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O papel dos atores nas interações nos ecossistemas de inovação

Olá, o post de hoje discute o papel dos atores nas interações nos ecossistemas de inovação. Para tanto, utilizo do trabalho de Pucci, Runfola e Zanni (2018) que analisaram os fatores e implicações dos atores nesse processo de interação em sistemas locais. Nesse aspecto, os autores consideram a interação como uma perspectiva que pode explicar o papel que os atores podem desempenhar para a inovação no sistema local.

Análise a partir de uma empresa focal

O ponto de observação de Pucci, Runfola e Zanni (2018) é feita numa “empresa focal”. De fato, uma empresa focal pode estabelecer relações com atores internos ou externos ao seu ecossistema de inovação. Assim, o estudo enfoca as razões e os fatores que levam uma empresa a escolher um parceiro no ecossistema de inovação. Para tanto, a empresa enfrenta diversos problemas nesse processo de interação. Tais quais, não apenas tecnológico, mas também organizacional, cultural e político/social.

A distância que separa a empresa focal dos parceiros pode determinar o papel desempenhado pela empresa no relacionamento com outros atores. Dessa forma, pode afetar o nível de aprendizado ou de ensino potencial, interno ou externo ao ecossistema. Isso pode afetar o resultado inovador da empresa focal, mas também o grau de inovação de todo o ecossistema.

Pucci, Runfola e Zanni (2018) consideram os sistemas nacionais e regionais de inovação como ecossistemas de inovação. Assim, no nível micro discutem os fatores que influenciam como uma empresa pode desempenhar seu papel na interação. Já no nível macro, discutem o nível agregado de todas as empresas focais pertencentes aos ecossistemas e seu papel na inovação. Para isso, Pucci, Runfola e Zanni (2018) recorrem aos conceitos de ensino/ aprendizagem para explicar o papel dos atores na interação. Assim, analisam o papel que vários atores desempenham na criação, aprendizado, uso e disseminação do conhecimento nos ecossistemas.

Abordagem IMP e papéis dos atores na inovação

Pucci, Runfola e Zanni (2018) analisaram os atores do ecossistema sob uma lente da abordagem de Marketing e Compras Industrial de interação chamada IMP. Esta abordagem considera a interação um mecanismo essencial das redes de negócios. Ainda, considera a interação como uma categoria conceitual valiosa que pode explicar muitos fenômenos relevantes, como a inovação. Nessa abordagem, a interação do ator no contexto da rede representa uma parte essencial do processo de inovação.

Na interação, o ator pode “aprender” e “ensinar”. Assim como, ambos os processos podem estar presentes. No entanto, do ponto de vista de um único ator, uma prevalência de aprendizado no ensino ou vice-versa dentro de uma interação específica possa ser identificada. Portanto, essa dinâmica pode ser entendida em termos de “transferência” ou fluxo de conhecimento dentro da interação. Seguindo esse raciocínio, dentro de cada uma dessas interações, durante um período, pode-se prever a prevalência do ator em “aprender” no “ensino” ou de “ensinar” no “aprendizado”.

Situações de equilíbrio relativo também podem estar presentes. No entanto, Pucci, Runfola e Zanni (2018) se concentraram nas situações em que é possível definir uma prevalência distinta. Esta abordagem é utilizada porque o aprendizado e o ensino estão presentes nos processos de interação. Assim, isso os torna parâmetros úteis para avaliar qualquer interação de um ator.

A interação do ator no ecossistema pode ser basicamente: interação com outro ator local e interação com um ator externo ao sistema local.

As interações dos atores com o ecossistema

Pucci, Runfola e Zanni (2018) demonstram na figura 1, quatro tipos de interação, A, B, C,D.

Figua 1: A taxonomia do papel dos atores na interação.

A interação “A” é onde o ator local tem um papel predominantemente “de ensino” com outros atores no mesmo ecossistema. Se grande parte das interações é desse tipo e se o objeto de transferência nos processos de interação é o conhecimento tecnológico, o ator corresponderia ao perfil de um “líder local em tecnologia”.

A interação “B” é onde o ator do sistema local tem uma posição predominantemente de “aprendizado” com outros atores locais. Se a maioria das interações do ator for desse tipo, a função poderá ser a mesma de “subcontratado local” que opera em padrões definidos principalmente por um parceiro local mais rico em habilidades. Esse ator pode fortalecer os processos de aprendizagem por meio de fatores do contexto social, mantendo contatos ou fazendo parte ativa de um grupo de atores conectados. Assim, podem desencadear iniciativas conjuntas e tirar proveito de formas emergentes ou deliberadas de socialização.

