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Explorando os limites do ecossistema de inovação

Olá, tudo bem? O post de hoje discute como as fronteiras devem ser determinadas nos ecossistemas de inovação emergentes. Para tanto, utilizo do estudo realizado por Phillips e Srai (2018), que analisaram a determinação de limites nos ecossistemas emergentes. Estes limites são problemáticos em sua definição, onde há um contexto dinâmico e emergente, com a participação e a saída de diversos atores. Assim, Phillips e Srai (2018) utilizaram extensas entrevistas e mapeamentos, para definir um ecossistema mais amplo. Em seguida, realizaram cinco estudos de caso detalhados. Nesse sentido, os limites específicos do ecossistema de inovação foram mapeados à medida que surgiam e evoluíam.

Entendendo quem está no ecossistema

Um desafio comum é a definição de limites dos ecossistemas que se estende aos próprios inovadores. Assim, conhecer quem está no ecossistema e suas competências é vital para entender as possibilidades de competição e cooperação inerentes aos ecossistemas. Isso se torna mais desafiador quando o ecossistema emerge ou evolui rapidamente, cruzando as fronteiras existentes, como é o caso da inovação e dos ecossistemas dinâmicos. Além disso, a pesquisa sobre os limites dos ecossistemas de inovação é limitada, especialmente nos estágios iniciais do ciclo de vida.

A pesquisa de Phillips e Srai (2018) destacou a relevância de ver as organizações e seus ambientes como sistemas, caracterizados por interdependência, co-evolução, comportamento não linear e desafios. Assim, a inovação nos sistemas setoriais ocorre no contexto de produtos, agentes, processos de conhecimento, interações e instituições das empresas. Por sua vez, a inovação convergente ou intersetorial possui limites mais difusos, conhecimento distante e diversos atores, abrangendo setores e regimes sociotécnicos.

Ainda, as pesquisas sobre ecossistema de inovação se concentram no que é e para que serve. Por outro lado, há pouco foco em como são projetados ou criados e nos seus processos.

Desafios na definição de limites no ecossistema

A importância dos limites está bem estabelecida na literatura de sistemas. Assim, sistemas sociais complexos possuem fronteiras difusas. Ainda, são uma função da atividade do próprio sistema. Portanto, o limite depende da perspectiva. Desse modo, em sistemas sociais com limites difusos ou ‘abertos’, como ecossistemas de inovação, os atores entram e saem, acrescentando complexidade à determinação e à pesquisa em ecossistemas. Além disso, todos os sistemas complexos têm hierarquia, portanto existem sistemas dentro dos sistemas.

Utilizando uma abordagem de população na comunidade, os pesquisadores descrevem limites com base na geografia ou nos limites da firma focal ou mais amplamente em um ‘domínio central’ ou indústria. Há ainda abordagens para a determinação de limites, com foco em atores (quem), relações sociais (sua ‘relação e frequência’) e atividades ou processos; que é implicitamente uma visão de sistemas. Por outro lado, também existem quatro concepções internamente consistentes e distintas para limites organizacionais: eficiência (perspectiva de propriedade), poder (ênfase na influência), competência (capacidade) e identidade (mentalidade); nessa ordem.

Um outro desafio é: qual o limite? Na realidade, existem múltiplas fronteiras, dependentes da perspectiva da empresa inovadora. Um ecossistema de inovação, com uma empresa focal, é frequentemente considerado
uma rede gerenciada. Mas além disso, pode haver meta-ecossistemas. Estes são conjuntos de ecossistemas conectados por fluxos por meio dos limites dos ecossistemas. Assim, em nível nacional, a gestão é indireta, de modo que os ecossistemas podem ser considerados orquestrados por empresas focais que se situam dentro dos ecossistemas de nível nacional.

Entendendo o ‘meta’ ecossistema

Phillips e Srai (2018) criaram um mapa do meta ecossistema nacional com seus limites. Também agruparam os atores do ecossistema em ‘tipos’ (por exemplo, políticas, financiamento), como subsistemas e fornecem uma estrutura de alto nível. Além disso, embora ‘a nível nacional’, também incluiu muitos atores globais, e assim se estende por limites geográficos, o que é comum para os ecossistemas.

Esse ecossistema ‘nacional’ pode ser considerado semelhante a um ‘ecossistema natural’, não gerenciado diretamente. Ainda, no meta ecossistema existem múltiplos ecossistemas interconectados. O mapa resultante pode ser visualizado na figura 1. A figura descreve os principais grupos de tipos de atores e forma o contexto para os cases de ecossistema de inovação. Assim, este mapa fornece uma visão geral do escopo e dos principais tipos de atores (que são heterogêneos). No entanto, esconde a sua verdadeira complexidade.

Figura 1: Mapeamento do meta ecossistema completo. Fonte: Phillips e Srai (2018).

Os atores ‘pontilhados’ na figura 2 podem ser considerados presentes em um mapa de alto nível, mas foram
identificados como ausentes em grande parte do ecossistema pelo mapeamento de nível inferior. De fato, esse resultado foi econtrado em vários subsistemas. Assim, sugere-se que mapas com 1 único nível não seja adequado. Portanto, mapas com vários níveis são úteis. Além disso, os resultados indicam que o papel das instituições
(ou a falta delas) é mais significativo nos ecossistemas emergentes e na definição dos seus limites.

