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A importância das aceleradoras para o crescimento das startups

O presente post discute como as práticas de inovação aberta realizadas pelas aceleradoras podem ajudar as startups a superarem as falhas nos seus primeiros anos de existência, baseado no estudo de Battistella, Toni e Pessot (2016).

A criação de novas empresas

Schumpeter em 1934 já mencionava que as novas empresas são as principais impulsionadoras do desenvolvimento econômico, uma vez que, geralmente são criadas para transformar ideias em inovações. Estas novas empresas muitas vezes são identificadas como startups. Battistella, Toni e Pessot (2016) entendem como startup toda aquela empresa que atende aos seguintes critérios:  i) possuem um modelo de negócio escalável; ii) possuem uma base de clientes que seja fácil de aumentar; iii) são repetíveis no tempo; e, iv) são empresas lucrativas.

Mesmo que sejam inovadoras, as startups têm muita dificuldade para sobreviver no mercado nos seus primeiros anos de existência.  Battistella, Toni e Pessot (2016) mencionam que cerca de 70% fecham nos cincos anos inicias. Tais obstáculos ocorrem principalmente devido a falta de recursos para investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e de estrutura interna gerencial adequada.

 

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A Inovação Aberta e as Aceleradoras

Tais dificuldades podem ser superadas com a abertura do processo de inovação. Por meio da inovação aberta, as empresas em estágios iniciais podem acessar o conhecimento externo, assim como, criar relações comerciais. Alguns benefícios da inovação aberta para as startups correspondem ao acesso ao conhecimento externo; aumento da sua reputação e reconhecimento no mercado; apoio no desenvolvimento do empreendimento; maior facilidade para fazerem networking; e, por fim, aproximação com outros atores do ecossistema (BATTISTELLA; TONI; PESSOT, 2016).

Além da inovação aberta, instituições como incubadoras, aceleradoras e investidores-anjo são reconhecidas por impulsionar novos empreendimentos. As incubadoras já são um fenômeno bem estudado na literatura. No entanto, as aceleradoras são um fenômeno recente e em ascensão que carecem de uma maior atenção acadêmica.

As aceleradoras derivam das incubadoras, e assim como estas, se concentram no estágio inicial de desenvolvimento das empresas e fornecem serviços de apoio empresarial. Porém, diferentemente das incubadoras, as aceleradoras possuem uma orientação limitada no tempo, geralmente 3 meses, e atuam de forma intensa.  Os aspectos mais valiosos das aceleradoras são a intensa orientação e aconselhamento e o oferecimento de inúmeras oportunidades de networking com investidores e outras startups (BATTISTELLA; TONI; PESSOT, 2016).

Estudo de caso na Aceleradora Searchchamp do Reino Unido

Com base nessa perspectiva, Battistella, Toni e Pessot (2016) realizaram um estudo para investigar como o contexto de inovação aberta oferecido pelas aceleradoras pode afetar o crescimento bem-sucedido de startups. Para tanto, realizaram um estudo de caso na aceleradora Searchchamp do Reino Unido no ano de 2013.

Os autores acompanharam o programa da aceleradora britânica durantes os 3 meses de duração.  O programa selecionou 8 startups que atuavam com internet. Estas startups receberam um aporte inicial de 20.000 euros para se dedicarem exclusivamente ao programa. A média deste tipo de investimento varia de 16.000 à 30.000 euros. Em contrapartida, a Searchcamp fica com 10% das ações das startups. A média encontrada na literatura varia de 5% à 15% (BATTISTELLA; TONI; PESSOT, 2016).

Resultados

Após o processo de aceleração, duas startups saíram por motivos legais, três fecharam devido ao alto investimento necessário para a continuidade dos negócios, duas foram adquiridas por uma grande empresa e apenas uma continuou operando com bons resultados, a empresa Tangle Labs. Durante o processo, a Searchcamp atuou principalmente em atividades de networking e mentoria, buscando melhorar a falta de gestão geral e as habilidades empreendedoras das startups.

Com relação a networking, as atividades da aceleradora foram:

  • Consultoria tributária e jurídica, ajudando as empresas a formalizarem a empresa.
  • Startups, organizando reuniões mensais e eventos especiais como hackatons e demonstrações de produtos.
  • Investidores, fornecendo financiamento mais promissores por meio da rede de investidores anjo da própria aceleradora.
  • Parceiros técnicos, parceiros que apoiam o desenvolvimento técnico do produto ou serviço, por exemplo, com serviços de teste e prototipagem.

Com relação as atividades de mentoria foram:

  • Educação/workshops: workshops dedicados a questões específicas e ministradas por técnicos, empreendedores e especialistas técnicos.
  • Mentoria, oferecendo conselhos, recomendações e feedback baseados na experiência dos empreendedores.

Portanto, a Searchcamp, segundo concluem Battistella, Toni e Pessot (2016) atuou em todos os fatores determinantes da falha nos anos iniciais das startups. Além disso, os serviços oferecidos pela aceleradora atenderam à maioria das práticas de inovação aberta adotada pelas pequenas e médias empresas.

Conclusão

Mesmo constatando que a Aceleradora Searchcamp promoveu diversas práticas e atividades de inovação aberta, pode-se dizer que abrir o processo de inovação não resolve todos os problemas. Portanto, muitas vezes as falhas das startups estão relacionadas com a equipe e com problemas internos que não podem ser solucionados num programa de aceleramento.

Assim, é preciso que a equipe tenha uma “mente aberta”, e que seja uma equipe capaz de desenvolver a empresa, caso da startup Tangle Labs, que participou de todas as atividades de aceleramento e conseguiu continuar desenvolvendo a empresa.

Como resposta final do artigo os autores colocam:

As práticas de inovação aberta facilitadas pelas ferramentas e práticas oferecidas pelos programas de aceleração abordam causas potenciais específicas de falha das startups, em particular aquelas relacionadas a características de produtos ou serviços, mercado alvo/necessidade de atenção, foco estratégico e administração e indústria relativas (BATTISTELLA; TONI; PESSOT, p.99 2016).

Por fim, o ambiente de inovação aberta oferecida por um aceleradora pode facilitar muitas práticas que beneficiam diretamente startups em suas fases iniciais de desenvolvimento. Principalmente, quando há “mente aberta” por parte dos fundadores.

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Referências

BATTISTELLA, Cinzia; TONI, Alberto F. de; PESSOT, Elena. Open accelerators for start-ups success: a case study. European Journal of Innovation Management, [s.l.], v. 20, n. 1, p.80-111, 9 jan. 2017.

SCHUMPETER, J.A. The Theory of Economic Development. Harvard University Press, Cambridge,MA, 1934.

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Guilherme Paraol

Doutorando no PPEGC (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisa com foco em ecossistemas de inovação. Atua nos projetos de mapeamento, ativação e orquestração de ecossistemas de inovação.