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Movimento Traços Urbanos: como o cidadão pode contribuir para tornar sua cidade um lugar melhor para todos?

A cidade é um reflexo de seu cidadão. O sociólogo e urbanista Robert Park afirmou que, ainda pouco consciente de sua tarefa, ao criar a cidade o homem apenas recriou a si mesmo. É por esta razão que a cidade que queremos ter depende da pessoa que queremos ser, ou seja: das relações sociais que buscamos, do modo de coexistência com a natureza que estabelecemos, do estilo de vida que nos satisfaz e dos valores estéticos que prezamos (HARVEY, 2014). Pensar cidades é pensar pessoas.

Hoje, como resultado de um processo de urbanização acelerado e problemático, encontramos um filão de novos modelos que buscam amenizar a complexidade da vida urbana, como: cidades criativas, cidades digitais, cidades sustentáveis, cidades inteligentes, cidades ativas, entre outros. Todos são conceitos que, por meio de diferentes slogans e prioridades, têm em comum o objetivo de promover maior qualidade de vida para os cidadãos. Entretanto, permanece pouco claro qual o papel ou responsabilidade do cidadão nessa busca.

O que cada um pode fazer para contribuir para a transformação social?

Ainda nos anos 60 o sociólogo Henri Lefebvre, discutindo o processo de segregação e marginalização urbana, deu projeção ao conceito de direito à cidade. Este é diretamente ligado ao acesso a benefícios da vida urbana, à não exclusão dos indivíduos, mas também remete à preocupação em destacar que construir o espaço urbano envolve necessariamente a articulação das relações sociais que estão ligadas a ele.

Inspirado por este conceito, o geógrafo David Harvey definiu que o direito à cidade vai além do acesso aos recursos urbanos, sendo basicamente a liberdade de fazer e refazer as cidades de acordo com a vontade cidadã. Assim, “reinventar a cidade depende inevitavelmente do exercício de um poder coletivo sobre o processo de urbanização”. Por isso, exercer esse direito passa essencialmente pela definição da visão de futuro que temos para nós mesmos e para a nossa cidade – quem somos e quem queremos ser.

A participação social é um meio para moldar as cidades que os cidadãos almejam e que podem gerar maior qualidade de vida. É possível fazer enquanto cidadão, mas coletivamente gera-se maior impacto e em maior velocidade. Por meio da interação, diálogo, compartilhamento e experiência dos diferentes atores de um espaço, surgem contribuições criativas e significativas para o bem comum.

Apoiando-se nessa visão, diversos movimentos sociais surgiram pelo mundo e um deles é o Movimento Traços Urbanos, em Florianópolis (SC). Esse movimento voluntário e apartidário foi fundado por dois arquitetos com o objetivo de propor ações para a requalificação dos espaços públicos da cidade, mas em função da rápida adesão dos membros da comunidade hoje é formado por quase duas centenas de pessoas de diferentes áreas de atuação. Os membros desse movimento são cidadãos florianopolitanos que investem voluntariamente parte de seu tempo disponível para melhorar a cidade para si e os demais.

No dia 01 de julho o Movimento Traços Urbanos deu um passo importante para a revitalização de um espaço público na comunidade do Monte Serrat, uma região tradicional e marginalizada da cidade. O projeto que teve início em junho desse ano consiste numa intervenção urbana para revitalizar a Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat, o Centro da Pastoral e o terreno onde fica localizada a caixa d’água e um mirante com vista para boa parte da cidade. Nesse último local são realizadas as feiras e as festas da comunidade, além de ser espaço para as brincadeiras das crianças e encontros dos jovens.

A etapa desse sábado foi a primeira de diversas ações do projeto e consistiu num mutirão para pintura da área com a participação de membros da comunidade, movimentos sociais e apoio ou doações de organizações públicas e privadas. Esse e os próximos passos têm como base a identificação dos desejos e expectativas dos membro da comunidade para o futuro. O diagnóstico foi realizado pelo movimento em junho. Veja as fotos abaixo:

O resultado do projeto será a renovação dos espaços comunitários, criação de áreas de convívio, restauração de edificações tombadas, implantação da coleta seletiva de lixo e capacitação profissional de moradores. O legado: maior qualidade de vida para os membros da comunidade, aumento do senso de pertencimento, apropriação dos espaços públicos e reintegração ao entorno da região.

A melhor forma de o cidadão contribuir para transformar sua cidade é ser ativo socialmente e exercer seu direito à cidade, baseando-se para isso numa visão de longo prazo que privilegie o bem de todos.

Se quiser saber como participar ou contribuir com o Movimento Traços Urbanos acesse o site.

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É advogada urbanista, pesquisadora, mestre e doutoranda pela Universidade Federal de Santa Catarina com estágio doutoral na Sapienza Università di Roma. Atua na intersecção entre cidades, inovação e sustentabilidade. agathadepine@gmail.com