Spin-offs acadêmicas: conceitos e desafios
Spin-offs acadêmicas: o que, como, por quê?
Spin-offs acadêmicas são empresas criadas dentro de instituições de ensino de forma a comercializar as pesquisas e conhecimentos ali criados. Assim, sua importância vem da premissa de que tornam acessíveis para o mercado as soluções desenvolvidas em âmbitos acadêmicos.
Da mesma forma, um outro motivo importante que surge na geração de spin-offs é quando um time de pesquisadores (normalmente jovens estudantes) está em busca de novas possibilidades de carreira fora da universidade [1].
Entretanto, apesar de terem esse papel tão fundamental, algumas dificuldades são encontradas na criação e desenvolvimento dessas empresas.
Isso porque no meio acadêmico, muitos profissionais têm experiência em pesquisa, mas não possuem expertise em empreendedorismo e mercado. E, para que uma spin-off cresça, ela precisa progressivamente ir se distanciando da academia e crescendo no mercado [2].
Todas iguais?
Mesmo com a noção que nascem dentro de universidades, as spin-offs podem apresentar muitas distinções entre si. Assim no contexto de transferência tecnológica nas universidades, destacam-se três tipos de spin-offs: spin-offs de transferência de pesquisa, spinf-offs de transferência de métodos e spin-offs de competências [6]:
Transferência de Pesquisa: quando para a criação da firma, os resultados de uma pesquisa (desenvolvida por pelo menos um dos fundadores) foi indispensável para criar a empresa.
Transferência de Métodos: quando algum método que um dos pesquisadores adquiriu durante sua vivência acadêmica se incorporou de forma indispensável na criação da empresa.
Competências: quando alguma habilidade específica que foi adquirida por um dos fundadores durante seu tempo acadêmico foi indispensável para a criação da empresa.
Destaca-se que cada um desses tipos possui particularidades que estabelecem prós e contras bem específicos entre si.
Desafios das spin-offs acadêmicas
Desse modo, devido as suas origens não-comerciais alinhadas com sua proposta de ser um empreendimento, as spin-offs encontram dificuldades no acesso a recursos e habilidades necessárias para sobreviverem [5]. No momento de criação, essas empresas estão inseridas na universidade e os recursos da academia são os primeiros a exercer sua influência.
Assim, nesse momento, quatro obstáculos podem ser observados que precisarão ser superados [2]:
- Transformar um time muito acadêmico em empreendedores.
- Financiamento para se desenvolver.
- Recursos tecnológicos para evoluir seu protótipo inicial.
- Credibilidade de mercado.
Além disso, claro, elas são empresas sujeitas as dificuldades de todo e qualquer outro empreendimento que deseje lançar no mercado o desenvolvimento de novas tecnologias [3].
O “vale da morte”
Na transição da universidade para o mercado encontra-se um ponto delicado para as spin-offs: o “vale da morte”, onde a maioria delas fracassa. Isso porque o aumento da produção/entrega vira uma necessidade ainda em um momento onde existe uma intensa falta de capital de investimento [7].
Nesse momento alguém pode pensar: mas se as pesquisas e tecnologias são tão inovadoras assim e tem potencial de mercado, por que não atraem investidores?
Um dos motivos é porque o produto ou serviço, dentro da universidade, dificilmente encontra meios para se desenvolver além de protótipos. Assim, não se tornam atraentes devido a necessidade de quantidades significativas de capital, sem serem capazes de pagar de volta no tempo limitado normalmente exigido [7]. Isso, sem contar os riscos que inovações costumam enfrentar ao entrar no mercado, justamente por serem inovações e não terem um público já validado, como os produtos e serviços tradicionais.
Como lidar com esses desafios?
Nesse momento com os primeiros obstáculos da criação, escritórios de transferência tecnológica, incubadoras e parques científicos surgem como ferramentas capazes de mentorar e transferir experiências de gestão, negócios e competências comerciais [2][4]. Assim como instituições do próprio governo e firmas de investimentos (venture capital) surgem como alternativas para um financiamento inicial. Mesmo que, por conta de sua pouca credibilidade de mercado devido ao contexto intensamente acadêmico, as spin-offs possam ter certa dificuldade de acesso [2].
Entretanto, é importante destacar que o conjunto de políticas e instrumentos que podem ser implementados por universidades para apoiar spin-offs acadêmicos é bastante variado. Isso por seus contextos possuem especificidades e dependem de fatores muito únicos de cada uma, como: fase de intervenção, das disciplinas visadas, do tipo de apoio, o ambiente institucional em que elas operam, etc. [3].
A universidade e o ecossistema
Do mesmo modo, é indicado em peso nas pesquisas que para o sucesso das spin-offs as universidades precisam desenvolver a consciência de um papel mais ativo no estímulo ao empreendedorismo acadêmico. Assim, estreitariam sua ligação com atores externos importantes ligados ao mercado [2] [3].
Portanto, é importante que a universidade assuma um papel de facilitadora em seu ecossistema. Isso porque estudos indicam que quando a universidade faz a mediação de um networking entre as spin-offs e agentes da indústria, há estímulo dos comportamentos empreendedores [5].
E o governo?
Quanto ao governo, fica a sugestão de apoiarem parques científicos próximos a universidades, devido a seus importantes papeis no apoio a esse tipo de empresa [2]. Da mesma forma, o suporte do próprio governo também é indicado como um fator de sucesso. Programas de suporte a pesquisas e apoio a novos negócios podem gerar efeitos positivos para as spin-offs. Nesse sentido, é importante que o governo se atenha ao contexto regional na criação de seus programas de apoio [4].
Dica de conteúdo
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REFERÊNCIAS
[1] RIZZO, Ugo. Why do scientists create academic spin-offs? The influence of the context. The Journal of Technology Transfer, v. 40, n. 2, p. 198-226, 2015.
[2] FERNÁNDEZ-ALLES, Mariluz; CAMELO-ORDAZ, Carmen; FRANCO-LEAL, Noelia. Key resources and actors for the evolution of academic spin-offs. The Journal of Technology Transfer, v. 40, n. 6, p. 976-1002, 2015.
[3] FINI, Riccardo et al. Complements or substitutes? The role of universities and local context in supporting the creation of academic spin-offs. Research Policy, v. 40, n. 8, p. 1113-1127, 2011.
[4] STERNBERG, Rolf. Success factors of university-spin-offs: Regional government support programs versus regional environment. Technovation, v. 34, n. 3, p. 137-148, 2014.
[5] DIÁNEZ-GONZÁLEZ, Juan Pablo; CAMELO-ORDAZ, Carmen. The influence of the structure of social networks on academic spin-offs’ entrepreneurial orientation. Industrial Marketing Management, v. 80, p. 84-98, 2019.
[6] MÜLLER, Kathrin. Academic spin-off’s transfer speed—Analyzing the time from leaving university to venture. Research Policy, v. 39, n. 2, p. 189-199, 2010.
[7] VAN GEENHUIZEN, Marina; NEJABAT, Razie. University spin-off firms in sustainable energy in five countries: What determines their reaching of the market?. 2016.
Carlos Marcelo Faustino da Silva
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