Figura 2: Exemplo de mapeamento no nível inferior. Fonte: Phillips e Srai (2018).

Entendendo os cases do ecossistema

A segunda fase utilizou casos longitudinais para cada ecossistema de inovação que podem ser considerados
ecossistemas ‘gerenciados’. Assim, uma descoberta importante de Phillips e Srai (2018), é que, à medida que os ecossistemas se desenvolvem, os novos atores precisam ser legitimizados pelo ecossistema. Portanto, a contribuição e os relacionamentos são relevantes para determinar a “associação” e os limites do ecossistema.

Até empresas grandes ou multinacionais que ingressam em um novo ecossistema precisam estabelecer legitimidade ou credibilidade para serem consideradas parte do ecossistema. Ainda, a natureza de seus relacionamentos muda à medida que o ecossistema evolui.

Evolução do ecossistema e seu impacto nos seus limites

O ciclo de vida influencia os limites do ecossistema de várias maneiras. Não apenas na identificação de atores quando se juntam ou saem, mas sobre “quem está no ecossistema”. Para sistemas nascentes, a ‘identidade’ é inicialmente importante. Posteriormente, os inovadores buscam construir relacionamentos, entendendo-os em termos de credibilidade (por exemplo, legitimidade) ou competência.

Além disso, os relacionamentos podem mudar significativamente à medida que os atores se posicionam para
obter vantagens. Assim, aspectos como ‘poder’ se tornam mais relevantes. Portanto, os problemas de ecossistema e de fronteira evoluem exigindo mudanças no foco do inovador. Na tentativa de mapear essas nuances, os
mapas do ecossistema foram anotados para identificar e destacar os principais atores e relacionamentos (ver exemplo, Fig. 6).

Contribuição

Existem evidências na pesquisa de Phillips e Srai (2018) que nem todas as atividades relevantes para definir um limite são orquestradas por um ‘centro’. Fatores mais amplos parecem influenciar o desenvolvimento das fronteiras. Portanto, a perspectiva do ecossistema parece mais relevante do que a de uma ‘rede’ orquestrada ou gerenciada.

Nos estágios iniciais do ciclo de vida, abordagens semelhantes foram usadas para determinar os limites nos meta-ecossistemas e a nível da empresa. No entanto, o mapeamento em vários níveis é necessário para identificar nuances além da rede de valor para abranger os atores de suporte de valor e suporte empresarial. Portanto, os mapas devem ser complementados com outras análises, como a análise das partes interessadas para fornecer múltiplas perspectivas e abordar as limitações apenas na visualização.

Como diferentes atores podem ter perspectivas diferentes, é necessário, portanto, explorar múltiplas perspectivas.. A análise de rede e as ferramentas associadas podem ser valiosas para grandes ecossistemas. Porém, sua natureza dinâmica e a necessidade de construir uma compreensão mútua nessa fase podem inibir seu uso.

Portanto, é importante ressaltar que a determinação de limites no início do ciclo de vida deve, sempre que possível, ser conduzida em diálogo com os atores para garantir alinhamento no entendimento. Assim, à medida que os ecossistemas se estabelecem, outras abordagens se tornam cada vez mais viáveis, incluindo pesquisas estruturadas e análise de redes sociais.

Impacto da dinâmica de limites na abordagem de determinação

Phillips e Srai (2018)  revelam ainda que as fronteiras do ecossistema evoluem, não apenas impulsionadas pelos atores que chegam e partem. À medida que o ecossistema evolui, outros fatores surgem como considerações importantes na determinação da “legitimidade” e, portanto, da associação.

Portanto, sugere-se que, durante o ciclo de vida do ecossistema, o conceito de limite e foco possa passar da
identidade para a competência, poder e eficiência. Isso, à medida que os atores passam das ações de busca de credibilidade para vantagem.

Implicações práticas

Para os inovadores, entender seu ecossistema, suas oportunidades e limites são fundamentais. Assim, o mapeamento bem feito do ecossistema é essencial para identificar conhecimentos, possíveis parceiros e lacunas em seu ecossistema. Compreender questões mais amplas do ecossistema (como lacunas institucionais) é a chave para identificar ações para nutrir uma inovação, mas pode exigir vários níveis de análise.

A maioria dos ecossistemas emergentes é, por definição, dinâmica. Portanto, é improvável que um único mapa ‘instantâneo’ seja adequado. Assim, os atores ou subsistemas devem ser revisados repetidamente à medida que evoluem. Dessa forma, a necessidade de envolver diversos atores e atualizar frequentemente o mapeamento, Phillips e Srai (2018) sugerem que ferramentas mais simples devem ser utilizadas. Após a evolução do ecossistema, sim, ferramentas como análise de rede podem ser conduzidas com eficiência.

Quer saber mais? Acesse: ecossistema de inovação: alinhamento conceitual.

Referências

PHILLIPS, Mark A.; SRAI, Jagjit Singh. Exploring emerging ecosystem boundaries: defining ‘the game’. International Journal of Innovation Management, v. 22, n. 08, p. 1840012, 2018.

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Guilherme Paraol

Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisas com foco em ecossistemas de inovação. Atua em diversos projetos de inovação.