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Além da educação: o papel da universidade em ecossistemas de inovação

Muito além da educação

Olá, tudo bem? Hoje o tema do post do blog é universidade e sua atuação além dos muros da instituição. Assim, analisamos o papel da pesquisa realizada na academia nos ecossistemas de inovação onde se inserem. Para tanto, o post se baseia no estudo realizado por Schaeffer, Fischer e Queiroz da Universidade de Campinas (Unicamp), publicado em 2018.

Cabe destacar que, as contribuições das universidades para a sociedade vão muito além da pesquisa científica e das atividades de ensino. Assim, com o desenvolvimento do conceito de universidade empreendedora, a academia passou a incorporar iniciativas orientadas para o mercado. Dessa forma, há ênfase nas interações universidade-indústria, contratos de pesquisa, consultoria, patenteamento e licenciamento de resultados de pesquisa, bem como, empreendedorismo acadêmico.

Portanto, a universidade possui papel fundamental no contexto dos ecossistemas de inovação. Assim, contribuem com suprimento de capital humano, pesquisa colaborativa com o mercado, co-patentes e publicações científicas, e criação de novos negócios intensivos em conhecimento. Consequentemente, a academia não apenas melhora as capacidades, mas também cria empresas inteiramente novas.

Imagem de ElasticComputeFarm por Pixabay

No entanto, esses efeitos estão limitados geograficamente. Isso ocorre, porque estão conectados à estrutura e as características específicas de cada região. Assim, não é a mera presença de universidades que impulsiona a consolidação de ecossistemas de inovação. De fato, é necessária uma infraestrutura que proporcione relações dinâmicas envolvendo universidades, institutos de pesquisa, empresas e outras instituições de apoio. Desse modo, estas são condições necessárias para a geração de recursos humanos que atendam às necessidades regionais. Assim como, acúmulo e transferência de conhecimento.

Universidades no coração dos ecossistemas de inovação

As universidades geram e difundem o conhecimento. Também, promovem o desenvolvimento regional por meio de suas conexões com o ambiente socioeconômico. Além disso, fornecem mão de obra qualificada, interagem com empresas locais, geram patentes e novos empreendimentos, atraem investimentos e disseminam conhecimento.

Portanto, essas instituições acadêmicas estão no centro dos ecossistemas de inovação. Este papel é ainda mais crítico em países em desenvolvimento. Neles, as universidades se destacam como agentes influentes no processo de aprimoramento tecnológico. Isso acontece como consequência dos baixos níveis de capacidades inovadoras das empresas. Assim, a academia é uma fonte estratégica de informação, conhecimento e inovação.

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Portanto, espera-se que a atividade empreendedora intensiva em conhecimento seja influenciada pela presença local da academia nos ecossistemas de inovação das economias emergentes, seguindo evidências recentes. Para descobrir se essa afirmação é verdadeira, Schaeffer, Fischer e Queiroz (2018) levantaram dados de quinze universidades de alta qualidade localizadas em 37 cidades e 25 microrregiões em São Paulo. Os resultados do levantamento são demonstrados a seguir.

Estudo sobre universidades de alta qualidade no Brasil

Os resultados levantados por Schaeffer, Fischer e Queiroz (2018) revelam que há existência de um efeito de “co-localização” em termos de repercussões universitárias sobre a geração de patentes. Também, descobriram que o provimento de força de trabalho instruída pode ser benéfico para o ambiente de inovação local.

Assim, destacam a importância estratégica das principais universidades como polos de pesquisa para melhorar a geração de conhecimento. Além disso, para o surgimento de novas empresas impulsionadas pela inovação. Por sua vez, as incubadoras e os parques científicos parecem desempenhar um papel importante na definição das condições locais para a produção inovadora. Por outro lado, os níveis de internacionalização nas cidades estão fracamente relacionados às variáveis dependentes, com exceção da atividade de patenteamento.

No entanto, esses efeitos são muito mais limitados do que os esperados para a academia de alta qualidade. Pelo menos no caso estudado pelos autores. Por exemplo, nas microrregiões, os efeitos associados as variáveis relacionadas à universidade (Inscrição em IES, Universidade de Alta Qualidade e Sistema Universitário de Alta Qualidade) são significativamente reduzidos em comparação com os resultados observados para a análise em nível de cidade. Mesmo assim, alguns impactos significativos ainda podem ser observados.

Portanto, o estudo de Schaeffer, Fischer e Queiroz (2018), revela que os transbordamentos geográficos são frágeis. Assim, os impactos das instituições de ensino superior sobre a dinâmica dos ecossistemas de inovação são, em grande parte, restritos ao nível das cidades. Desse modo, do ponto de vista metodológico, as abordagens analíticas dos ecossistemas devem ser direcionadas para unidades geográficas menores.

As economias localizadas continuam a desempenhar um papel importante, ressaltando o peso estratégico de uma estrutura de negócios de suporte. Por sua vez, as condições de infraestrutura perdem importância, exceto no caso específico de incubadoras de empresas e parques científicos. Mais uma vez, os níveis de internacionalização apresentam um desempenho insatisfatório como impulsionadores da produção no âmbito dos ecossistemas de inovação.

Conclusão

Schaeffer, Fischer e Queiroz (2018) chegaram a conclusão de que com base em dados do Estado de São Paulo, as principais instituições acadêmicas estão no coração dos ecossistemas de inovação. Outra conclusão é de que a formação de capital humano contribui para a produção inovadora. Porém, seus impactos são de menor relevância em comparação com instituições de ensino superior que alcançam excelência em pesquisa.

Assim, os resultados destacam a importância das universidades na estruturação de ecossistemas de sucesso. Também, demonstra que incentivar a pesquisa pode ter impactos generalizados sobre o desenvolvimento socioeconômico em nível local. No entanto, os autores destacam o desafio de integrar ainda mais a academia aos mercados no Brasil. Assim, melhorias nas condições e incentivos para essas interações, podem se mostrar uma
estratégia frutífera para o Sistema Brasileiro de Inovação.

Outro fator destacado no estudo foi que o nível de impacto foi maior nas cidades do que em regiões maiores. Assim, os autores sugerem que as regiões maiores podem não ser unidades geográficas adequadas para avaliar o desenvolvimento de ecossistemas de inovação.

Desse modo, há implicações significativas para a maneira como as políticas de inovação no nível regional são abordadas. Em primeiro lugar, conforme descrito por  Schaeffer, Fischer e Queiroz (2018), essas regiões provavelmente não colherão benefícios substanciais da proximidade de centros bem-sucedidos. Além disso, a criação de condições locais não é tão direta quanto às vezes anunciada pelos formuladores de políticas. Portanto, concluem que estabelecer incubadoras e parques científicos é bom. Porém, essas iniciativas são apenas parte das estruturas dos ecossistemas. Além do mais, universidades de alta qualidade não podem ser simplesmente replicadas nas regiões. Assim, é um processo de longo prazo.

Quer saber mais sobre ecossistema de inovação? Acesse: ecossistema de inovação.

Referências

SCHAEFFER, Paola Rucker et al. Beyond Education: The Role of Research Universities in Innovation Ecosystems. Foresight And Sti Governance, [s.l.], v. 12, n. 2, p.50-61, 25 jun. 2018. National Research University, Higher School of Economics (HSE). http://dx.doi.org/10.17323/2500-2597.2018.2.50.61.

 

 

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Guilherme Paraol

Doutorando no PPEGC (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisa com foco em ecossistemas de inovação. Atua nos projetos de mapeamento, ativação e orquestração de ecossistemas de inovação.