Saiba mais sobre a história e visões por trás do movimento maker!
Saiba mais sobre o movimento maker e porque ele está sendo considerado uma nova revolução industrial.
A prática de fazer coisas é inerente a história da humanidade. Passando pela Idade da Pedra Lascada, Idade dos Metais até os dias atuais, a relação do ser humano com os objetos por ele fabricados tem moldado como sociedades se organizam socioeconomicamente. Entretanto, a prática do “faça você mesmo” (tradução que vem do inglês Do-It-Yourself) tem ganhado novas perspectivas recentemente, culminando no surgimento do movimento maker. Assim, para entender um pouco mais sobre esse movimento, convém a investigação de suas origens e algumas das mentes que contribuíram para defini-lo.
As origens do movimento maker
Segundo Turner (2018) o surgimento do movimento maker tem base na combinação de fatores culturais, econômicos e tecnológicos. Nesse sentido, o argumento econômico se baseia na Grande Recessão entre 2005 e 2007. Segundo o autor, as elevadas taxas de desemprego impulsionaram a busca por novas formas de trabalho.
Nesse contexto, foram percebidas três mudanças relacionadas às mídias digitais que foram fundamentais ao estabelecimento das bases do movimento maker. Primeiramente, a redução dos preços e dimensões de tecnologias de manufatura foi suficiente para que consumidores da classe média e fabricantes amadores pudessem compra-las e utilizá-las. A segunda diz respeito ao crescimento de plataformas digitais de compartilhamento. Nesses espaços digitais, manufatores individuais encontraram acesso a fóruns especializados e ferramentas de código aberto para apoiar o desenvolvimento de seus projetos. Por fim, o aprimoramento de redes de logística permitiu que manufatores pudessem ter seus protótipos “caseiros” fabricados em grande quantidade por fábricas a grandes distâncias.
Turner contextualiza essas mudanças em um cenário culturalmente favorável devido a pré-existência da atitude do Do-It-Yourself. Nesse sentido, destaca manifestações culturais como o Rap e grafite, práticas tradicionais como tricô e carpintaria além das atividades “hacker” para ilustrar a prática do “faça você mesmo” por meio de diversos nichos sociais. Dessa forma, autores como Rosner e Bean (2014) chegam a caracterizar o movimento como a mera transformação de práticas tradicionais em uma marca.
Evolução do movimento Maker. Fonte: elaborado pelo autor (2019).
Por outro lado, existem aqueles que definem o movimento maker como uma revolução no processo de manufatura em escala global. Assim, alguns dos principais autores responsáveis por construir essa visão são descritos a seguir.
Algumas mentes por trás do movimento maker
Dale Dougherty é amplamente reconhecido como criador e responsável pela popularização do termo “movimento maker”. Sua empresa, Media Maker, publica a revista MAKE e organiza anualmente feiras makers (maker faires), promovendo o movimento. Assim, Dougherty (2012) define o movimento maker em termos de pessoas, estabelecendo o “fazer” como uma característica inerente a todos.
Outro ponto de partida pode ser atribuído a Neil Gershenfeld, professor do Massachusets Institute of Technology. Neil foi responsável por idealizar e ministrar o curso “How To Make (Almost) Anything” (ou “como fazer (quase) qualquer coisa”). Por influência dessa experiência, Gershenfeld (2005) compreende o movimento maker como o desenvolvimento de projetos de viés pessoal baseado no compartilhamento de experiências ao longo do processo. Sob essa visão, fundou o centro de manufatura em pequena escala Bits and Atoms. O sucesso do modelo – ultimamente renomeado como Fab Lab – impulsionou sua difusão pelo mundo, igualmente, popularizando o movimento maker.
Neil Gershenfeld em um Fab Lab. Fonte: MIT Spectrum (2014)
Igualmente, é notável a contribuição de Chris Anderson na construção da visão do movimento maker como uma revolução, . O jornalista e antigo editor da revista Wired, é autor da crônica Makers. Nessa, Anderson (2012) também caracteriza os makers por três elementos chave: utilização de ferramentas digitais em suas áreas de trabalho, compartilhamento de projetos e cooperação online, uso de padrões de projeto para facilitar compartilhamento e interações.
Por fim, merece destaque a obra de Mark Hatch, CEO e co-fundador da TechShop. Hatch (2014) descreve, através de seu “Maker Movement Manifesto”, nove ideais centrais da atuação do maker: fazer, compartilhar, fornecer, equipar (no sentido de garantir acesso aos equipamentos necessários, brincar, participar, apoiar e mudar.
Assim como Anderson, Hatch define o movimento maker como uma função também do acesso às ferramentas a ele associados.
Um conceito em construção
Como resultado de seu crescimento em escala global, o movimento maker aumenta em complexidade e diversidade e interpretações. Nesse sentido, ainda não há consenso sobre uma definição pronta, mas sim algo como um arquipélago ideológico a cerca do tema. Todavia, o que isso ilustra é que, acima de qualquer coisa, o movimento já é uma realidade.
A prova disso veio em 2014 durante a primeira Maker Faire na Casa Branca. No evento, Obama (2014) afirma o movimento como uma “revolução no processo de manufatura”. Ademais, considera como uma “oportunidade para aqueles cujo potencial ainda não foi atingido”. Assim, ultimamente, o movimento maker representa uma oportunidade de refletir sobre o papel da criatividade humana em nosso modo de viver.
Maker Faire na Casa Branca em 2014. Fonte: Make Media (2014)
Clique aqui entender um pouco mais sobre a influência do movimento maker na educação.
Saiba mais sobre o que são os espaços maker.
Referências bibliográficas
ANDERSON, Chris. Makers: The New Industrial Revolution, New York: Crown Business. 2012.
BEAN, Jonathan; ROSNER, Daniela. Making: movement or brand?. interactions, v. 21, n. 1, p. 26-27, 2014.
DOUGHERTY, Dale. The maker mindset. In: Design, make, play. Routledge, 2013.
GERSHENFELD, Neil. Fab: the coming revolution on your desktop-from personal computers to personal fabrication. Basic Books, 2008.
HATCH, Mark. The maker movement manifesto: rules for innovation in the new world of crafters, hackers, and tinkerers. New York: McGraw-Hill Education, 2014.
TURNER, Fred. Millenarian Tinkering: The Puritan Roots of the Maker Movement. Technology and culture, v. 59, n. 5, p. S160-S182, 2018.
MAKE MEDIA. Make. 2018. Disponível em: <https://makermedia.com/>. Acesso em: 18 fev. 2019.
MASSACHUSETTS INSTITUTE OF TECHNOLOGY. MIT Spectrum. 2014. Disponível em: <spectrum.mit.edu>. Acesso em 18 fev. 2019.
Arthur de Carvalho Cruzeiro
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