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Cidades Criativas: a história da política e seus movimentos procedentes

Grupo VIA se reúne em grupo de estudos para discutir a temática Cidades Criativas

Em mais um encontro do grupo para debater habitats de inovação e empreendedorismo, Cidades Criativas foi o tema escolhido. O artigo científico abordado foi o Urban cultural policy and creative city making, em português, Política cultural urbana e formulação da cidade criativa. A autoria é de Carl Grodach que atua na pesquisa de propriedade e planejamento,  na Universidade de Tecnologia de Queensland, Austrália.

O artigo tem como objetivo inicial compreender de forma profunda a formação da política urna de Cidades Criativas. Também visa entender quais características das políticas culturais urbanas foram adotadas para essa composição. E, por fim, determinar se os novos movimentos que emergiram dessa política  representam um caminho mais progressiva pra as cidades.

O autor afirma que a política cultural urbana data da década de 80. Devido ao contexto de readaptação econômica, muitas mudanças sociais e demográficas aconteceram nas cidades nesse período. Assim, o autor encontra três narrativas que levaram os dirigentes públicos a adotar tais políticas. Primeiramente, começou um movimento da cidade voltada para o consumo. Assim, a arte e facilidades culturais eram vistas como veículo de atração de turistas e ferramenta de desenvolvimento de uso misto (moradia e trabalho). Outro relato é o começo da relação a meio de desenvolvimento cultural, tecnológico e econômico na conjuntura das cidades pós-industriais. Por fim, a gentrificação também é uma narrativa que, na época, influenciou artistas, dirigentes políticos e promotores imobiliários a adotar políticas culturais urbanas.

Políticas urbanas culturais e a tipologia de políticas de cidades criativas

Em primeiro lugar, o patrocínio público direto para a produção artística de excelência era muito utilizado para preservação e disseminação da herança cultural. Entretanto, a abordagem e os objetivos se expandiram e viraram interesse da política urbana. Assim, três tipologias de política cultural urbana foram desenvolvidas com determinados objetivos:

  • Impacto econômico da cultura: atrair investimentos para o centro da cidade e aumentar o financiamento a arte;
  • Planejamento cultural: participação e desenvolvimento da comunidade, apoiar expressões culturais locais e integrar a arte no processo de planejamento urbano;
  • Indústrias culturais: engajar comunidades marginalizadas, reconhecer as indústrias culturais além da arte, identificar a produção cultural e suas aglomerações e promover desenvolvimento econômico urbano.

Dessa forma, os três tipos de políticas de cidades criativas emergiram direta ou indiretamente das políticas culturais urbanas dos anos 80. Também, o autor declara outro fato interessante: as três têm como objetivo principal o crescimento econômico e atração de mão de obra altamente qualificada e investimento. São elas:

  • Estratégia da cidade criativa: aborda a evolução do desenvolvimento comunitário baseado no lugar para uma reestruturação urbana através de recursos culturais. Prevê facilidade para a qualidade de vida e parcerias público-privadas como abordagem.
  • Indústrias criativas: estratégia de incentivo à pesquisa & desenvolvimento e propriedade intelectual com grande foco nos setores onde conhecimento e inovação são matéria-prima. O autor critica que, nesse tratamento, grandes características das cidades criativas são postas de lado. Por exemplo, agenda de revitalização urbana, suporte à arte e cultura ficam defasados.
  • Classe criativa: prioridade para facilidades de consumo e qualidade de vida para atrair essa classe. Entretanto, não existe fomento para o desenvolvimento das indústrias onde essa classe trabalha – as indústrias criativas.

Mais notável, o autor confirma que alguns programas de cidade criativa resultaram em fomento à arte. Também responderam às necessidade das indústrias criativas e criaram benefícios para a comunidade. Entretanto, o viés de muitos outros é em torno de uma criatividade facilmente comercializada, desprezando o valor intrínseco das artes e assim falha no suporte ao desenvolvimento criativo (Markusen, 2006, 2014; Oakley & O’Connor, 2015).

Movimentos para novas diretrizes nas cidades criativas

O autor salienta que nos últimos anos aconteceram certas mudanças no discurso de cidades criativas. Como resultado de crises econômicas e recessões, houve a formação de movimentos de resistência. Acima de tudo pelo aumento da influência de grandes multinacionais e políticas de austeridade no contexto urbano. Assim, dois destes movimentos são abordados no estudo.

Um deles é o placemaking criativo. O objetivo principal é transferir o discurso de atração da classe criativa para questões comunitárias de desenvolvimento e benefício local. Assim, é observado que mais atores estão envolvidos e parcerias em diferentes níveis (sociedade, academia, empresas e governo) estão sendo feitas. Além disso, entender a arte como parte do processo de regeneração urbana e não como atração ou valorização de propriedade. Portanto, é necessário ir além de motivações econômicas e conquistar resultados multidimensionais.

Outro é a manufatura urbana junto ao movimento maker. O autor destaca uma gama de negócios, produções culturais e um novo incentivo a inovação que esse movimento possibilita. E a tendência de práticas artesanais, DIY (faça você mesmo) e produção de tecnologias digitais cresce anualmente. Além do mais, museus, bibliotecas e escolas estão abrindo espaços maker para captar esse conhecimento e inovar seus projetos criativos. Entretanto, o autor observa algumas falhas daqueles que planejam as políticas urbanas. Por exemplo, a conversão de zonas industriais em áreas apenas de consumo é inadequado tendo em vista o potencial do espaço. Assim, o autor sugere que os dirigentes políticos devem reconhecer que as cidades se beneficiam socio e economicamente com a presença de manufatura de pequena escala. Em conclusão:

O foco em indústrias criativas e economia da inovação continua em diversas partes do mundo, mas abordagens alternativas estão emergindo em torno do discurso de “fazer’. O aumento do placemaking criativo representa uma oportunidade para conduzir a política da cidade criativa em torno da atividade comunitária. Similarmente, o movimento manufatura-maker cria oportunidades para que a política cultural urbana aborde economia do conhecimento e da inovação em novas maneiras que enfatizem produtores culturais e que vão além de lógicas políticas puramente econômicas.

Referências

Markusen, A. (2006). Urban development and the politics of a creative class: evidence from a study of artists. Environment and planning A38(10), 1921-1940.

Markusen, A. (2014). CREATIVE CITIES: A 10‐YEAR RESEARCH AGENDA. Journal of Urban Affairs36(s2), 567-589.

Oakley, K., & O’Connor, J. (Eds.). (2015). The Routledge companion to the cultural industries. Routledge.

 

Quer saber mais sobre o tema? Então confira os artigos do grupo VIA sobre:

DEPINÉ, Á. C.; ELEUTHERIOU, V. C. S. ; VANZIN, T. . Creative Class: how and why to attract it to the city?.

PINTO, S.; AZEVEDO, I.; TEIXEIRA, C.; BRASIL, G.; HAMAD, A. O movimento maker: Enfoque nos fablabs brasileiros.

 

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Beatriz Maria Vicente Testoni

Graduanda em Engenharia de Materiais, estuda economia criativa e seus impactos na sociedade, com foco em cidades e distritos.