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Habitats de Inovação e sua importância nas universidades latino-americanas

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizou um estudo sobre a Inovação e o Empreendedorismo em universidades da América Latina, dentre as vários aspectos abordados, destaca-se a importância dos habitats de inovação como intermediários da inovação.

Universidades empreendedoras

Nas últimas quatro décadas, as universidades empreendedoras começaram a se envolver mais com seu ecossistema e algumas universidades se tornaram os principais impulsionadores do desenvolvimento econômico em sua região. Elas apoiam uma nova geração de empreendedores, ensinando habilidades empreendedoras e fornecendo instalações de incubação e produzindo pesquisas com impacto (OCDE, 2022).

Concretamente, as atividades da terceira missão podem referir-se à educação contínua ou aprendizagem ao longo da vida, inovação, transferência de conhecimento e tecnologia, engajamento social (trabalho voluntário, programas culturais) e programas de empreendedorismo (OCDE, 2022).

 

Estudo da OCDE

O  estudo concentrou-se em duas dimensões da estrutura orientadora do HEInnovate: educação para o empreendedorismo e transferência de conhecimento.

Onze universidades se ofereceram para participar do processo como estudos de caso: 

Colômbia: Pontificia Universidade Javeriana, Universidade Nacional da Colômbia (UNAL) e Universidade Icesi.

México: Instituto de Tecnologia Monterrey e Universidade Anahuac

Brasil: Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade de São Paulo (USP)

Chile:  Universidade Adolfo Ibáñez (UAI), Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUC)

Argentina: Universidade Empresarial Século 21

Uruguai: Universidade Tecnológica do Uruguai (UTEC)

O processo de apuração dos fatos foi realizado virtualmente, por meio de 22 entrevistas bilaterais online (ou 2 entrevistas com cada instituição sobre os temas abordados na revisão). As entrevistas focaram na educação para o empreendedorismo e como essas práticas permitiram que as IES interagissem com seus ecossistemas (OCDE, 2022).

América Latina

A região latino-americana, em média, sofre com a falta de investimento público e privado em pesquisa e desenvolvimento (P&D), o que dificulta o crescimento impulsionado pela inovação (OCDE, 2022).

Além disso, a intensidade de P&D varia dentro da região: Argentina e Brasil lideram em comparação com outros países como Colômbia e México (OCDE, 2022).

A capacidade de absorção das empresas e o apoio estatal à P&D afetam a capacidade das universidades de colaborar e transferir conhecimento (SERRA et al, 2018)

Iniciativas de Habitats de Inovação nas universidades

habitats de inovaçãoAs universidades empreendedoras em todo o mundo implementaram recursos e estruturas dedicados, como unidades de empreendedorismo, incubadoras ou aceleradoras. Essas unidades, especialmente as aceleradoras, são uma porta de entrada para as universidades se conectarem com players externos para construir mais inovação e empreendedorismo (OCDE, 2022).

Atividades extracurriculares para apoiar a mentalidade empreendedora: unidades de empreendedorismo dedicadas, como incubadoras universitárias, aceleradoras ou outras entidades, desempenham um papel crítico na concepção e implementação de atividades extracurriculares (OCDE, 2022).

As universidades de estudo de caso criaram uma variedade de infraestruturas dedicadas a fornecer suporte ao empreendedorismo para as partes interessadas relevantes em seu ecossistema. Estes incluem centros de empreendedorismo, instalações de pré-incubação e incubação, atividades de aceleração, parques tecnológicos, ambientes de coworking, bem como parcerias com outros players dos ecossistemas de empreendedorismo envolventes (OCDE, 2022).

Iniciativas:

As universidades latino-americanas desempenham papéis tangíveis nos ecossistemas de empreendedorismo em que operam. Essas universidades são ativas em conectar suas pesquisas à criação de empreendimentos. Por exemplo, a USP no Brasil está conectada ao seu ecossistema por meio de diferentes órgãos e organizações. Entre eles estão uma agência de inovação (AUSPIN), quatro incubadoras (uma delas dedicada à inovação social), um parque tecnológico que abriga 75 empresas, diversos espaços maker e coworking e o espaço INNOVA.USP de inovação e empreendedorismo. Só o INNOVA.USP incubou cerca de 600 empresas, entre as quais 7 unicórnios (start-ups que atingem uma capitalização de US$ 1 bilhão sem serem cotadas em bolsa) gerando mais de 30 mil empregos (OCDE, 2022).

