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Oito recomendações para construção de um ecossistema regional de inovação

O ecossistema de inovação de Cairns

Olá, tudo bem? hoje o post do blog é um complemento ao post Desenvolvimento de um ecossistema de inovação em Cairns na Austrália. Dessa forma, após discutir como o empreededor Troy Haines ajudou a construir o ecossistema da região australiana, apresento oito recomendações de Troy Haines (2019) para construção de um ecossistema regional de inovação. Além disso, apresento como aplicar esse modelo em outras regiões.

Lições aprendidas

Haines (2019) revela que a construção do ecossistema de Cairns envolveram muitas tentativas e erros, e portanto, lições foram aprendidas. Dessa forma, o empreendedor elencou 8 recomendações para construção de um ecossistema regional de inovação:

1. A construção de um ecossistema exige mais do que apenas o financiamento de uma aceleradora ou incubadora.

A construção de ecossistemas exige a reunião de diversos componentes – especialmente pessoas – e o desenvolvimento de um processo para transformar ideias em realidade. O objetivo é trazer capacidade  e sustentabilidade de longo prazo para a região, de onde as empresas emergirão, não apenas no curto prazo.

2. Adote uma abordagem enxuta para o espaço físico.

Um espaço físico fornece um local para a realização de eventos e programas e oferece aos empreendedores um lugar para trabalhar, além de ajudar a fornecer um foco ao ecossistema. No entanto, muitos ecossistemas dedicam
muito esforço (e despesa) a fornecer um espaço físico polido desde o início. Mas, Haines (2019) menciona que nos estágios iniciais da construção de um ecossistema, o crescimento da comunidade e da infraestrutura flexível (isto é, o ecossistema e a cultura) são muito mais importantes. Desse modo, é preciso incentivar uma mentalidade enxuta para aumentar o espaço de trabalho conforme as necessidades da comunidade em crescimento.

3. Reflita a região.

Embora a abordagem possa geralmente ser aplicada a qualquer região e os empreendedores podem iniciar negócios globais, é importante que o ecossistema reflita e adote a singularidade de sua própria região.

4. Veja a tecnologia como apenas parte da solução.

Um ecossistema de inovação não se refere apenas aos “desenvolvedores de aplicativos”. Por exemplo, Haines (2019) menciona que algumas das pessoas mais inovadoras das regiões são profissionais. A oportunidade, portanto, é levar a tecnologia para aquilo que as regiões já fazem bem. Além disso, educar os empreendedores em um processo eficaz de comercialização.

5. Construtores de ecossistemas remunerados.

Os ecossistemas que dependem exclusivamente de voluntários exercem uma enorme pressão sobre essas pessoas. Assim, inevitavelmente, apesar de seus melhores esforços, se esgotam e seguem em frente. Ter um treinador (profisisonal) de inovação ajuda a superar o esgotamento voluntário.

6. Foco na sustentabilidade.

O financiamento inicial de indivíduos de alto patrimônio líquido ou de agências governamentais para iniciar um ecossistema certamente pode ser útil. Porém, os benefícios logo se esgotarão se o modelo de negócios subjacente não for sustentável ou se o investimento inicial fornecer apenas infraestrutura rígida. Portanto, construir uma comunidade é muito mais importante.

7. Preste atenção às funções.

Em um ecossistema, as partes interessadas podem fazer ou assumir funções específicas que podem causar mais mal do que bem, mesmo quando bem intençionados. Esse risco destaca a necessidade de construir e manter relacionamentos com as principais partes interessadas, incentivar conexões e ajudar indivíduos ou organizações a encontrar ou criar funções benéficas.

8. Crie desde o início.

Ter um profissional de inovação fornece suporte para empreendedores em estágio inicial. Isto porque, geralmente os empreendedores estão num estágio muito inicial, o que faz com que os mentores passem muito tempo orientando questões basilares. Desse modo, essa abordagem promove uma base para a ideação nas comunidades e ajuda a construir o ecossistema organicamente.

