Ecossistema Criativo

Uma abordagem de Ecossistema Criativo para desenhar Sistemas Regionais de Inovação

Olá a todos!

Hoje trago a revisão do trabalho da Martan Gasparin e do Martin Quinn, publicado em 2020 pela Growth and Change,  que propõe uma abordagem de ecossistema criativo para desenhar sistemas regionais de inovação a partir de um case real no Vietnã.

VISÃO GERAL

O artigo tem como pano de fundo o Vietnã, país localizado no sudeste asiático, que outrora era um país socialista, mas hoje possui uma economia em transição, sendo classificado como uma economia de mercado socialista.

Devido a esse formato de transição, há um crescimento rápido que o Governo acaba não conseguindo acompanhar em todos os setores. Assim criam-se setores menos importantes do que outros, como por exemplo, o de Economia Criativa.

Dessa maneira, inicialmente os autores foram convidados pelo British Council para mapear o valor das indústrias criativas e culturais no país. Porém, ao se depararem com as estruturas dos sistemas regionais de inovação e com a organização das comunidades criativas, percebeu-se a necessidade de mudar o objetivo da pesquisa.

Logo, a pesquisa buscou determinar as características e o papel de um ecossistema criativo em uma economia em transição tendo como estudo de caso todo Vietnã.

Ecossistema Criativo

Fonte: Unsplash

METODOLOGIA

Para alcançar o objetivo descrito anteriormente, foi idealizado uma pesquisa qualitativa, com as seguintes características:

  • Duração de 18 meses;
  • Período de realização de 2017 a 2018;
  • 92 entrevistas com pessoas ligadas a empreendimentos e organizações criativas;
  • 124 documentos oficiais analisados;
  • 12 grupos oriundos de ministérios entrevistados;
  • 112 páginas de Facebook de instituições, organizações e negócios criativos analisados; e
  • Observação direta in loco por 4 meses.

BASE TEÓRICA

SISTEMAS REGIONAIS DE INOVAÇÃO

Os autores perceberam que não era possível implementar os conceitos clássicos  sobre sistemas regionais de inovação praticados pelo Norte Global  em uma economia em transição.  Foi percebido que as características mais assertivas para alavancar o desenvolvimento territorial pela inovação em economias em transição são mais similares ao ecossistema de inovação, tais como: visão regional, processo decisório bottom up, e rede colaborativa de atores.

ECOSSISTEMAS CRIATIVOS

O  conceito de ecossistemas criativos, trazido pelos autores no artigo, vem para acrescentar a identificação de valores culturais e sociais ao valor econômico já existente dentro dos sistemas regionais de inovação.  Importante salientar que segundo os autores um ecossistema criativo robusto compensa um arranjo institucional pouco representativo.

Para fins conceituais, ecossistemas criativos podem ser definidos como:

Uma complexa rede de atores cujas interações produzem processos e resultados inovadores e criativos moldados pelos valores econômico, social e cultural.

Todavia, por que utilizar a abordagem dos ecossistemas criativo ao invés do clássico sistema regional de inovação? Os autores apresentam três fatores cruciais:

  • Identificar o valor criado pelas indústrias criativas e culturais;
  • Entender como o processo de inovação acontece dentro destes ecossistemas;
  • Compreender o suporte necessário para o sucesso e superação dos negócios criativos;

 

Ecossistema Criativo

Fig. 01 – Um Ecossistema Criativo para o Vietnã                      Fonte: Gasparin e Quinn (2021)

REFLEXÕES DO CAMPO

Apesar dos bons resultados das políticas nacionais para indústria do Vietnã, o mesmo não se pode falar pela ótica da economia criativa segundo os autores. Há uma ausência de instituições fortes e políticas públicas direcionadas à economia criativa, além da presença de diversas visões sobre a importância dos setores criativos e culturais, tanto nas esferas pública, como privada.

Desta forma, foram feitas três análises pelo ponto de vista de cada valor gerado em um ecossistema criativo, tendo como insumo as entrevistas, análises e documentos citados no bloco da metodologia:

  • Social – Regeneração urbana, inclusão social e benefícios sociais;
  • Econômica – Resultados artísticos e financeiros;
  • Cultural – Valorização e manutenção de crenças e tradições;

ANÁLISE PELA PERSPECTIVA SOCIAL DE UM ECOSSISTEMA CRIATIVO

Foi percebido que os empreendedores criativos e organizações sociais fornecem acesso a grupos marginalizados e/ou rurais, permitindo assim a transferência de conhecimento e habilidades. 

Também foi identificado a ausência de estímulos à criatividade técnica, estética ou de negócios na educação do Vietnã, bem como a falta de redes de comunicação que facilitem o fluxo de informação no país sobre a economia criativa.

ANÁLISE PELA PERSPECTIVA ECONÔMICA DE UM ECOSSISTEMA CRIATIVO

Assim como é notório em outros estudos, também foi percebido que há um confronto dentre os empreendedores criativos do Vietnã entre a visão artística e a visão financeira. O que é mais importante o retorno financeiro ou o impacto cultural? Como conciliar esses pontos de vista dentro da concepção dos produtos culturais do Vietnã?

Todavia, independente dos questionamentos anteriores, foi percebido pelo estudo que os empreendimentos criativos estão catapultando a geração de inovações sociais pelo país.

ANÁLISE PELA PERSPECTIVA CULTURAL DE UM ECOSSISTEMA CRIATIVO

Foi identificado nesta análise que no Vietnã, os negócios criativos e organizações sociais afins estão criando um “movimento” de preservação e resguardo da cultura e tradições do país. 

CONCLUSÃO

Por fim, a análise revelou algumas barreiras para o desenvolvimento de um sistema nacional de inovação a partir dos conceitos de ecossistema criativos. Foram citados os seguintes pontos:

  • Dados coletados subestimados sobre o valor da economia criativa para a economia geral;
  • Lacuna entre os talentos criativos e os negócios criativos;
  • Necessidade de fortalecer as políticas de direitos autorais;
Ecossistema Criativo

Figura 02 – Dos ecossistemas criativos até um Sistema Nacional de Inovação Fonte: Gasparin e Quinn (2021)

 

Para saber mais sobre a formação de ecossistemas criativos, leia o artigo na íntegra aqui. Quer conferir outras revisões ou estudos de artigos, seguem algumas dicas:

Três tipos de inovações na competitividade de empresas.

Living Lab: Uma metodologia entre Design Centrado no Usuário e Design Participativo

Uma estrutura conceitual para ecossistemas regionais de inovação

Referência

GASPARIN, Marta; QUINN, Martin. Designing regional innovation systems in transitional economies: A creative ecosystem approach. Growth and Change, v. 52, n. 2, p. 621-640, 2021.

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Danisson Luiz dos Santos Reis

Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação pela Universidade Federal de Alagoas. Graduado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Sergipe. Atuo há cerca de 10 anos com Inovação, Empreendedorismo, Criatividade e Sustentabilidade. Integrante do Grupo de Pesquisa VIA Estação do Conhecimento.