Inovação aberta: tornando divisores em impulsionadores
A inovação aberta surge como uma importante área a ser considerada pelas organizações, uma vez que considera os processos de inovação juntamente a uma integração entre diversos atores, o que se torna cada vez mais propenso devido aos avanços tecnológicos que contribuem para uma digitalização mais abrangente e democrática.
De fato, uma visão voltada para a colaboração entre as organizações e os atores externos de seu ecossistema tem ganhado força, sobretudo, para mitigar o fator de incerteza da inovação e transformar seus resultados pautados como divisores em verdadeiros impulsionadores.
Origens da Inovação aberta
O conceito de inovação aberta é bem mais recente se comparado ao de inovação em si quando se busca os estudos da área. Tendo sido introduzida em 2003 por Chesbrough em seu livro “Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology”, a inovação aberta conquista cada vez mais interesse dos estudiosos, sobretudo pelo papel que esteve a desempenhar durante a crise do novo coronavírus, que você pode ler mais a respeito em nosso post: Inovação Aberta como enfrentamento ao Novo Coronavirus.
A inovação aberta surge com a perspectiva de que o modelo de inovação das empresas tradicionais está ultrapassado, ao buscarem desenvolver seus produtos inovadores de forma isolada, dentro de seus muros, e com receio de serem interceptadas pelos seus concorrentes. Hoje, as empresas já compreenderam que quanto mais se aproveita do ecossistema onde estão inseridas, maiores a chance de alavancar o seu desempenho em inovação.
Integrar, colaborar, crescer
Uma vez que todas as empresas encontram-se inseridas em contextos onde há uma gama de atores externos, a inovação aberta pressupõe que elas podem e devem usar ideias que vem desse ambiente, bem como as próprias ideias do ambiente interno, à medida que procuram avançar em suas inovações [1].
Nesse aspecto, os processos de inovação aberta combinam ideias internas e externas em ambientes que podem ser caracterizados como plataformas, arquiteturas e sistemas usando modelos de negócios para definir os requisitos para essas arquiteturas e sistemas. Dessa forma, esses modelos de negócios, com acesso as ideias externas e internas, constroem o valor que será futuramente entregue aos usuários finais [1].
Assim, não apenas empresas, mas todos atores das distintas esferas de um ecossistema – como universidades ou órgãos públicos – têm buscado esse novo modelo de inovação. No Brasil, essa busca é ainda mais importante visto que, em países desenvolvidos, as universidades e empresas já são parceiros naturais no desenvolvimento de tecnologias, mas em países em desenvolvimento essa colaboração é ainda mais necessária ao passo que as universidades compreendem a principal fonte de conhecimento para a inovação que pode beneficiar as empresas [2].
Como acontece?
Um dos principais dilemas quando falamos na inovação aberta é: uma vez que vários atores estão envolvidos, para quem vão os resultados?
De fato, enquanto os atores criam modelos de negócios que aproveitam fontes internas e externas para agregar valor a sua propostas, eles também definem mecanismos internos para reivindicar alguma parte desse valor [1]. Vale destacar que isso é basilar em se tratando de inovação aberta: uma estratégia de processo de abertura, para ser considerada efetiva, deve equilibrar captura de valor e criação de valor. Contudo, muitas empresas perdem de vista a captura de valor durante a busca pela inovação [3].
Dessa forma, há dois tipos importantes de processos para a geração de inovação aberta: outsite-in (ou inbound: de fora pra dentro) e insideout (ou outbound: de dentro pra fora), conforme apresenta-se na figura a seguir:
O processo de outside-in envolve a abertura dos processos de inovação de uma empresa a muitos tipos de entradas e contribuições externas, sendo aquele que tem recebido a maior atenção, tanto na pesquisa acadêmica quanto na prática da indústria [1].
Já o processo de insideout para a inovação aberta caracteriza-se como um fluxo de dentro para fora e exige que as organizações permitam que ideias não utilizadas e subutilizadas saiam da organização para outras pessoas usarem em seus negócios e modelos de negócios, sendo bem menos explorada e, portanto, também menos compreendida, tanto na pesquisa acadêmica quanto na prática da indústria [1].
Importante destacar que embora entusiastas da área argumentem que mais abertura é sempre melhor (em questão de desempenho e resultados), algumas perspectivas devem ser consideradas nas abordagens de abertura do processo inovativo. Como por exemplo, se os custos da abertura excedem os benefícios da abertura, observando-se o apontamento de pesquisas acadêmicas da área a respeito de quanto se gasta (e quais exatamente são os benefícios) para desenvolver e manter comunidades e redes [3].
