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Como a hipercolaboração acelera o ecossistema de inovação


Olá, tudo bem? O post de hoje apresenta um estudo realizado por Kolk et al. (2018) sobre a hipercolaboração no ecossistema de inovação. De fato, muitos dos maiores desafios e oportunidades tecnológicas do mundo, como urbanização e mobilidade, são impossíveis de resolver sem formar uma vasta rede de organizações públicas e privadas que trabalham perfeitamente juntas. Além disso, há evidências crescentes de que inovações revolucionárias são mais prováveis quando parceiros “menos óbvios” se reúnem. Assim, devido há necessidade de gerenciar dezenas de parcerias, muitas em setores desconhecidos, Kolk et al. (2018) propõe o conceito de “hipercolaboração” e destaca algumas abordagens práticas para fazê-la funcionar.

Ecossistemas impulsionam a hipercolaboração

A hipercolaboração é baseada na crença fundamental de que são os ecossistemas de inovação, e não as empresas individuais, que fornecerão novas soluções que abrirão novos mercados. Assim, a hipercolaboração significa ver os ecossistemas como arenas competitivas. Na qual, as empresas lutam pelos melhores parceiros, tecnologias e redes para criar e defender um valor agregado. A hipercolaboração também implica a adoção de uma mentalidade que pressupõe que provavelmente alguém em algum lugar do mundo já saiba o que você precisa saber – e é improvável que essa pessoa trabalhe em sua empresa.

Condições para hiper-colaboração

Kolk et al. (2018) definiu as características da hipercolaboração nos ecossistemas:

  • Existe colaboração entre parceiros “não óbvios”, bem como universidades, institutos de pesquisa, clientes e fornecedores.
  • Muitas vezes, existem dezenas, até centenas, de parceiros colaboradores, em vez de apenas alguns.
  • A colaboração é frequentemente ativada por tecnologias digitais e outras tecnologias em rápida evolução, como a computação em nuvem em biotecnologia. As tecnologias digitais também podem permitir a “convergência” entre os setores para criar soluções verdadeiramente novas.
  • Existem vários níveis e meios de colaboração, variando de alianças estratégicas e joint ventures a “intraempreendedorismo” de base.
  • Atores e relacionamentos evoluem rapidamente. As startups amadurecem, as iniciativas podem falhar e os interesses estratégicos
    frequentemente divergem.
  • Existe disponibilidade de dados de código aberto e uma cultura de compartilhamento de informações e inteligência dentro de uma estrutura de propriedade intelectual adequada.

Assim, a colaboração entre setores parece ser a chave do sucesso. Por exemplo, o número de patentes coproprietárias de diferentes empresas mais do que triplicou nos últimos três anos, em comparação a 2011-2013. Também, no mesmo período, o número de empresas que participam de parcerias aumentou bastante. Por fim, as empresas que registraram patentes de propriedade conjunta estão ativas em diversos setores, alguns dos quais não têm relações óbvias com seus principais mercados (Kolk et al., 2018).

Como gerenciar a hiper-colaboração maneira eficaz

Desse modo, o gerenciamento desta hipercolaboração coloca uma série de desafios para as empresas. Assim, para começar a capturar todo o potencial de um ecossistema, é necessário construir consciência e confiança, forjar alianças e estabelecer padrões. Portanto, Kolk et al. (2018) definiu cinco pilares para a hipercolaboração no ecossistema.

Visão

A prioridade é entender adequadamente a competição que deve ser vencida, os adversários a serem superados e os possíveis aliados que podem ser reunidos. Assim, em um cenário de mudanças rápidas, essa visão deve ser simples, envolvente e robusta o suficiente para incorporar mudanças rápidas. Portanto, é preciso ter um objetivo central forte e senso de propósito.

Estratégia

A hiper-colaboração visa criar um alcance muito mais amplo que a inovação aberta “clássica”. Assim, precisa (i) avaliar a quantidade máxima de valor que pode ser criada. (ii) decidir as partes críticas para controlar em termos de modelo de negócios, competências e ativos tangíveis e intangíveis. (iii) estratégia de como defender esse valor depois de conquistado. Ainda, a estratégia selecionada não deve ser definida de maneira muito restrita. Ao invés disso, deve especificar como as oportunidades serão atraídas,
quais riscos devem ser mitigados e quais objetivos precisam ser alcançados.

