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Crescimento econômico e ondas de inovação

A inovação tecnológica e o crescimento econômico estão intimamente relacionados e podem ser articulados no conceito de ciclos ou ondas. Cada onda representa uma fase de difusão de uma série de inovações tecnológicas, criando setores econômicos totalmente novos e oportunidades de investimento e crescimento.

Conforme, observado por Schumpeter (1939), as grandes mudanças tecnológicas não são dadas por uma série de infinitas melhorias marginais sobre as técnicas já estabelecidas, mas resultam da introdução de significativas descontinuidades geradas por inovações radicais ou, no caso da combinação de inovações, que representam revoluções tecnológicas.

 “[…] a evolução econômica é desequilibrada, descontínua, desarmoniosa por natureza, salpicada de explosões violentas e catástrofes […] mais como uma série de explosões do que uma suave, embora incessante, transformação ” Schumpeter (1939, p; 102)

A teoria de Schumpeter aponta que uma revolução tecnológica e a disseminação do progresso técnico promovem um processo de destruição criadora onde novas empresas surgem, outras desaparecem e muitas combinam novas técnicas produtivas com as antigas, modificando toda a estrutura organizacional e de mercado ( Schumpetter, 1939). Dessa forma, algumas dessas perturbações podem ser ampliadas em fenômenos maiores, como por exemplo as mudanças tecnológicas.

Ciclos ou ondas de inovação

As primeiras investigações sistemáticas sobre o tema dos ciclos de inovação foram conduzidas pelo economista russo Kondratiev, mas posteriormente, foi Schumpeter quem deu a contribuição decisiva, argumentando em seu texto de 1939 Business Cycles, que cada onda longa sucessiva está associada a um aumento repentino de investimento, impulsionando um novo grupo de inovações (Schumpeter, 1939). Para o autor, os principais impulsionadores dessas transições são as inovações radicais, que emergem endogenamente do sistema econômico pela ação empreendedora e levam à destruição criativa. Pela visão schumpeteriana, a destruição criativa está na essência do capitalismo. As novas tecnologias surgem como ondas, de forma aleatória e acompanhada do aumento da produtividade do trabalho.

Desde o início da revolução industrial no final do século 18, seis ondas foram identificadas:

 

Fonte: Freman (1996), Desha e Hargroves, 2011 , Seebode et al., 2012  e Di Sério e Silva (2016)

1. Primeiro Ciclo ou 1ª onda ( 1785 – 1845) – Impulsionado pelo crescimento da manufatura têxtil e força hidráulica

Apoiou-se em inovações como energia hidráulica, têxteis e ferro. O início da Revolução Industrial concentrou-se principalmente em commodities simples, como roupas e ferramentas que poderiam beneficiar muitas pessoas. A tecnologia marítima convencional baseada em navios foi aperfeiçoada, apoiando grandes impérios coloniais e comerciais, principalmente pela Grã-Bretanha, França, Holanda e Espanha. Sistemas significativos de vias navegáveis ​​interiores também foram construídos. Os custos de produção e transporte foram reduzidos significativamente.

2. Segundo Ciclo ou 2ª onda – (1830- 1880)-  Impulsionado pela indústria do aço e pela invencão da máquina a vapor

O segundo ciclo durou de 1830 a 1880 e foi desencadeado pela gênese da indústria do aço, coincidindo com a invenção do conversor Bessemer. O aumento do transporte ferroviário apoiou o transporte em massa de pessoas e cargas, o que levou a um rápido crescimento econômico. Envolvia a aplicação massiva de carvão como fonte de energia, principalmente por meio da máquina a vapor. Isso induziu o desenvolvimento de sistemas de transporte ferroviário, abrindo novos mercados e dando acesso a uma gama mais ampla de recursos internacionais e no interior. O navio a vapor teve um impacto semelhante no transporte marítimo e permitiu a expansão das oportunidades comerciais no comércio global. Além disso, a produção em massa de algodão melhorou substancialmente as oportunidades da indústria têxtil, tornando os artigos de vestuário muito mais acessíveis. Com a segunda onda,  vieram avanços significativos em ferrovias, vapor e aço. A indústria ferroviária sozinha afetou inúmeras indústrias, de ferro e petróleo a aço e cobre. Por sua vez, formaram-se grandes monopólios ferroviários.

3. Terceiro Ciclo ou 3ª onda – (1900 a 1950) -Impulsionada pela eletricidade e pelo motor a combustão

O terceiro ciclo, destaca-se por ser a primeira onda a ser desencadeada pela aplicação prática do conhecimento científico. Aconteceu durante a ascensão da energia elétrica. Foi também o período em que as inovações na indústria química permitiram a produção em massa de commodities. A eletrificação foi uma grande mudança econômica, pois permitiu o uso de uma variedade de máquinas e aparelhos. Também permitiu o desenvolvimento de sistemas de transporte urbano, como metrôs e bondes. Outra melhoria significativa foi o motor de combustão interna, em torno do qual toda a indústria automotiva foi criada e ampliou a mobilidade de passageiros e cargas.

4. Quarto Ciclo ou 4ª onda (1950 a 1990) – Impulsionada pelo crescimento da indústria petroquímica

O crescimento da indústria petroquímica também sustentou o crescimento do mercado automotivo. O ciclo terminou quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) aumentou o preço do petróleo bruto na década de 1970, desencadeando uma recessão. O período pós-Segunda Guerra Mundial representou mudanças industriais significativas com novos materiais como plásticos (petroquímica) e novos setores como eletrônicos (televisão). O motor a jato expandiu a indústria da aviação para o mercado de massa e a mobilidade pôde ser realizada globalmente.

