Nejc Soklic WO42Rmamef8 Unsplash

Como mensurar a inovação nas Universidades?

A inovação nas universidades pode ocorrer de variadas formas: acadêmica, administrativa, tecnológica e social. Diante desse cenário, torna-se um desafio mensurar as atividades inovadoras universitárias, mas existem pesquisas que fazem um ranqueamento com base em diversos indicadores e métricas.

Expansão da missões da universidade

As universidades são instituições seculares que desempenham importante papel para o desenvolvimento da humanidade (ALMEIDA; MARICATO, 2021).  A primeira missão da universidade identificada é a de ensino, a qual tem o objetivo de educar formalmente seus alunos em diversas áreas de conhecimento. 

Etzkowitz (2003) esclarece que a primeira revolução acadêmica tornou a pesquisa uma função legítima da universidade. Ou seja:

 também é característica fundamental de uma universidade a capacidade de produzir e disseminar conhecimentos por meio de estudos e pesquisas conduzidas pelos seus laboratórios, grupos de pesquisa e programas de Pós-Graduação além de desenvolverem projetos de extensão compatíveis com as necessidades da sociedade, em particular as comunidades em torno da qual estão inseridas (ALMEIDA; MARICATO, 2021).

A partir do século XX, tais instituições ampliaram seu escopo de atuação e passaram a atuar diretamente como agentes do sistema de inovação (COLLA; ESTEVES, 2013) O que Etzkowitz (2003) chama de segunda revolução acadêmica, a qual terceira missão – empreendedora – da universidade se traduz no desenvolvimento social e econômico ao gerar novas indústrias e empresas por meio da inovação.

A importância da métricas da inovação universitária

De acordo com Pagell (2009), as classificações e indicadores são elementos importantes de governança do conhecimento, uma vez que as políticas de ensino superior, bem como as de inovação, têm se tornado aspectos centrais da competitividade econômica mundial.

Ranking globais vem medindo tais elementos, como o GII, que, a partir da edição de 2007, passou a avaliar as capacidades de inovação das nações, cobrindo também pesquisa, educação e conhecimento. Entende-se que a indústria precisa de informações para alocar os investimentos em pesquisa e inovação universitária (ALMEIDA; MARICATO, 2021).

Monitorar e mensurar as variáveis promotoras de inovação tem se tornado uma prática crescentemente relevante pois, além de permitir o acompanhamento da atividade inovativa de países e regiões, auxilia na definição de caminhos a serem trilhados na busca por inovação (ALMEIDA; MARICATO, 2021).

Assim, segundo os autores indicadores cuidadosamente selecionados e adequados podem oferecer métricas que atendem às necessidades de informações de diferentes clientes.

MÉTRICAS INOVAÇÃO

Modelos de mensuração da inovação nas universidades

A medição da inovação universitária como um fenômeno próprio é um desafio, uma vez que o componente da pesquisa acadêmica tem se tornado parte do sistema de inovação em razão da sua afinidade com a Pesquisa e Desenvolvimento associada ao aumento da cooperação entre empresas e governo (HALÁSZ, 2018).

Além disso, de acordo com Schmitt (2017), a medição da inovação é difícil devido ao alto grau de incerteza inerente a esse processo.

A tipologia mais comum sobre inovação é baseada nas características de suas múltiplas dimensões (aspectos organizacionais, produtos, processos, mercado, estratégias e comportamentos), além do grau de novidade (radical e incremental) (ALMEIDA; MARICATO, 2021).

Almeida e Maricato (2021) identificaram os seguintes estudos e aplicações de métricas de inovação:

