Empreendedor: como descobrir se seu modelo de negócios é autossustentável?

26 de Outubro de 2021

Embora as pessoas comecem a empreender pelos mais variados motivos, existe uma unanimidade em relação a todas as empresas: a busca por um modelo de negócios autossustentável financeiramente. Isto é, para empreender, seus custos e despesas fixos e variáveis somados, de forma alguma podem se sobrepor ao seu lucro. Dentre as várias estratégias para descobrir se suas receitas vão conseguir de fato manter o seu empreendimento de pé, uma delas é bastante conhecida no meio contábil: o Ponto de Equilíbrio.

Você já ouviu falar do Ponto de Equilíbrio?

Equilíbrio, substantivo masculino (do latim aequilibrĭum): Estado do sistema cujas forças que sobre ele agem se contrabalançam e se anulam de maneira mútua [1].

Contabilmente, o ponto de equilíbrio se trata do ponto de lucro zero. Mas o interessante sobre esse indicador é que é o ponto de prejuízo zero também. Ou seja, é o ponto em que se vende o suficiente para cobrir todos seus custos e despesas.

Isso é importante para qualquer um que deseje iniciar um negócio. Principalmente para as startups, que buscam escalar de maneira rápida sem alterar seus modelos de negócios.

Entretanto, o ponto de equilíbrio não deve ser considerado apenas um número que diz quando você vai começar a lucrar. Sua interpretação revela importantes considerações sobre a sustentabilidade financeira de seu empreendimento.

Importante entender que quanto mais baixo for o indicador, menos arriscado é para o empreendedor, porque significa que ele consegue lucrar sem gastar tanto para manter sua operação ou seus produtos. Por outro lado, quanto maior for o indicador, mais a empresa deve estar preparada para começar a lucrar apenas depois de um maior número de vendas.

Como descobrir o Ponto de Equilíbrio?

Primeiro de tudo é preciso entender o que compõem seus gastos. Na área contábil, isso costuma ser dividido como custos e despesas fixos ou variáveis.

Os fixos são aqueles que não importa quantos produtos você produza ou quantos serviços você precise prestar, eles mantem-se sempre iguais, como aluguéis, algum serviço premium que você utilize de softwares, impostos, salários ou até mesmo materiais recorrentes que você sempre compra na mesma quantidade para algum fim específico, como limpeza de ambientes ou post-its mensais.

Por sua vez, os gastos viráveis é onde está o principal ponto a se atentar, porque eles dependem diretamente do volume de demanda ou produção. Ou seja, se você produz um produto e gasta “X” valor, para produzir 10 desses produtos seu gasto será dez vezes o valor de “X”. Isso é muito comum em produtos que utilizam matéria-prima física em sua composição. Uma padaria, por exemplo, os gastos com trigo vão variar se você produz 100 ou 500 pães. São variáveis porque dependem da demanda.

Os gastos variáveis são, sobretudo, aqueles para os quais as startups mais costumam se preocupar. Esses negócios buscam crescer muito e de forma acelerada, por isso são conhecidos por terem modelos de negócios repetíveis (entregar a mesma solução em grande escala) e escaláveis (cresce muito sem afetar tanto seus custos e modelo de negócios). É muito comum uma solução virtual, como um aplicativo por exemplo, não alterar em nada os gastos para uma empresa se repentinamente centenas de pessoas o baixarem e começarem a utilizar.

Nesse aspecto, o que conhecemos como “Margem de contribuição” se refere ao valor de venda produto subtraindo-se os custos e despesas variáveis ligados a ele, ou seja, literalmente qual foi sua contribuição para o lucro após retirado aquilo que diretamente foi gasto para que ele fosse feito.

E é aí que entra a fórmula do ponto de equilíbrio contábil: Custos e despesas fixas ÷ Margem de contribuição.

Vamos com um exemplo:

Supondo que você queira começar a vender protótipos de placas para automatização residencial. Nesse aspecto, vamos criar uma sintetização bastante simplificada sobre seus gastos. Você compreende que seus gastos fixos vão ser:

R$ 600,00 para o aluguel de um estúdio onde você monta os protótipos.

E R$ 100,00 mensais de marketing.

Totalizando R$ 700,00 reais de gastos fixos mensais. Por outro lado, seus gastos variáveis se referem a:

R$ 70,00 em materiais por cada protótipo produzido.

E R$ 15,00 rateados de energia elétrica por cada produção de protótipo.

Totalizando R$ 85,00 reais de gastos variáveis por protótipo produzido. Dessa forma, estabeleceu-se também o preço de R$ 200,00 de venda por protótipo. Assim, sua margem de contribuição fechou em R$ 115,00 reais, o que, para ser calculado no ponto de equilíbrio, deve-se converter em percentual, ficando 57,5% (0,575).

Para o cálculo do ponto de equilíbrio, portanto, deve-se fazer R$ 700 ÷ 57,5% (ou 0,575) = R$ 1.217,40.

O valor resultante, ou seja, R$ 1.217,40, é o valor de venda mensal que você deve atingir para ter certeza de que você não ficou no prejuízo, ou seja, se atingiu pelo menos o lucro zero. Se seu preço de venda é R$ 200 reais, isso indica que seria preciso pouco mais do valor de 6 protótipos para cobrir isso (200×6 = R$ 1.200,00). Como não é possível vender apenas parte do protótipo, parte-se do princípio de que para que houvesse lucro, seria necessário vender 7 deles (R$ 1.400,00 de vendas, passando R$ 182,60 do seu ponto de equilíbrio).

Lembrando que, para cálculos mais complexos, se você dividir o valor do ponto de equilíbrio pelo preço do seu produto, descobrirá quantos protótipos devem ser vendidos para que haja lucro (ou seja, R$ 1.217,40/R$ 200,00). Como o valor se apresenta com casas decimais entre 6 e 7, indica-se que 7 protótipos seriam necessários para cobrir tudo.

Tirando a prova real:

R$ 700,00 de gastos fixos + 7 vezes R$ 85,00 (R$ 595,00) que são os gastos variáveis: temos 1.295,00 de gastos totais. Com a venda de 7 protótipos, temos R$ 1.400. Abaixo dessa quantidade de protótipos vendidos, já seria prejuízo.

Nesse aspecto, só vai ser interessante manter o negócio se você conseguir vender mais de 6 protótipos por mês, caso contrário, seu modelo de negócios não é sustentável.

Dica de conteúdo

O Lean Startup é uma metodologia que auxilia empreendedores a criarem modelos de negócios sustentáveis empregando o mínimo de recursos com a maior entrega de valor. Para conhecer mais a respeito, acesse o Guia para Aplicação da metodologia Lean Startup.

Referências

[1] Dicio, 2021. Dicionário Online de Português. Equilíbrio. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/equilibrio/> Acesso em: 24 out. 2021.

Bio
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Carlos Marcelo Faustino da Silva

Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento, um dos primeiros pesquisadores nacionais a abordar ambidestria organizacional sob a perspectiva da inovação aberta. Contador pela UFMT, mentorava startups desde a graduação, por isso começou a atuar próximo a ambientes de inovação, já tendo fundado e administrado núcleos de incubação de empresas. Atualmente, segue mentorando startups e empresas de outras configurações, e estudando estratégias para melhorias de metodologias em ambientes de inovação.