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Como transformar regiões inteligentes em mais inteligentes

Algo muito debatido atualmente é a questão de como transformar as regiões em regiões mais inteligentes. Uma vez que, apenas aumentar a tecnologia e conectar digitalmente os cidadãos não é suficiente. Portanto, o que torna uma região inteligente mais inteligente? Visando responder essa pergunta, Markkula e Kune (2015) nos dão algumas sugestões. Para tanto, utilizam como exemplo a região de Helsinque, centro da inovação na Finlândia.

A Região de Helsinque na Finlândia está usando especialização inteligente, orquestração de ecossistemas e o papel ativo das universidades para melhorar a inovação regional e a “inteligência” da região.

O papel da universidade

A contribuição das universidades, em seus diversos papéis, é especialmente importante. Em muitos países, as universidades estão assumindo um papel cada vez mais ativo no desenvolvimento regional. De fato, conceitos como co-criação e exploração do conhecimento, a exploração de oportunidades e a capacitação tornaram-se importantes facilitadores da inovação.

As universidades estão tornando as regiões inteligentes mais inteligentes e apoiando diversos atores regionais na colaboração efetiva. Assim, a maneira como funcionam está mudando, ao explorarem seu “terceiro papel”. Dessa forma, contribuem para a qualidade de vida e o bem-estar regional, agregando valor aos processos de desenvolvimento regional e ancorando a importância do conhecimento no ecossistema regional de inovação (MARKKULA; KUNE, 2015).

Assim, ao desenvolver os quatro domínios listados a seguir de forma integrada, a universidade ocupa um papel proativo no processo de desenvolvimento regional (MARKKULA; KUNE, 2015):

  • Inovação empresarial: intimamente ligada, embora não exclusivamente, à função de pesquisa da universidade.
  • Desenvolvimento do capital humano: ligado à função de ensino.
  • Desenvolvimento comunitário: ligado ao papel de serviço público das universidades.
  • Capacidade institucional da região: a universidade contribui com o envolvimento de sua administração e membros da sociedade civil local.

A primeira contribuição das universidades é impulsionada por uma nova compreensão da importância da aplicação da pesquisa na prática. A segunda é que sua participação social reflete a importância do empreendedorismo e da descoberta empreendedora no desenvolvimento regional. Assim, o espírito da descoberta empreendedora, cria condições nas quais pesquisadores, estudantes, funcionários públicos e PMEs podem se tornar mais alertas a oportunidades promissoras. Portanto, aumentam a capacidade de desenvolverem novas ideias com o propósito de criar valor. Por fim, a terceira contribuição das universidades para as regiões inteligentes está relacionada aos papéis da universidade como criadores e disseminadores de conhecimento (MARKKULA; KUNE, 2015).

Regiões mais inteligentes

A noção de cidades e regiões inteligentes não é nova. Desde a década de 1990, as cidades e regiões procuraram maneiras de melhorar a qualidade de vida por meio da tecnologia. Dessa forma, essa abordagem produziu alguns resultados impressionantes, mas não é mais suficiente. Uma vez que, começa com a tecnologia e não com os desafios urbanos, há uso insuficiente ou geração de evidências do que realmente funciona, e há pouco engajamento cidadão.

Markkula e Kune (2015) consideram “inteligência” como a interação efetiva e a reciprocidade da capacidade de pensar e da tecnologia em melhorar a qualidade de vida na região. A tecnologia pode e deve ser apoiada por tecnologias de informação e comunicação. No entanto, em primeiro lugar, reside na capacidade das pessoas de pensar e aplicar efetivamente as habilidades de pensamento. As universidades, em sua capacidade básica de facilitar o aprendizado, são essenciais para que essa abordagem seja eficaz (MARKKULA; KUNE, 2015).

Assim, a interface dos atores regionais no ecossistema de inovação regional é onde a exploração e a aplicação potencial do conhecimento podem ser exploradas de forma mais poderosa. De fato, uma colaboração eficaz determina como a região pode ser inteligente e como alavancar seu potencial. Também, define a qualidade e a eficácia do ecossistema regional de inovação (MARKKULA; KUNE, 2015).

