, é o principal responsável por desenvolver a teoria do construcionismo, que aborda o aprender fazendo e o seu compartilhamento como forma de aprendizado. Ademais, esta teoria recebeu forte influência do construtivismo que aborda a aprendizagem baseada na experiência de produzir algo. Contudo, a principal diferença entre as duas teorias é que o construcionismo considera que as pessoas aprendem construindo conhecimento por meio do ato de tornar algo compartilhável (HALVERSON; SHERIDAN, 2014).

 

Atualmente, algumas ferramentas e programas contribuem para o aprendizado por meio do compartilhamento do conhecimento, como linguagem de programação Logo; kits LEGO; ferramenta de programção Scratch. Além disso, algumas abordagens educacionais podem ser citadas, como, Aprendizagem Baseada em Problemas e Aprendizado por meio da Produção.

Como o movimento Maker está influenciando a educação

Em ambientes informais de aprendizagem o movimento maker se expandiu rapidamente, ademais, estes ambientes são importantes para pessoas que não pretendem se identificar como makers, mas em contrapartida, querem acessar as ferramentas disponíveis. As bibliotecas, principalmente, são importantes nesse processo de dar acesso a ferramentas de produção criativa e de artefatos individuais. Exemplo deste movimento é a biblioteca de Chattanooga. Nesta bibioteca, além de realizar empréstimo de livros é possível realizar o empréstimo de ferramentas para produção dos próprios artefatos. Só para exemplificar, Halverson e Sheridan (2014) citam que as bibliotecas estão deixando de ser repositórios de conhecimento para se transformarem em espaços de aprendizado compartilhado.

Site da biblioteca de Chattanooga. Fonte: Chattanooga (2018)

Movimento maker e a educação formal e informal

O movimento maker na educação formal ocorreu primeiro no nível superior com a criação dos Fablabs pelo MIT em 2001. Entretanto, o maior desafio ocorre nas escolas do ensino médio e fundamental. Halverson e Sheridan (2014) destacam algo importante, aprender a fazer não é intercambiável com a escolaridade. Mas, o que isso significa? Significa que a maneira como é organizada a educação formal não é compatível com o movimento maker. Portanto, um debate sobre onde e como a aprendizagem acontece torna-se importante para discutir como que o movimento pode ser introduzido nesses ambientes de forma que se ensine (HALVERSON; SHERIDAN, 2014).

Devido aos padrões da escolaridade, torna-se difícil definir o que funciona e o que não funciona para que os alunos tenham a melhor aprendizagem com a produção e compartilhamento de suas criações. Ou seja, não basta produzir algo por produzir, é preciso que o aluno aprenda. O foco, portanto, deve estar no processo e no produto e não na tecnologia utilizada. Ao passo que, nestes espaços devem haver mudanças na estrutura das salas de aula, e integração e conexão daquilo que pretende-se aprender com a fabricação dos artefatos. Assim, os makers receiam que esta institucionalização podem ser prejudicial ao movimento. Todavia, quanto maior for a democratização do acesso de ferramentas físicas e digitais de criação e compartilhamento de artefatos menor será este impacto (HALVERSON; SHERIDAN, 2014).

Os componentes do movimento maker

Para alimentar o debate sobre o movimento maker é importante entender a relação entre os seus componentes. Estes são: atividades (making), comunidades (espaços makers) e identidades (maker) (HALVERSON; SHERIDAN, 2014).

  • O Making se refere ao conjunto de atividades que pode servir a uma variedade de objetivos de aprendizagem numa variedade de lugares. Este componente tem forte relação com a educação formal, uma vez que incentiva a aprendizagem de conteúdo.
  • Os Makerspaces, por sua vez, são comunidades de prática, que contemplam toda a comunidade. Nestes lugares, a aprendizagem não é garantida nem regulada, pois acontece de forma muito mais individual e aberta.
  • Os Makers se referem a identidade que as pessoas assumem dentro do movimento. Aqui nem todo mundo quer se considerar como tal. Um fator importante para a educação, é de que os alunos podem colocar a sua identidade pessoal nos seus trabalhos.

Como conclusão, Halverson e Sheridan (2014) citam que é preciso incentivar o diálogo sobre aprendizagem versus escolaridade, e concluem que ao invés da escolaridade informar a aprendizagem, a forma de aprender deve informar a escolaridade.

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Referências

ACM. In Memoriam: Seymour Papert 1928-2016. 2016. Disponível em: <https://cacm.acm.org/news/205495-in-memoriam-seymour-papert-1928-2016/fulltext>. Acesso em: 25 set. 2018.

ANDERSON, C. Makers: The new industrial revolution. New York: Crown, 2012.

CHATTANOOGA. Chattanooga Public Library. 2018. Disponível em: <https://chattlibrary.org/>. Acesso em: 25 set. 2018.

HALVERSON, E. R.; SHERIDAN, K. M.; BRAHMS, L.; LITTS, B. K.; JACOBS-PRIEBE, L.; OWENS, T. Learning in the making: A comparative case study of three makerspaces. Harvard Educational Review, v. 4, n. 84, 505–531, 2014.

MAKE MEDIA. Make. 2018. Disponível em: <https://makermedia.com/>. Acesso em: 25 set. 2018.

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Guilherme Paraol

Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisas com foco em ecossistemas de inovação. Atua em diversos projetos de inovação.