Prospecção

Encontrar os melhores parceiros entre dezenas ou centenas de participantes em um ecossistema em evolução, requer uma avaliação criteriosa. Portanto, a hipercolaboração também significa ser capaz de criar, manter e explorar de maneira eficiente e eficaz uma visão dinâmica e multidisciplinar dos vários ecossistemas de inovação nos quais uma empresa pode decidir atuar, e empregar as ferramentas e técnicas digitais certas para ajudar nessa seleção.

Engajamento

Quando existem muitas opções e combinações possíveis que podem mudar ao longo do tempo, o envolvimento do
parceiro exige uma avaliação contínua dos recursos de alinhamento, comprometimento, capacidades e inovação. Assim, deve-se definir princípios claros de PI. No entanto, deve haver a melhor forma de maximizar o valor geral da colaboração para todas as partes.

Cumprimento

Para cumprir as oportunidades que surgem da hipercolaboração, portanto, serão necessárias mudanças transformacionais na organização, governança, processos, ferramentas e mentalidades de inovação da maioria das empresas. Assim, há sinais de que as principais empresas já estão fazendo essas mudanças.

5 pilares da hipercolaboração efetiva. Fonte: Kolk et al. (2018).

Por fim, cabe destacar que esses pilares não devem ser pensados como fases seqüenciais em um processo clássico de desenvolvimento de estratégias. Dessa forma, na prática, a “navegação” do ecossistema inteligente pode muito bem levar a ajustes na visão e na estratégia de uma empresa. De fato, o conceito de hipercolaboração assume uma capacidade intrínseca de uma empresa de lidar com o mundo ao seu redor de uma maneira dinâmica ou até oportunista, mantendo o controle e mantendo o curso.

Insights para as empresas

As empresas que desejam dominar um ecossistema de inovação hipercolaborativo devem:

  • Estabelecer uma visão clara e um senso de propósito que guie a evolução do ecossistema, mas seja robusto o suficiente para lidar com mudanças rápidas.
  • Desenvolver uma estratégia que primeiro considere como o ecossistema pode maximizar valor e depois definir o alvo.
  • Manter um sistema de prospecção eficaz para monitorar oportunidades.
  • Usar as técnicas certas para envolver e atrair diversos parceiros, com estruturas de PI claras que incentivem resultados em que todos saem ganhando.
  • Transformar a mentalidade da empresa em pensar no ecossistema, em vez de fazer parcerias.

Exemplo de hipercolaboração na General Electric

A General Electric (GE) é amplamente reconhecida como inovadora e adotadora precoce de práticas de gerenciamento e modelos
organizacionais. Assim, a GE se tornou um participante do ecossistema capaz de dominar a hipercolaboração para alcançar um crescimento sustentável e lucrativo. Portanto, seguir os cinco pilares da hiper colaboração eficaz foi essencial para a GE alcançar resultados tangíveis:

  • 1. Visão: Tornar-se um facilitador global e um dos principais polos do ecossistema industrial.
  • 2. Estratégia: Facilitar o desenvolvimento e a conexão de aplicativos e gerenciamento de dados para a Internet das Coisas industrial.
  • 3. Prospecção: Todas as empresas industriais de todos os setores são consideradas relevantes, criando a necessidade de um sistema
    que permita alcance global e conhecimento local.
  • 4. Engajamento: Para se tornar um facilitador do ecossistema industrial, a GE criou o Predix, uma plataforma aberta baseada em nuvem, reunindo o maior número possível de parceiros.
  • 5. Cumprimento: A GE afirmou que em 2016 mais de 19.000 desenvolvedores estavam construindo software industrial no Predix.

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Referências

KOLK, Michaël et al. How hyper-collaboration accelerates ecosystem innovation. Strategy & Leadership, v. 46, n. 1, p. 23-29, 2018.

 

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Guilherme Paraol

Doutorando no PPEGC (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisa com foco em ecossistemas de inovação. Atua nos projetos de mapeamento, ativação e orquestração de ecossistemas de inovação.