Ecossistema De Inovação

Uma revisão crítica do termo Ecossistema de Inovação

Grupo de estudos da VIA Estação Conhecimento debateu o artigo sobre uma revisão crítica uso do prefixo “Eco” em ecossistema de inovação.

Por mais uma vez, o grupo de estudos da VIA Estação Conhecimento se reuniu para compreender os temas demandados pela pesquisa. Como o sistema e ecossistema de inovação entram no escopo de estudo do grupo e como forma de ampliar o conhecimento dos discentes, exploramos o artigo Innovation Ecosystems: A critical examination. Em português, Sistemas de inovação: um exame crítico, dos autores Deog-Seong Oh, Fred Phillip, Sehee Park e Eunghyun Lee. A pesquisa foi publicada em 2016, propondo uma revisão e discussão sobre o termo “ecossistema de inovação”. Os autores ousam dizer que o uso do prefixo “eco” em sistemas regionais e nacionais de inovação trazem pouco benefício. E ainda dizem que os riscos superam os benefícios. Além disso, os autores propõem usos mais corretos para o termo e também propõem futuras pesquisas sobre o tema.

O termo se tornou bastante popular na indústria, academia e governo, entretanto a utilização dele tem levado à uma analogia falha com ecossistemas naturais. Os autores apontam que, por ser um termo muito parecido com sistemas de inovação, o termo não apresenta diferenciais. O artigo cita Jacksons (2011) que definiu innovation ecosystems como sendo:

 

Um complexo de relacionamentos que são formados entre atores e entidades cujo objetivo é permitir o desenvolvimento tecnológico e inovação.

 

E também diz que a definição de Jackson só diferencia sistemas de inovação de outros genéricos apenas pelo seu propósito: Inovar. Para os pesquisadores do artigo, a eco-literatura traz contribuições positivas para a ciência, entretanto essa contribuição não é dependente do prefixo.

Revisando a literatura, os autores encontraram Durst e Poutanen (2013) destacam poucos artigos científicos falando de “ecossistemas de inovação”. Aqueles que abordavam o assunto, não pareciam se importar o uso do prefixo “eco” . Além disso, o livro de 2014 Mapping National Innovation Ecosystems não utiliza o termo “ecosystem” em nenhuma parte do volume, com exceção do título. Os autores do artigo também fizeram a sua procura na literatura científica e acharam poucos artigos usando “ecossistema de inovação” de maneira distintiva a sistema de inovação. Eles também constatam que não existe uma tipologia firme de ecossistemas de inovação.

A partir deste ponto, os autores falam sobre as desvantagens e perigos sobre uso da terminologia “ecossistema”. Começam por nomear e descrever os tipos de ecossistemas encontrados na literatura. Sendo eles: Corporativo, Regional e Nacional, Digital, Cidades e Distritos, PMEs de alta tecnologia, Incubadoras e Aceleradoras com serviços de ecossistemas de inovação e Universidades. Ao total encontram-se sete tipos de ecossistemas de inovação, todos diferentes entre si. Essa diversidade faz com que os autores concluam que a literatura mostra falta de consistência na utilização do termo.

“In sum,the literature shows a lack of consistency in authors’ use of the ecosystem phrase.” Deog-Seong Oh et al. (2016)

Em seguida, abordam as métricas e indicadores de sucesso para ecossistemas de inovação. Nesta parte, citam uma quantidade de fatores que, de acordo com UP Global (sem data), determinariam o sucesso de um ecossistema de inovação. Exemplos de fatores de sucesso: talento, densidade de pesquisadores, empreendedores e instituições facilitadoras, cultura empreendedora, acesso a capital e ambiente apoiador regulatório. Os autores constatam que essa lista é bastante idêntica ao fatores de sucesso de uma tecnópolis.

Passando para as métricas, Wallner e Menrad observam que um ecossistema não é uma “máquina trivial, com uma relação de entrada-saída definida”.  Ou seja, uma abordagem linear pode levar a resultados absurdos. Os autores concordam afirmando que: Primeiro, porque muitos grupos constituintes têm interesse no jogo da inovação e colocam valores diferentes em diferentes saídas do sistema. Segundo, porque o desempenho do sistema é determinado menos pelas táticas tayloristas e mais continuamente identificando e aliviando os gargalos nas conexões entre os atores. Por último, o sucesso depende do surgimento da liderança, do desenvolvimento de pessoas e da disposição das autoridades em tolerar táticas inovadoras.