A PUC, em Santiago, possui um centro de inovação que presta serviços a empresas locais e nacionais para ajudá-las a construir uma cultura de inovação. Aproveitando esta rede de empresas, o centro promove a transferência de conhecimento e as atividades de empreendedorismo da universidade. Está localizado em um edifício dedicado à inovação e empreendedorismo e encontra-se na entrada principal do campus universitário, transmitindo assim uma mensagem tanto da importância do empreendedorismo como da acessibilidade a quem está fora da comunidade acadêmica (OCDE, 2022).

habitats de inovação

Centro de Inovação PUC, Chile. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/627513/centro-de-inovacao-uc-anacleto-angelini-alejandro-aravena-elemental

O estudo também observou que as universidades aproveitam sua estratégia multicampi para maximizar seu impacto,  assim em diferentes localidades, eles têm a oportunidade de se conectar com diferentes atores, incluindo governos locais e comunidades empresariais (OCDE, 2022).

Habitats de inovação como intermediários

A legislação muito complicada e a burocracia interna necessária para cocriar com as IES desincentiva as Pequenas e Médias Empresas (PMEs), uma vez que o processo é muitas vezes mais caro para elas do que todo o orçamento do projeto. Como resultado, a colaboração geralmente é acessível apenas a grandes grupos corporativos com tempo e recursos para lidar com a devida diligência e burocracia necessárias. As incubadoras e aceleradoras, no entanto, representam uma alternativa para se conectar com startups e PMEs em algum grau (OCDE, 2012)

Essas instalações oferecem programas para start-ups e PMEs, uma forma de parceria com menos restrições legais e restrições de confidencialidade (OCDE, 2012)

Há uma necessidade de matchmaking, que cria um mercado aprimorado onde os problemas socioeconômicos e as soluções de tecnologia geradas pela IES podem se encontrar, mas também onde os agentes de ambos os lados podem se conectar para trabalhar no projeto conjunto e desenvolver novas soluções de conhecimento aplicado (OCDE, 2012).

Em um ambiente de inovação em que os atores empresariais e de pesquisa perseguem paradigmas e objetivos aparentemente diferentes e muitas vezes conflitantes, os intermediários desempenham um papel crucial na conexão dos atores e na facilitação de processos de troca de conhecimento mutuamente benéficos (OCDE, 2012).

Esses intermediários são:

  • os escritórios de transferência de tecnologia, principalmente ligados a universidades (Núcleo de Inovação Tecnológica), criados para facilitar a transferência e tecnologia e conhecimento de uma universidade para o setor produtivo;
  • Parques científicos, geralmente sob gestão de uma entidade pública ou privada (seja universidade, governo ou empresas), com o objetivo de gerar conhecimento inovador para transferir para o mercado. Em muitos países, como Brasil, México e Espanha, os parques científicos foram criados pelo poder público como ferramenta para diversificar a economia local e promover a inovação. Muitos desses parques estão localizados dentro das dependências dos campi universitários, oferecem serviços de apoio e espaços dedicados para hospedar startups inovadoras.
  • Clusters ou concentrações geográficas de empresas e instituições interconectadas (como universidades e centros de pesquisadores), ligadas por tecnologias e habilidades comuns.
  • Centros tecnológicos para centros de P&D que fornecem serviços de pesquisa e tecnologia para empresas e muitas vezes colaboram com universidades para traduzir a pesquisa em aplicação prática em ambientes profissionais (OCDE, 2012).

A fim de facilitar e até mesmo instigar a troca de conhecimento adequada e colaborações de pesquisa frutíferas entre as IES e seus ecossistemas, é necessário haver uma ligação adequada e redes de engajamento. Os intermediários de conhecimento desempenham papéis muito importantes nessas redes. Centros de tecnologia, clusters, incubadoras, parques científicos e tecnológicos e prestadores especializados de serviços profissionais em direito, finanças e direitos de propriedade intelectual representam exemplos prováveis de organizações que, sob diferentes configurações e arranjos legais, ajudam a conectar diferentes atores e funções no ecossistema (OCDE, 2012).

Confira o estudo completo aqui!

Referências Bibliográficas

OECD/IDB (2022), Innovative and Entrepreneurial Universities in Latin America, OECD Skills Studies, OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/ca45d22a-en.

SERRA, Maurício; ROLIM, Cássio; BASTOS, Ana Paula. Universidades e desenvolvimento regional: as bases para a inovação competitiva. Rio de Janeiro: Idead D, p. 83-122, 2018.

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Juliana de Souza Corrêa

Doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento na Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC, formada em Relações Internacionais (UFSC) e com especialização em Inovação em Gestão Pública. Servidora da UFSC, atuando junto à SINOVA e integrante do Grupo VIA realizando pesquisas com foco em inovação e empreendedorismo universitário.