  1. THE (Times Higher Education): Segundo a metodologia do ranking THE, a capacidade de uma universidade em auxiliar a indústria com inovações, consultoria ou colaboração é considerada uma missão importante da academia global contemporânea. Os 13 indicadores do ranking THE estão agrupados em 5 áreas, balanceados nas proporções indicadas: 1) Ensino (ambiente de aprendizagem) – reputação da instituição, proporção de funcionários/ alunos, proporção de doutorado/ bacharelado, proporção de doutorado/funcionários e renda institucional (30%); 2) Pesquisa (volume, receita e reputação) – pesquisa de reputação, renda de pesquisa e produtividade de pesquisa (30%); 3) Citações (influência da pesquisa) (30%); 4) Internacionalização (funcionários, alunos e pesquisa) – proporção de estudantes internacionais, proporção de funcionários internacionais e colaboração internacional (7,5%); 5) Entrada da Indústria (transferência de conhecimento) (2,5%).
  2. GII: A metodologia do GII pretende avaliar a qualidade da inovação universitária por meio: 1) da qualidade observada nas universidades locais (utilização do ranking QS de universidades); 2) da internacionalização de invenções patenteadas (famílias de patentes depositadas em dois ou mais escritórios); e 3) da qualidade das publicações científicas (Índice H de documentos citáveis). O ranking QS de universidades, utilizado como uma das fontes que compõem o Global Innovation Index, é uma dentre várias iniciativas internacionais de rankings acadêmicos, com base em indicadores relativos à produção científica dos docentes, relevância da pesquisa na instituição, qualidade da inserção de egressos no mercado de trabalho, capacidade de transferência de conhecimento, grau de maturidade em inovação tecnológica, projeção internacional, entre outros
  3. Ranking Universitário Folha (RUF): As fontes de informação utilizadas reúnem bases de dados públicas (nacionais e internacionais) e    pesquisas de opinião do Instituto Datafolha, abrangendo cinco dimensões: Pesquisa (42% da nota total); Ensino (32%); Mercado (18%); Internacionalização (4%) e Inovação (4%).
  4. Ranking das Universidades Empreendedoras, promovido desde 2016 pela Confederação Brasileira de Empresas Juniores (Brasil Júnior) a partir da percepção dos estudantes, informações autodeclaradas das universidades e outras fontes de dados complementares. Dimensões analisadas: Infraestrutura, cultura empreendedora, infraestrutura, inovação, extensão, capital financeiro e internacionalização. 

inovação nas universidades

 

Os autores ainda apresentaram que em 2015 houve uma tentativa de sistematização de métricas para inovação nas universidades a partir do trabalho desenvolvido pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Planejamento e Administração das Instituições Federais de Ensino Superior (FORPLAD/IFES), o qual tinha como proposição os seguintes indicadores:

  • Número de empresas de base tecnológica incubadas
  • Número de empresas de base tecnológica graduadas nos últimos dois anos
  • Número de proteções de conhecimento requeridas
  • Número de pedidos de patentes depositados (INPI ou Instituições Internacionais)
  • Número de patentes vigentes
  • Número de Instituições de Ensino e de Pesquisa envolvidas em Parque Tecnológico
  • Número de empresas participantes em Parque Tecnológico
  • Número de proteções transferidas para Empresas-Sociedade
  • Número de eventos e oficinas de P&D realizadas ou patrocinadas pela Instituição
  • Número de parcerias-convênios-termos de cooperação vigentes com foco em P&D

Todavia, o estudo não foi implementado devido às disparidades das universidades brasileiras. Nesse contexto, percebe-se a crescente importância da atuação das Universidades no que diz respeito à inovação e que o estudo dessa mensuração pode ser aprofundado.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, R L.; MARICATO, J. M. Explorando conceitos e métricas de inovação no contexto das universidades. DOI: 10.5433/1981-8920.2021v26n2p646. 2021.

COLLA, S.; ESTEVES, L. A. Lei da Inovação e Patentes Universitárias no Brasil: Uma Análise Quantitativa (2005-2010). Revista Tecnologia e Sociedade, Curitiba, n. 17, 2013. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rts/article/view/2616. Acesso em: 12 ago. 2020.

ETZKOWITZ, H. Research groups as ‘quasi-firms’: the invention of the entrepreneurial university. Research Policy, 2003.

HALÁSZ, G. Measuring innovation in education: The outcomes of a national education sector innovation survey. European Journal Education, v. 53, p. 557–573. 2018.

PAGELL, R. A. University Research Rankings: From Page Counting to Academic Accountability. CONCERT 2008 (Consortium on Core Electronic Resources). Taiwan. Nov. 2009

The following two tabs change content below.

Juliana de Souza Corrêa

Mestranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina, formada em Relações Internacionais (UFSC) e com especialização em Inovação em Gestão Pública. Servidora da UFSC e integrante do Grupo VIA atuando junto ao Pacto pela Inovação de Santa Catarina e realizando pesquisas com foco em inovação e empreendedorismo.

Latest posts by Juliana de Souza Corrêa (see all)