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Ecossistemas de inovação – um conceito em construção

Fique por dentro desse conceito em construção e das controvérsias por trás de sua utilização.

Apesar de ser um conceito em construção, os ecossistemas de inovação têm ganhado cada vez mais notoriedade em círculos de investimento e desenvolvimento econômico. Todavia, apesar do apelo comercial do termo, percebe-se a falta de pesquisa para fundamentar a utilização desse. Sob esse contexto, Oh et. al (2016) realizam um exame crítico acerca do tema, de modo a investigar o valor de se adicionar o eco ao tratamento dos sistemas de inovação.

 

Fonte: Elaborado pelo autor (2019)

Falta de rigor na utilização do termo

Ao analisar a literatura e projetos nacionais sob o pretexto de ecossistemas de inovação, Oh et. al (2016), identificam a falta de rigor na utilização do termo. Sob essa perspectiva, indicam alguns fatores que evidenciam essa falta de rigor.

A princípio, Oh et.al (2016) destacam a falta de relação entre os ecossistemas de inovação e ecossistemas naturais. Nesse sentido, argumentam que estabelecer uma metáfora ecológica implica que o design do ecossistema se baseia na natureza e que há um processo de co-evolução dos atores que integram esse. Segundo os mesmos autores, isso não se aplica porque os ecossistemas de inovação são inteiramente projetados e os atores desse apresentam papéis muito específicos. Em concordância, Papaioannou et. al (2007) diferenciam os ecossistemas de inovação dos naturais pela presença de propósito (facilitar inovação) e pela importância de governança ao sistema.

Além disso, a análise dos projetos sob pretexto de ecossistemas levou Oh. et al (2016) a constatação de dois outros fatores que indicam essa falta de rigor. Primeiramente, apontam a falta de políticas relacionadas a termos emergentes no contexto da inovação. Ademais, constatam a afeição entre o setor privado e  o governo para a incorporação do prefixo.

O que diferencia os ecossistemas de inovação?

A partir da revisão da literatura sobre ecossistemas de inovação, Oh et. al (2016) indicam  fatores que parecem diferenciá-los de tipologias anteriores. Esses são listados a seguir.

  1. Sistematização explícita: apresentam interconexões entre atores de diferentes hélices da inovação, modelo ilustrado pelo diagrama abaixo. Sob essa perspectiva, Rodgers (1962) argumenta a existência de um sistema social que permite a difusão de inovações desses ecossistemas.
  2. Digitalização: as tecnologias de informação e comunicação (TICs) desempenham papel central nesses sistemas.
  3. Inovação aberta: realizam práticas para incentivas a combinação de ideias para gerar novos produtos e serviços.
  4. Qualidade mimética do termo: fazem uso da valorização do termo no campo de relações públicas em detrimento de fundamentação teórica para tal.
  5. Diferenciação de papéis: mais do que reunir atores geograficamente, fomentam a formação de ligações entre as cadeias de valor desses.
  6. Relevância governamental e apoio de mercado: têm se estabelecido como ponto focal de políticas públicas e círculos de investimento do setor privado.Quádrupla hélice

Diagrama representando o modelo de quádrupla hélice da inovação

Fonte: Audy e Pique (2018)

 

Os tipos de ecossistemas de inovação

Ainda tomando como base a revisão crítica de literatura, os autores destacam alguns tipos de ecossistemas de inovação, de acordo com os diferentes contextos em que o termo é citado. Esses são listados a seguir.

  1. Corporativos ou de inovação aberta: formados principalmente por atores que contribuem a práticas de inovação aberta.
  2. Regionais e nacionais: assim como a tipologia anterior, enfatizam a inovação aberta e designam papéis mais específicos aos atores (ligações entre cadeias de valor).
  3. Digital: plataformas digitais que estimulam a geração de interações sinérgicas entre clientes, usuários e desenvolvedores. A partir disso, visam a geração de externalidades (aplicativos, a exemplo) e valor a hardware e software.
  4. Baseados em cidades e distritos de inovação: projetados por municípios em parceria a universidades, visam reunir pequenas empresas para gerar desenvolvimento imobiliário local.
  5. Centrados em empreendimentos de pequena e média escala: modelo predominante em Taiwan. Tem como objetivo atrair empreendimentos de pequena e média escala para gerar desenvolvimento econômico local.
  6. Hiper-locais: a partir do argumento de seus gerentes, corresponde ao modelo gerado pela atuação de aceleradoras e incubadoras.
  7. Baseados em universidades: estabelecidos a partir do exercício das práticas de universidades ranqueadas. Por outro lado, Fetters et. al (2012) argumentam que esse modelo corresponde a um subconjunto dos ecossistemas de inovação.

Ecossistemas baseados em mercado

Segundo Jackson (2011), os ecossistemas de inovação são caracterizados pela presença de suas economias distintas, a comercial (com base mercadológica) e a de pesquisa (repasse de impostos à educação). Sendo assim, Oh et. al (2016) apontam que o foco em mercado pode ser um elemento central a definição dos ecossistemas.

Nesse sentido, Oh et.al (2016) apontam a tendência de empreendimentos de pequena e média escala (principais atores dos ecossistemas na literatura), em reduzirem o número de seus  fornecedores. Consequentemente, percebe-se que isso leva ao aumento da  expertise dos fornecedores sobreviventes ao passo que reduz custos de sobrecarga. Sendo assim, esses gerarão produtos de maior qualidade em menos tempo. Por fim, argumentam que é essa demanda que impulsionará a geração de inovações, mesmo que conservadoras.

Caminhos a seguir

Por fim, Oh et. al (2016) identificam que, para que haja rigor na utilização da terminologia ecossistemas de inovação, os seguintes desafios devem ser superados:

  • Clarificar como ecossistemas de inovação diferem de sistemas de inovação regionais e nacionais.
  • Encontrar maneiras de mensurar a performance de sistemas de inovação.
  • Detalhar as semelhanças e diferenças entre os ecossistemas naturais e de inovação.
  • Reconciliar os níveis em que o termo é utilizado, por exemplo, a nível de empresas, cidades e redes de fornecimento, dentre outros.

Veja uma resposta crítica a esse artigo.

Saiba mais sobre ecossistemas de inovação.

Referências Bibliográficas

AUDY, Jorge; PIQUE, Jorge. Parques científicos e tecnológicos e seu papel no desenvolvimento econômico e social das cidades. 2018. 21 slides.

FETTERS, Michael; GREENE, Patricia G.; RICE, Mark P. (Ed.). The development of university-based entrepreneurship ecosystems: Global practices. Edward Elgar Publishing, 2010.

JACKSON, B. D. J. What is an innovation ecosystem?, Washington DC. 2011.

OH, Deog-Seong et al. Innovation ecosystems: A critical examination. Technovation, v. 54, p. 1-6, 2016.

PAPAIOANNOU, Theo; WIELD, David; CHATAWAY, Joanna. Knowledge ecologies and ecosystems? An empirically grounded reflection on recent developments in innovation systems theory. Environment and Planning C: Government and Policy, v. 27, n. 2, p. 319-339, 2009.

RODGERS, EM., 1962. Diffusion of Innovations, 1st ed. Free Press, New York.

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Arthur de Carvalho Cruzeiro

Graduando em Engenharia de Materiais na Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalha pela inovação e acredita na mudança através da conexão entre pessoas.