“Will a market-driven business ecosystem produce innovation? ecosystems and clusters”

Os autores exploram, também, se um ecossistema de negócios produziria inovação. A pesquisa diz que as grandes empresas estão com tendências recentes na gestão da cadeia de suprimentos. Ou seja, as empresas estão reduzindo o número de seus fornecedores, enquanto aumentam a intensidade da troca de informações com os fornecedores sobreviventes. O objetivo da troca de informações é reduzir os preços dos componentes enquanto aumenta a qualidade dos componentes. Isso faz com que os fornecedores tenham que aprender a fabricar um componente cada vez melhor e reduzir drasticamente o preço unitário. Esse fenômeno gera inovação. Percebendo isso, e percebendo que novos benefícios úteis e inovadores podem vir de uma ampla variedade de fontes, os projetistas de ecossistemas privados incentivam o surgimento de diversas empresas iniciantes em suas regiões locais.

Esse movimento de ecossistema de inovação impulsionado pelo mercado nos leva a considerar quais são os papéis essenciais de outros setores no sistema de inovação. Esses papéis parecem ser para injetar pensamento de longo prazo, em oposição ao curto prazo corporativo, formar massa crítica e reunir elementos do ecossistema. Esses elementos seriam infraestrutura civil e fatores de qualidade de vida que eventualmente podem levar a inovação aberta. Isso balancearia o viés do setor privado de alcançar apenas as partes que irão beneficiá-lo com certeza a curto prazo.

 

“Innovation ecosystem” is a metaphor, not a rigorous construct

Por último, o artigo demonstra de diversas formas que a analogia entre um ecossistema de inovação e um ecossistema natura é falha. Alguns exemplos citados pelos autores são:

  • Ecossistemas de inovação são desenhados, projetados, arquitetados e construídos, além de terem um propósito. Isso distingue do ecossistema natural que obedece uma evolução.
  • Num ecossistema natural espécies se alimentam de outras. Numa comparação com as empresas, umas podem adquirir outras, entretanto, um leopardo que comeu uma gazela, sempre será um leopardo. No caso de empresas, isso nem sempre é verdade, pois esta poderá ser uma nova entidade.

Estes são apenas dois exemplos dados pelos autores. Em suma, os ecossistemas de inovação sugerem paralelos intrigantes com sistemas biológicos, mas estes permanecem apenas sugestões, sem apoio empírico ou regras de correspondência rigorosas.

Como conclusões do artigo, os autores indicam que o número de publicações sobre a temática está crescendo. Os mesmos propõem que uso ideal para o termo seria um sistema de inovação entre o artificial e o natural. E por fim, é proposto, em forma de desafio, para futuros cientistas pesquisarem sobre a diferença entre ecossistema de inovação e sistema de inovação, além de como determinar melhor a performance de um ecossistema de inovação e os detalhes das semelhanças e diferenças de um ecossistema natural e artificial.

 

Referências:

Durst, S., Poutanen, P., 2013. Success factors of innovation ecosystems – Initial insights from a literature review. In: Smeds, R., Irrmann, O., (Eds.), Co-create 2013: The Boundary-Crossing Conference on Co-Design in Innovation. Aalto, Denmark, 27–38. Retrieved from 〈http://www.academia.edu/4007245/Success_ factors_of_innovation_ecosystems_A_literature_review〉.

Jackson, B.D.J.,2011.What is an innovation ecosystem/, Washington DC. Retrieved from 〈http://erc-assoc.org/sites/default/files/topics/policy_studies/DJackson_InnovationEcosystem_03-15-11.pdf〉.

UP Global, undated. Fostering a Startup and Innovation Ecosystem. Retrieved from 〈http://www.slideshare.net/cuevasm1/fostering-a-startup-and-innovationecosystem〉.

Wallner, T., Menrad, M., 2011. Extending the innovation ecosystem framework. In: Proceedings of the XXII ISPIM Conference, Hamburg, Germany, (unpaginated). Retrieved from 〈http://www.agtil.at/uploads/images/PDFs/ISPIM_Wallner_final.

 

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Luiz Eduardo Brand Flores

Estudante da graduação de engenharia de materiais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Investe muita energia e vontade em pesquisa e extensão sobre inovação e sonha em gerenciar um habitat de inovação.

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