Xiaolong Wong Eb7is MVoF4 Unsplash

Guanxi e o empreendedorismo na China

Empreendedorismo na China

Em princípio, durante o governo de Mao Zedong, o empreendedorismo privado era um considerado tabu político. Entretanto, desde a última década, a China vem ganhando a reputação de ser um dos países mais receptíveis e amigáveis ao empreendedorismo. Isso se deve, não somente a fatores políticos como a abertura de mercado imposta por Deng Xiaoping, mas também a construções culturais, como o guanxi (关系) (PENG, 2004; DUNNING; KIM, 2007; KSHETRI, 2007).

Quando se trata de China, as relações comerciais e interpessoais se dão de tal forma que são quase inseparáveis. De fato, o mercado chinês é, assim como muitos tipos de relações, impulsionado por benefícios de curto prazo. Nesse sentido, os clientes se preocupam mais com a utilidade atual do que com as recompensas de longo prazo (LIU; WOYWODE; XING, 2012).

Instituições informais

As instituições informais envolvem, certamente, uma ampla variedade de códigos de conduta não escritos, costumes, hábitos e rituais. Portanto, embora informais por nome e natureza, estas instituições são de grande importância para facilitar o funcionamento de uma sociedade em que há construção social. Dessa maneira, dentro do contexto chinês, o guanxi pode ser considerado como uma realização de instituições informais (LIU; WOYWODE; XING, 2012).

A cultura, como uma instituição informal, pode ser vista, nesse ínterim, como um kit de ferramentas que pode ser usado, em varias circunstâncias, por indivíduos e organizações para diferentes propósitos (DACIN; MUNIR; TRACEY, 2010). Nesse sentido, Xing e Sims (2011) constataram que gerentes chineses no setor bancário aplicam, na prática de liderança, os princípios extraídos de filosofia clássica taoista, como por exemplo, o Wu Wei (无为). Assim, tais sabedorias não são escritas, mas sim manifestadas em instituições informais. Em princípio, esta não somente se manifestaria nas práticas de negócios, mas na sociedade como um todo.

Guanxi internacional e local

A literatura sobre guanxi baseia-se fortemente nas teorias de networking e capital social. Apesar de ser consenso acadêmico que as regiões da China são cultural, política e historicamente diversas. Sem dúvida, o guanxi é um modo de relacionamento interpessoal único e profundamente enraizado na cultura chinesa como um todo (RALSTON et. al., 1996; LIU; WOYWODE; XING, 2012).

O guanxi internacional denota as conexões pessoais de empreendedores a entidades internacionais, como empresas, instituições de pesquisa e organizações. Uma vez que, estas são reunidas por meio de experiência de trabalho ou educacional. Outra dimensão é o guanxi local, que pode ser definido como conexões interpessoais com funcionários governamentais, usuários e prestadores de serviços. Desse modo, o guanxi internacional pode desencadear a intervenção do governo, que por sua vez facilita a aquisição de guanxi local. Portanto, o papel dos governos locais é relevante para esta construção social (LIU; WOYWODE; XING, 2012).

A importância do guanxi

Guanxi com funcionários do governo permite, como resultado, que as empresas entendam melhor a realidade pública. Dessa maneira, é possível que estas alcancem uma posição de vantagem administrativa devido a tais relações. A dinâmica do guanxi afeta, portanto, a gestão do conhecimento e a tomada de decisões em empresas chinesas de alta tecnologia. Assim, os empresários focam tempo e energia na formação de guanxi. Uma vez que, sua importância é destacada ao promover confiança pessoal e melhorar o desempenho empresarial (FARH et al.,1998; PENG; LUO, 2000; CHILD; TSE, 2001; YANG, 2008; FU; TSUI; DESS, 2015).

Autores como Perks, Kahn e Zhang (2009) argumentam que o guanxi influencia positivamente a integração de, por exemplo, departamentos de P&D e marketing, bem como o desenvolvimento de novos produtos. Assim, percebe-se a importância desta construção cultural para o mercado chinês. Visto que, a influência do guanxi na inovação de alta tecnologia é uma construção multidimensional de caráter positivo. Portanto­, há uma necessidade de visibilidade e aprofundamento nesse assunto. Uma vez que, seu entendimento no ocidente é de grande importância para a absorção dos aspectos positivos, e ainda pouco compreendidos.

REFERÊNCIAS 

DACIN, M. Tina; MUNIR, Kamal; TRACEY, Paul. Formal Dining at Cambridge Colleges: Linking Ritual Performance and Institutional Maintenance. Academy Of Management Journal. S.i., p. 1393-1418. 01 dez. 2010.

DUNNING, John H.; KIM, Changsu. The Cultural Roots of Guanxi: An Exploratory Study. The World Economy. S.i., p. 329-341. 08 fev. 2007.

FARH, Jiing-lih et al. The Influence of Relational Demography and Guanxi: The Chinese Case. Organization Science. S.i., p. 471-488. ago. 1998.

FU, Ping Ping; TSUI, Anne S.; DESS, Gregory G.. The dynamics of guanxi in Chinese hightech firms: Implications for knowledge management and decision making. Management International Review. S.i., p. 277-305. 15 out. 2015.

KSHETRI, Nir. INSTITUTIONAL CHANGES AFFECTING ENTREPRENEURSHIP IN CHINA. Journal Of Developmental Entrepreneurship. S.i., p. 415-432. nov. 2007.

LIU, Yipeng; WOYWODE, Michael; XING, Yijun. High technology start-up innovation and the role of guanxi: an explorative study in China from an institutional perspective. Prometheus. S.i., p. 211-229. 05 mar. 2012.

PENG, Mike W.; LUO, Adong. Managerial Ties and Firm Performance in a Transition Economy: The Nature of a Micro-Macro Link. Academy Of Management Journal. S.i., p. 486-501. 01 jun. 2000.

PENG, Yusheng. Kinship Networks and Entrepreneurs in China’s Transitional Economy. American Journal Of Sociology. Hong Kong, p. 1045-1074. 01 mar. 2004.

PERKS, Helen; KAHN, Kenneth; ZHANG, Cong. An Empirical Evaluation of R&D–Marketing NPD Integration in Chinese Firms: The Guanxi Effect. Journal Of Product Innovation Management. Manchester, p. 640-651. 31 ago. 2009.

RALSTON, David A. et al. THE COSMOPOLITAN CHINESE MANAGER: FINDINGS OF A STUDY ON MANAGERIAL VALUES ACROSS THE SIX REGIONS OF CHINA. Journal Of International Management. S.i., p. 79-109.1996.

XING, Yijun; SIMS, David. Leadership, Daoist Wu Wei and reflexivity: Flow, self-protection and excuse in Chinese bank managers’ leadership practice. Management Learning. S.i., p. 97-112. 24 jun. 2011.

YANG, Jing Yu; LI, Jiatao. The development of entrepreneurship in China. Asia Pacific Journal Of Management. S.i., p. 335-359. 01 jun. 2008.

The following two tabs change content below.

Patrick Walter Rüdiger Scheidt

Graduando em Eng. de Materiais, aficionado por ciência, tecnologia e inovação. Mergulhador (Divemaster PADI®).

Latest posts by Patrick Walter Rüdiger Scheidt (see all)