Região de Helsinque

A Região de Helsinque pretende cumprir seu papel pioneiro como um centro de inovação global líder. Para isso, utiliza-se do triângulo do conhecimento – pesquisa, educação e inovação – totalmente integrado na prática. Assim como, onde tanto a descoberta empresarial quanto a mentalidade de startup são visivelmente valiosas na universidade-indústria (MARKKULA; KUNE, 2015).

O objetivo da estratégia de especialização inteligente da região de Helsinque é promover o desenvolvimento regional sustentável. Além disso, a cultura de trabalho deve ser ágil, em rede e proativa. Para atingir este objetivo, são necessários mais investimentos do exterior. Assim como um aumento significativo da imigração trabalhista e uma plataforma cultural criativa e versátil (MARKKULA; KUNE, 2015).

A estratégia de especialização inteligente ajuda a focar a região em seus principais temas, esforços e parcerias.Na Figura 1, podemos ver os cinco temas estratégicos regionais e como interagem com a especialização inteligente. Este conceito foi desenvolvido em conjunto com todas as partes interessadas regionais, incluindo a indústria, universidades, a região e suas diversas cidades, bem como com os cidadãos. Cada um dos 5 temas consiste em muitas atividades orquestradas como um único esforço sinérgico. Na prática, um ou vários portfólios de projetos serão formados para cada tema (MARKKULA; KUNE, 2015).

Figura 1. O conceito da estratégia de especialização inteligente da Região de Helsinque é um processo sistêmico contínuo baseado na orquestração de todos os principais atores da política de inovação na região. Fonte: Markkula e Kune (2015).

O conceito da estratégia de especialização inteligente da Região de Helsinque é um processo sistêmico contínuo baseado na orquestração de todos os principais atores da política de inovação na região. Reproduzido do Conselho Regional de Helsinki-Uusimaa (2014). A pesquisa universitária desempenha um papel importante em cada uma dessas áreas estratégicas.

O que torna as regiões mais inteligentes

Uma abordagem colaborativa e co-criativa envolvendo todos os atores da sociedade é necessária para a realização de uma política regional que se concentre na criação de novas oportunidades para aumentar o crescimento, a concorrência e a qualidade de vida na região. Essa abordagem também inclui novas oportunidades para envolver as universidades como colaboradoras na busca de soluções.

O envolvimento direto das partes interessadas da indústria, das universidades e do setor público, e do engajamento dos cidadãos na co-criação processos de trabalho, é um pré-requisito para o sucesso de regiões inteligentes. Sendo assim, a chave para traduzir potencial regional em melhor qualidade de vida. Uma vez que, para prosperar, as regiões exigem o desenvolvimento de lugares atraentes para trabalhar e viver.

No ecossistema de inovação regional, todos os atores podem usar a base de pesquisa e inovação das universidades para produzir serviços e outros produtos de que as sociedades precisam. Dessa forma, novos caminhos são abertos para co-criar e inventar o futuro que desejamos.

De fato, a criação, disseminação e uso do conhecimento são essenciais para manter as regiões inteligentes. A aprendizagem conjunta é uma pedra angular da colaboração no ecossistema.  Além disso, as universidades têm um papel fundamental para tornar as regiões inteligentes mais inteligentes.

Portanto, segundo Markkula e Kune (2015), o que torna uma “região inteligente” mais inteligente é a orquestração ativa do ecossistema regional em torno de conceitos como co-criação e exploração de conhecimento, oportunidades e capacitação.

Confira mais sobre especialização inteligente aqui.

Referências

MARKKULA, Markku; KUNE, Hank. Making smart regions smarter: smart specialization and the role of universities in regional innovation ecosystems. Technology Innovation Management Review, v. 5, n. 10, 2015.

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Guilherme Paraol

Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisas com foco em ecossistemas de inovação. Atua em diversos projetos de inovação.