5. Quinto Ciclo ou 5ª onda (1990 a 2020)

O quinto ciclo começou na década de 1970 e foi desencadeado pelo advento da tecnologia da informação . A sociedade industrial começou a transição para uma sociedade da informação, que transformou e conectou o mundo globalmente.  Nesse ciclo, o setor de tecnologia da informação passou a ser o principal impulsionador do crescimento econômico. Este ciclo é dito que terminou por volta do início do século 21. O desenvolvimento de sistemas de informação melhorou substancialmente o ambiente transacional com novos métodos de comunicação e formas mais eficientes de gestão dos sistemas de produção e distribuição (logística). Isso gerou novas indústrias relacionadas a dispositivos de computação pessoal, principalmente fabricação de computadores e programação de software, mas, mais recentemente, plataformas de comércio eletrônico.

6. Sexto Ciclo ou 6ª onda ( 2020 a ….)

Muitos economistas acreditam que estamos em uma sexta onda de inovação que começou por volta de 2005. Eles acreditam principalmente que este ciclo será alimentado por avanços na área de biotecnologia, nanotecnologia e tecnologias verdes.  O crescimento econômico será desencadeado por maior produtividade no tratamento de questões de saúde e por uma maior preocupação com um desenvolvimento inteligente.  As tecnologias-chave que provavelmente serão os impulsionadores da 6ª onda já estão em vigor e incluem principalmente robótica, automação, digitalização e sustentabilidade. A digitalização implica um alto nível de tecnologias de informação em bens e serviços, bem como em sua gestão e operações. A 6ª onda também foi rotulada como a quarta revolução industrial .

Para o Schumpeter (1939, p 61) o desenvolvimento econômico é resultado da inovação, e a inovação é a força motriz que se chama “evolução”. Segundo o autor a evolução econômica é, descontínua e as inovações não são uniformemente distribuídas ao longo do tempo, mas aparecem, se tanto, descontinuamente em grupo ou clusters, que forma um movimento ondulatório conhecido como business cycle.  O business cycle é a cristalização da mudança técnica no sistema schumpeteriano. Ou seja, segundo Elliot (1993, p. 14) : “o desenvolvimento ocorre por meio de um processo cíclico” e, como resultado, “as flutuações cíclicas não são barreiras para o crescimento econômico e as recessões são não necessariamente indicadores de fracasso ou colapso do capitalismo ”.

Segundo Silva e Di Seori (2016, p. 130) “ movimentos no mercado indicam que uma nova onda de inovação está chegando, impulsionada pelo esgotamento do atual modelo de capitalismo e a necessidade de reconfiguração em torno das atuais necessidades ambientais e sociais, formando assim o que seria a sexta onda de inovação e neste contexto, a discussão de sustentabilidade força em todo mundo, levando as empresas e o mercado ao que parece ser um novo design dominante, fundado na sustentabilidade como pré-requisito para os produtos, serviços e processos”.

Tecnologias verdes ou amigas do ambiente

Nas abordagens de descontinuidade tecnológica, as transições em direção à sustentabilidade são impulsionadas pelo desenvolvimento de tecnologias verdes. Seguindo uma lógica evolutiva, o processo consiste em interações entre mudanças no lado da variação (investimentos em P&D, construção de competências, fluxos de conhecimento, melhorias de preço / desempenho em tecnologias ‘verdes’) e no ambiente de seleção (por exemplo, regulamentações ambientais mais rígidas ou mudanças no usuário preferências (Freeman,1996; Freeman e Soete,1997; Shapiro e Walker, 2015;  Lamperti et al., 2019).

De acordo com a OCDE (2017),

[…] a inovação é um dos principais motores da produtividade e do crescimento econômico. Os esforços para implementar políticas de crescimento verde, incentivando a inovação e as mudanças no comportamento do consumidor, estão se acelerando.

Enfrentar e mitigar as mudanças climáticas requer inovações e mudanças substanciais. Além de resultar em crescimento econômico e desenvolvimento de manufatura industrial, o progresso da tecnologia verde pode promover práticas sustentáveis​​( Song et al., 2020).  A inovação pode ajudar a atingir os objetivos ambientais com custos mais baixos e acelerar a transição para o crescimento verde; também pode levar a novas oportunidades de negócios e mercados (OCDE, 2017)

Tecnologia verde se refere a tecnologias que fornecem vantagens que direta ou indiretamente beneficiam a sustentabilidade ambiental (Hall e Helmers, 2013). As inovações de tecnologia verde são dedicadas a inovações que economizam energia e que respeitam o meio ambiente ( Deng et al., 2019 ). Assim, as inovações em tecnologia verde podem fornecer resultados mais significativos em relação à produtividade total dos fatores e contribuir para diminuir os impactos ambientais negativos em diversos níveis.

SAIBA MAIS SOBRE DESENVOLVIMENTO INTELIGENTE EM :

Indicadores de crescimento verde 2017

Referências

OECD Green Growth Studies, Green Growth Indicators 2017.  Publicação OECD. Dísponivel em: https://www.oecd-ilibrary.org/environment/green-growth-indicators-2017_9789264268586-en

Schumpeter, JA (1939). Ciclos de negócios (Vol. 1, pp. 161-174). Nova York: McGraw-Hill.

Schumpeter, J. A. (2017). Capitalismo, socialismo e democracia. SciELO-Editora UNESP.

Silva, G., & Di Serio, L. C. (2016). The sixth wave of innovation: are we ready?. RAI Revista de Administração e Inovação13(2), 128-134.

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Ronise Suzuki_VIA

Economista e Mestre em Administração pública pela UFV. Professora e pesquisadora no IFSP e no Grupo Via Estação do Conhecimento da UFSC na área de empreendedorismo e inovação. Entusiasta que a inovação e o empreendedorismo podem transformar o mundo num lugar melhor para meus filhos e alunos.