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Você sabe o que são Fab Cities?

Fab Cities: as cidades que repensam o consumo

“Fab Cities” é uma tipologia pensada para cidades que buscam soluções para o consumo. Com os espaços urbanos se tornando cada vez mais povoados, novos desafios emergem para as cidades. Por todo o mundo desafios que pautam o crescimento populacional e questões de sustentabilidade, como o alto uso de energia e outros recursos e altas emissões de poluentes e resíduos, são alguns pontos sempre presentes no debate a respeito da qualidade da vida urbana nas cidades [1].

É dessa complexidade que emergem as Fab Cities: modelos que visam repensar a forma como as cidades lidam com o consumo.

Fab City: o conceito

Fab City é um termo utilizado para a proposição de um novo modelo não apenas urbano, como também econômico, social e industrial que relocaliza a produção para a cidade e seu contexto biorregional [2]. Nesse aspecto, abraça o desafio de transformar a forma como produzimos e consumimos quase todos os recursos do nosso contexto cotidiano.

A provocação se tornou um movimento global, que é facilitado pela Fab City Foundation, uma rede de cidades e um coletivo de pensadores, criadores e inovadores [2].

Somos uma iniciativa global para cidades produtivas, resilientes e abertas”

Fab City Foundation

O termo “Fab” alocado na terminologia de cidades, deve-se ao fato de que a iniciativa global Fab City se baseia na rede global de Fab Labs. Assim, destacando-se que Fab Lab trata-se de um laboratório de fabricação em escala doméstica que fornece acesso às ferramentas e conhecimento para “fazer qualquer coisa” [3], o Fab City baseia-se nos ideais desses laboratórios (como conectividade, cultura, glocalismo e criatividade), e os dimensiona para as cidades.

Um novo modelo para as cidades

Com esse contexto e seguindo a lógica dos Fab Labs, implementa-se, então, essa lógica em escala urbana utilizando-se do modelo “PITO para DIDO”, ou seja, PITO (Product In Trash Out) para DIDO (Data In Data Out), construindo ecossistemas sustentáveis ​​de produção e conhecimento: da impressora 3D em casa, ao Fab Lab do bairro, a uma infraestrutura de logística global de fábrica local [3].Para entender melhor, refletem-se os fluxos do modelo na figura:

fab cities

Fonte: Fab City, 2022. [3]

Detalhamento do Modelo DIDO:

fab cities

Fonte: Fab City, 20?? [4].

O projeto Fab City ajuda líderes cívicos a desenvolverem cidades localmente produtivas em colaboração com comunidades, empresas e instituições locais, revitalizando a infraestrutura fabril e incentivando uma nova economia, baseada nos conceitos de economia circular e economia baseada no conhecimento [4]. Assim, inovações baseadas nos Fab Labs e nos makerspaces tornam-se uma fonte de soluções para conectar problemas reais nas cidades, abrindo oportunidades para negócios, pesquisas e educação por meio de projetos [4].

Nesse modelo, é inerente que o desperdício torne-se praticamente nulo, assim como há uma perceptível redução de carbono devido ao reaproveitamento gerado pelo caráter circular dos recursos [4]. Ainda, a preocupação da atuação cidadã ligada à educação, inovação, desenvolvimento de competências e criação de emprego e oportunidades e meios de subsistência através da realocação da manufatura, faz com que os cidadãos e a cidade tenham o poder de serem mais protagonistas em suas atuações, fazendo com que sua a resiliência seja aumentada e um sistema mais ecológico seja desenvolvido [4].

De acordo com o FabCity Whitepaper [4], alguns pilares estratégicos para que isso seja alcançado são:

Ecossistema de Manufatura Avançada: Fazer parte de uma rede global de cidades que compartilham conhecimento e boas práticas em soluções urbanas emergentes de cidadãos, empresas, instituições de ensino e governos. Redes locais de Fab Labs e mid-scale centros de produção conectados à maior rede global de cadeias de suprimentos, compartilhando conhecimento, melhores práticas e projetos.

Produção Distribuída de Energia: Com o advento das baterias domésticas e eficiência e melhorias na energia solar e outros meios de geração de energia limpa, a distribuição de energia em si enfrentará enormes mudanças. Redes distribuídas mudarão o papel das famílias e negócios na distribuição de energia, água e recursos.

Criptomoedas para uma nova cadeia de valor: cidades criando seus próprios mercados comerciais conectado a uma economia global, usando um sistema multi-moeda e valor baseado na blockchain e tecnologias semelhantes.

Produção de Alimentos e Permacultura Urbana: A agricultura urbana aumentará de prática experimental à infraestrutura de grande escala. Produção local de alimentos em escalas doméstica, de bairro e de cidade criarão um sistema de circuito fechado para alimentos produção e colheita.

Educando para o Futuro: Incorporando uma ênfase mais forte em “learn by doing” (aprender fazendo) em sistemas de educação e currículos, e envolver todos os níveis de educação na descoberta de soluções para necessidades locais por meio de tecnologias de fabricação digital e compartilhando-as com redes globais.

Construindo a Economia Espiral: Reduzir a quantidade de bens, alimentos e recursos importados como água ou energia e aumentar o uso de matérias-primas recicladas para a produção de objetos nas cidades. Criar valor agregado em cada iteração de um novo produto.

Colaboração entre governos e sociedade civil: governo local e organizações, startups, universidades e outras organizações devem trabalhar juntas para fazer uma mudança cultural que promova o empoderamento das cidades e seus cidadãos.

Fab cities: Cases pelo mundo

Algumas das cidades que já integraram a rede de Fab Cities são:

Referências

[1] FAUSTINO DA SILVA, C. M. VIA – Estação Conhecimento: Por que a inovação aberta tem sido tendência para as cidades? Disponível em: <https://via.ufsc.br/por-que-a-inovacao-aberta-tem-sido-tendencia-para-as-cidades/?lang=en> Acesso em 20 maio. 2022.

[2] FABCITY. Locally Productive, Globally Connected. The transition towards productive and regenerative economies in regions and cities, driven by people. 2022. Disponível em: <https://fab.city/> Acesso em 18 maio. 2022.

[3] FABCITY. We’re a global initiative for productive, resilient, open cities. 2022. Disponível em: <https://fab.city/about.html> Acesso em 18 maio. 2022.

[4] FABCITY. Fab City Whitepaper: Locally productive, globally connected self-sufcient cities. 20??. Disponível em: <https://fab.city/assets/documents/FabCity_Whitepaper.pdf> Acesso em 18 maio. 2022.

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Carlos Marcelo Faustino da Silva

Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento, um dos primeiros pesquisadores nacionais a abordar ambidestria organizacional sob a perspectiva da inovação aberta. Contador pela UFMT, mentorava startups desde a graduação, por isso começou a atuar próximo a ambientes de inovação, já tendo fundado e administrado núcleos de incubação de empresas. Atualmente, segue mentorando startups e empresas de outras configurações, e estudando estratégias para melhorias de metodologias em ambientes de inovação.