A interação “C” é onde o ator do ecossistema tem uma posição predominantemente “de ensino” com atores fora do ecossistema. Se muitas das interações do ator são desse tipo e ocorrem em lugares diferentes, o papel que ele pode assumir pode ser um “líder global de tecnologia”. Assim, esse papel envolve a transferência de habilidades tecnológicas para processos de interação com outros atores fora do ecossistema.

Finalmente, a interação “D” considera uma situação em que o ator tem uma posição predominantemente de “aprendizado” com outros atores fora do ecossistema. Assim, se a maioria das interações dos atores é desse tipo, o papel envolvido pode ser o de um “subcontratado global”.

O ator pode desempenhar mais de um dos papéis fornecidos na matriz.

Uma estrutura conceitual

Pucci, Runfola e Zanni (2018) assumem que o sistema nacional ou regional de inovação podem ser analisados como ecossistemas reais. Assim, as comunidades que compõem esses ecossistemas são os clusters tecnológicos e distritos industriais. Ainda, cada comunidade é composta por uma ou mais populações: a industrial, as instituições, a universidade e os clientes/sociedade.

Na troca de conhecimento que caracteriza os processos inovadores, participam outras partes interessadas. Também, cada uma dessas populações é composta, respectivamente, por empresas, instituições, acadêmicos, clientes (ou outros atores sociais).

Assim, a figura 2 mostra a organização hierárquica dos elementos estruturais da estrutura conceitual.

Nível de hierarquia das organizações no ecossistema de inovação. Fonte: Pucci, Runfola e Zanni (2018)

Interações entre organismos, populações, comunidades ou ecossistemas

A energia que alimenta e circula entre os ecossistemas de inovação pode ser representada pelo conhecimento. Ainda, no nível micro, a alteração de que a empresa focal escolhe interagir e o papel (ensino e/ou aprendizagem) que desempenha nessa interação depende de:

Cinco ajustes (ou desajustes) que surgem entre as empresas (espacial, tecnológico, organizacional, cultural e sociopolítico) e sobre as atitudes internas específicas da empresa.

Assim, a Figura 3 mostra a estrutura de interação entre atores (nível micro) ou população, comunidades e ecossistemas (nível macro).

Figura 3: Interações entre organismos, populações, comunidades ou ecossistemas.

Em particular, o nível agregado de ensino e/ou aprendizado para cada empresa focal pertencente à mesma população determinará o tipo de relacionamento que é estabelecido entre duas populações de empresas.  Portanto, potencialmente, também entre duas comunidades ou ecossistemas.

Por outro lado, o parasitismo é uma interação em que a empresa focal aprende. Porém, com atitude competitiva, não ensina nada à população a que pertence ou à população com quem interage. Já uma relação simbiótica é estabelecida quando há um nível equilibrado de aprendizado e ensino pela empresa focal. Por fim, há uma relação
comensal quando a empresa focal aprende (sem atitude competitiva), mas ensina apenas à população a que pertence.

Já no nível macro, o nível agregado de ensino e/ou aprendizado determina o tipo de relacionamento entre populações industriais pertencentes a diferentes ecossistemas de inovação (parasitismo, simbiose ou comensalismo).

Implicações e conclusões da pesquisa

Portanto, ao analisar o estudo de Pucci, Runfola e Zanni (2018) percebe-se que o papel de aprendizagem/ensino que os atores focais podem desempenhar nas interações no ecossistema e em outros ecossistemas é um componente fundamental para explicar o fluxo de conhecimento que nutre qualquer sistema local.

A perspectiva de nível micro é interpretada como gerador de fluxo de conhecimento. Portanto, determinante da inovação entre os atores e para o sistema local. Assim, como apontado, as implicações da pesquisa consideram principalmente dois níveis de análise. No nível micro, concentra-se nas díades únicas dos ecossistemas. Por sua vez, no nível macro para o ecossistema de inovação como um todo.

Assim, o arcabouço teórico define três tipos potenciais de relacionamentos, parasitismo, simbiose ou comensalismo. Esta, segundo os autores, é uma possível explicação da inovação gerada dentro de um ecossistema. Por fim, a combinação dos diferentes tipos de relacionamentos que caracterizam um ecossistema de inovação pode explicar
seu desenvolvimento.

Ainda, o uso da abordagem IMP pode contribuir para uma compreensão mais profunda de como os ecossistemas de inovação evoluem.

Acesse o artigo na íntegra aqui.

Quer saber mais sobre ecossistema? Acesse ecossistema de Inovação: alinhamento conceitual

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Referência

PUCCI, Tommaso et al. The role of actors in interactions between “innovation ecosystems”: drivers and implications. IMP Journal, v. 12, n. 2, p. 333-345, 2018.

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Guilherme Paraol

Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisas com foco em ecossistemas de inovação. Atua em diversos projetos de inovação.