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Diferentes analogias e o conceito de ecossistema

Olá, tudo bem? O termo ecossistema é utilizado de diferentes formas. Assim, muitas analogias surgiram após a criação do conceito original de ecossistema. Portanto, o post de hoje versa sobre estas diferentes analogias, a partir do estudo realizado por Vaida Pilinkienè e Povilas Maciulis (2014).

Compreensão do ecossistema

O ecossistema biológico é um sistema que consiste de diferentes organismos que vivem na mesma área. Também pode ser entendido como um sistema de organismos que ocupam um habitat, juntamente com os aspectos do ambiente físico com os quais interagem. Mas porque esse termo também é util nos campos econômicos? Indagam Pilinkienè e Maciulis (2014). Segundo os autores, Rothschild em 1990 usou uma das primeiras analogias biológicas em um campo econômico, ao considerar a economia como um ecossistema. Dessa forma, equiparou ambos a um sistema onde há uma interação entre os participantes.

Ainda, considerando a biologia, todo organismo vivo é definido por seu genes, relações com suas presas e predadores. Assim, Moore em 1993, mencionou que empresas inovadoras não podem evoluir no vácuo. Mas sim, devem atrair recursos de todos os tipos, atraindo capital, parceiros, fornecedores e clientes para criar redes cooperativas. Portanto, no contexto econômico, o empreendedor depende de seus clientes, concorrentes e fornecedores. Assim como, toda organização é definida por seu nível de tecnologia e inovação. Destas analogias no campo econômico surgiram diversas perspectivas ecossistêmicas, que serão descritas a seguir, como: ecossistema industrial; de negócios; de negócios digitais; de empreendedorismo e de inovação.

Ecossistema Industrial

Pilinkienè e Maciulis (2014) descrevem que o termo “ecossistema industrial” foi apresentado originalmente por Frosch e Gallopoulos em 1989, e avançou com Korhonen em 2001. Este conceito leva em consideração a otimização de consumo de energia e materiais e diminuição da geração de resíduos. Além disso, os materiais excedentes da produção servem como matéria-prima para outro processo.

Assim, o objetivo de um ecossistema industrial é minimizar a entrada de energia e material virgem em operações industriais. Dessa forma, proteção ambiental e desenvolvimento sustentável são itens chaves deste processo. São especificados três objetivos principais de um ecossistema industrial:

1) entrada mínima de material virgem;
2) uso eficiente de material virgem;
3) resíduos mínimos e inofensivos.

Devido a sua sustentabilidade, Pilinkienè e Maciulis (2014) defendem que esta analogia deve ser valorizado não apenas pelos fabricantes e consumidores, mas também pelos formuladores de políticas e pela mídia. No entanto, relatam que é difícil alcançar um ecossistema industrial ideal na prática. Mas, ressaltam que todo ator deve mudar seus hábitos para se aproximar deste ideal.

Assim, a analogia do ecossistema industrial é semelhante ao biológico, sua diferença é incluir aspectos do desenvolvimento sustentável. Isso significa que o conceito de ecossistema industrial deve se concentrar nos princípios do desenvolvimento sustentável em todas as operações industriais.

Ecossistema de negócios

O conceito de ecossistema biológico também é utilizado na análise de relacionamentos e estratégias de negócios. O termo ecossistema de negócios foi criado por Moore em 1993. Moore específica que uma empresa pode ser vista como parte de um ecossistema de negócios que atravessa uma variedade de setores. Assim, em um ecossistema de negócios, os atores trabalham de forma cooperativa e competitiva para criar novos produtos, satisfazer as necessidades dos clientes e desenvolver capacidades em torno da inovação.

Dessa forma, o ecossistema de negócios abrange a própria empresa, assim como outros atores, como clientes, concorrentes, intermediários de mercado, fornecedores e complementadores. Este ecossistema também pode englobar agências reguladoras e meios de comunicação que podem ter impacto menos imediato, mas igualmente poderoso, sobre os negócios.

O ciclo de vida do ecossistema é dividido em quatro estágios: nascimento, expansão, liderança e autorrenovação ou morte. Assim, tais estágios  têm desafios competitivos diferentes, mas ao mesmo tempo colaborativos. Portanto, em um ecossistema saudável, as interações entre os atores contribui para o desenvolvimento dos negócios. Identifica-se como fatores de sucesso de um ecossistema de negócios: robustez, produtividade e criação de nichos.

Ecossistema de negócios digitais

A partir do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, o termo digital foi adicionado ao ecossistema de negócios. Assim, foi criado pela convergência de redes de tecnologia da informação e comunicação, redes sociais e redes de conhecimento. Portanto, é formado por uma comunidade auto-organizada que visa alcançar maior crescimento, mais e melhores empregos e maior inclusão social.

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Assim, é considerado um ambiente descentralizado, onde as empresas interagem e estabelecem colaborações entre si. Seu principal objetivo é apoiar seus atores a co-evoluir num ambiente colaborativo e competitivo. Este ambiente é descrito por Pilinkienè e Maciulis (2014) como código aberto. Onde componentes de software, serviços, aplicativos e também modelos de negócios são considerados “espécies digitais”. Estes podem interagir entre si, reproduzir e evoluir de acordo com leis de seleção de mercado.