Próximas etapas: aplicando o modelo a outras regiões

A SPACE está avaliando o status de outras regiões na Austrália para aplicar o modelo iniciado em Cairns. Este trabalho está sendo apoiado pela Universidade Charles Sturt, que tem como função:

i) revisar a literatura atual sobre ecossistemas regionais de startups/inovação;

ii) pesquisar diferentes modelos que atualmente estão sendo utilizados nas regiões e;

iii) comparar as descobertas com os resultados gerado pelo modelo de Cairns.

Regiões Piloto

Haines (2019) revela que foram realizadas discussões iniciais com 13 regiões. Além disso, iniciaram o projeto com uma região piloto, uma área rural a 80 km de Cairns. O objetivo é ajudá-los no desenvolvimento de seu próprio ecossistema de inicialização e inovação.

Photo by Joey Csunyo on Unsplash

As primeiras impressões dessa região piloto revelam o seguinte:

1. A região tem alguns motivadores apaixonados pelo ecossistema, mas nenhum verdadeiro campeão;
2. As principais partes interessadas podem ser identificadas, mas muito poucas foram efetivamente envolvidas;
3. A região carece de um espaço físico para servir como centro do ecossistema;
4. Um número limitado de eventos foi realizado, incluindo oito pequenos eventos relacionados à inovação e empreendedorismo, além de um startup Weekend.

Assim, o trabalho na região piloto está focado em:

1. Nomear uma equipe campeã de nove pessoas que estão atualmente sendo orientadas pela SPACE;
2. Apoiar a região como anfitrião nacional do Desafio Internacional Futuro de Agro Inovação. A agricultura é uma área de foco para o ecossistema;
3. Construir o ecossistema e também criar as próprias consultorias e startups da região;
4. Organizar eventos de startups semestrais, realizados pelos campeões da região.

Conclusão

Por fim, Haines (2019) menciona que estão acontecendo atividades positivas em regiões e campeões inspirados a
fazer o trabalho de construção dos ecossistemas. Assim, fornece sua receita para criação de um ecossistema:

Nossas regiões estão começando a entender que construir ecossistemas para o crescimento econômico é muito mais do que um objetivo a curto prazo de estabelecer uma incubadora ou aceleradora. Construir um ecossistema é criar uma mudança cultural que permita que uma comunidade seja estrategicamente ágil no futuro. Exige trabalhar com alunos de escolas e universidades e ensinar-lhes os fundamentos do empreendedorismo, particularmente como transformar uma ideia em um negócio escalável.

Por sua vez, revela que o papel do campeão é se envolver com as partes interessadas e os empreendedores para mudar sua atenção e fornecer o conhecimento e o apoio necessários para transformar seus sonhos em realidade. Ainda, revela que o desenvolvimento econômico de uma região depende de uma ampla cultura de empreendedorismo que não seja avessa a riscos e que veja o fracasso estratégico como uma oportunidade de aprendizado.

Desse modo, para permanecer relevante na economia global moderna, as regiões da Austrália (e do mundo todo) devem construir os ecossistemas e aplicar os processos que ajudam os empreendedores a transformar boas idéias em negócios escaláveis e de alto crescimento. Esse é o caminho iniciado em Cairns, que pode servir de inspiração para outras regiões.

Caso você não leu o primeiro post sobre este ecossistema, acesse aqui.

Acesse o artigo de Haines (2016) na íntegra.

Quer saber mais sobre ecossistema de inovação? Acesse nosso ebook.

Acesse outros posts no nosso blog sobre ecossistema de inovação.

Referência

Haines, T. 2016. Developing a Startup and Innovation Ecosystem in Regional Australia. Technology Innovation Management Review, 6(6): 24-32. http://doi.org/10.22215/timreview/994

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Guilherme Paraol

Doutorando no PPEGC (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisa com foco em ecossistemas de inovação. Atua nos projetos de mapeamento, ativação e orquestração de ecossistemas de inovação.