Divisor ou Impulsionador: o fator “incerteza” da inovação
Em termos de impacto de seus resultados, é preciso destacar que nem sempre a inovação gera processos que trespassam ou beneficiam de forma igualitária as pessoas e organizações [1].
“Na verdade, embora a inovação possa ser um grande impulsionador, também pode ser um grande divisor” (Borges et al., 2018)
Esses resultados e impactos incertos caracterizam um fator de incerteza na inovação, ligado tanto ao contexto quanto às tendências que vivenciamos. A globalização, a evolução tecnológica, a rapidez nos processos, tudo isso confere características dinâmicas e complexas que tornam, por vezes, imprevisíveis os impactos a longo prazo de uma inovação.
Nesse aspecto, Borges et al. (2018) [1] destacam que para aqueles a quem compete elaborar políticas e incentivos deve-se predominar um olhar sob a incerteza quanto a quais tecnologias disruptivas emergentes devem ser encorajadas publicamente a fim de promover o bem-estar. Os autores ressaltam que essa incerteza não é nova, mas nunca foi tão intensa. Assim, reafirmam a importância de considerar como podemos estimular as tecnologias digitais para um impacto social e econômico positivo.
É com essa premissa que os autores discutem a necessidade de formulação de políticas eficazes em torno da inovação aberta, afim de aproveitar o valor agregado da abertura na ciência e, ao mesmo tempo, promover o investimento necessário para transformar iniciativas abertas em novas tecnologias e novos modelos de negócios, garantindo assim um modelo autossustentável para aquela ideia. Os autores ainda afirmam, sobretudo, que o avanço na digitalização dos processos e da democratização das tecnologias digitais torna o momento ideal para alavancar ciência e a inovação mais abertas, colaborativas e globais.
Inovação aberta: tornando divisores em impulsionadores
A inovação aberta terá um papel fundamental nas economias desenvolvidas na próxima década, onde os avanços tecnológicos estarão cada vez mais propensos a iniciativas sociais e ambientais, como aquelas dispostas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 [1]. Com essa visão, Borges et al. (2018) destacam algumas iniciativas para as quais as políticas de inovação aberta podem se direcionar, dentre as quais:
A) Fortalecer as políticas que visam estabelecer ligações entre ciência e inovação buscando promover melhor integração entre essas áreas. Como exemplo de iniciativa que contempla essa visão, os autores citam um mandato para que todos os projetos de pesquisa financiados sob a égide da Comissão Europeia abram seus resultados publicamente – e, sempre que possível, os conjuntos de dados que eles geram – de uma forma que sejam livres para o público acessar, usar e combinar de novas maneiras. Destacam, sobretudo, que isso gera incentivos e impulsiona benefícios ocasionados por parcerias público-privadas, promovendo vínculos fortes também entre universidades e a indústria [1].
B) Pensar em políticas voltadas para mitigar o fator incerteza. Nesse ponto, os autores exemplificam iniciativas onde o financiamento para a inovação tenha propostas de demandas pré-definidas, como direcionamento para fatores energéticos, de mobilidade, transformação digital, entre outros. Assim, apontam que problemas complexos do ecossistema poderão ser tratados pelo resultado das inovações que surgirão, sobretudo pelo fato de que as inovações disruptivas mais interessantes acontecem na interseção de disciplinas e setores [1].
E no Brasil?
Para quem quiser conhecer mais sobre como vai o movimento de empresas que abraçam a inovação aberta no Brasil vale dar uma olhada em um recente estudo publicado pela 100 Open Startups: PANORAMA DA OPEN INNOVATION ENTRE CORPORAÇÕES E STARTUPS NO BRASIL | 2016-2021.
Referências
Esse post foi baseado no estudo:
[1] BOGERS, Marcel; CHESBROUGH, Henry; MOEDAS, Carlos. Open innovation: Research, practices, and policies. California management review, v. 60, n. 2, p. 5-16, 2018.
Com referências adicionais:
[2] STAL, Eva; ANDREASSI, Tales; FUJINO, Asa. The role of university incubators in stimulating academic entrepreneurship. RAI Revista de Administração e Inovação, v. 13, n. 2, p. 89-98, 2016.
[3] CHESBROUGH, Henry W.; APPLEYARD, Melissa M. Open innovation and strategy. California management review, v. 50, n. 1, p. 57-76, 2007.
Carlos Marcelo Faustino da Silva
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