Ecossistema de empreendedorismo

O empreendedorismo e os empreendedores são importantes impulsionadores do crescimento econômico, emprego, inovação e produtividade. Dessa forma, é um conjunto de elementos individuais (liderança, cultura, mercado de capitais e clientes de mente aberta), que se combinam de maneiras complexas (Isenberg, 2010). Esses elementos combinados podem promover o crescimento e criar empreendimentos em um local específico.

Este ecossistema pode ser entendido pela combinação de três fatores: oportunidades, pessoas qualificadas e recursos. Pilinkienè e Maciulis (2014) mencionam que esses fatores descrevem seis determinantes-chave que afetam o desempenho empresarial: estrutura regulatória, condições de mercado, acesso a financiamento, P&D e tecnologia, capacidades e cultura empreendedora.

Ecossistema de Inovação

Por fim, a analogia mais famosa e utilizada atualmente é chamada de ecossistema de inovação. Em resposta às mudanças sociais, tecnológicas, ambientais e financeiras globais, empresas e grupos de formuladores de políticas
buscam medidas para estimular a inovação. Assim como, torna-se cada vez mais díficil para as organizações competirem sozinhas. Portanto, fazer parte de um ecossistema de inovação é estratégico para as empresas criarem valor de forma colaborativa.

Desse modo, este conceito é considerado como sistemas interorganizacionais, políticos, econômicos, ambientais e tecnológicos onde um ambiente propício ao crescimento dos negócios é catalisado, sustentado e suportado.  Por sua vez, Adner (2006) descreve-os  como arranjos colaborativos por meio dos quais as empresas combinam suas ofertas individuais numa solução coerente e voltada para o cliente.

Desse modo, em um ecossistema de inovação saudável, as interações entre várias instituições podem combinar empreendedores, capitalistas de risco e outros participantes. Assim, a analogia com o conceito original é feita quando não se considera mais os atores individuais. Mas sim, populações de sujeitos que interagem e residem no mesmo ambiente, criando assim, valor que nenhuma empresa poderia gerar sozinha. Por fim, a sua implementação bem-sucedida depende da sinergia de fatores, que podem ser encontrados nas áreas de governança, estratégia e liderança, cultura organizacional, recursos, gestão de recursos humanos, pessoas parceiros tecnologia e clustering.

Conclusão

Pilinkienè e Maciulis (2014) concluem que como em um ecossistema biológico, o isolamento de um ator pode causar consequências negativas em todos os ecossistemas analisados. Assim, cada componente do sistema pode não funcionar com êxito separadamente. Desse modo, a sinergia é alcançada apenas por meio de um relacionamento que opera em um ambiente competitivo e cooperativo.

Assim, seu estudo obtêm 3 conclusões principais:

1. As analogias têm diferentes escopos e objetivos. Também operam em ambientes distintos: território local (ecossistema de empreendedorismo) às redes de computadores (ecossistema de negócios digitais).

2. Todas as analogias do ecossistema têm impacto num nível micro associado às ações dos atores internos. Ou seja,  influenciam o desempenho da inovação e podem afetar os processos de negócios ao aumentar o nível de produtividade, como nos ecossistemas de negócios ou de negócios digitais. Assim como, o ecossistema industrial muda os hábitos dos consumidores e fabricantes e isso ajuda a manter um padrão de vida sem devastar o meio ambiente. Enquanto isso, um ecossistema eficiente de empreendedorismo incentiva a criação e o desenvolvimento de negócios em áreas específicas.

3. Os níveis de competitividade, produtividade e empreendedorismo são afetados pelas analogias saudáveis dos ecossistemas. Isso demonstra que o sistema pode ser um determinante significativo do crescimento econômico sustentável. Este é um bom exemplo para as instituições públicas que estão se concentrando em medidas para aumentar o desenvolvimento econômico. As analogias auto-sustentáveis operam em um ambiente natural, bem como no ecossistema biológico. Portanto, medidas artificiais e concentração de recursos em apenas um elemento de todo ecossistema pode não dar o efeito pretendido. Uma vez que, o seu impacto depende da interação efetiva dos atores do sistema em um ambiente natural.

Ficou interessado e quer saber mais sobre ecossistema?

Acesse: Ecossistema de Inovação: Alinhamento Conceitual.

Veja também:

A diferença entre ecossistema de inovação e de conhecimento.

Uma revisão sobre o conceito de ecossistema e suas perspectivas.

Referências

ADNER, Ron. Match your innovation strategy to your innovation ecosystem. Harvard business review, v. 84, n. 4, p. 98, 2006.

ISENBERG, Daniel J. How to start an entrepreneurial revolution. Harvard business review, v. 88, n. 6, p. 40-50, 2010.

MOORE, J. F. Predators and prey: the new ecology of competition. Harward Business Review, 71 (3), 75-86.

PILINKIENĖ, Vaida; MAČIULIS, Povilas. Comparison of different ecosystem analogies: The main economic determinants and levels of impact. Procedia-social and behavioral sciences, v. 156, p. 365-370, 2014.

 

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Guilherme Paraol

Doutorando no PPEGC (UFSC) e membro do grupo de pesquisa VIA - Estação Conhecimento. Realiza pesquisa com foco em ecossistemas de inovação. Atua nos projetos de mapeamento, ativação e orquestração de ecossistemas de inovação.